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Dom Moacyr

Rede de Comunidades: atual elo de ligação!



                              
     A 52ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil que começou no dia 30 de abril e termina no dia 9 de maio, em Aparecida/SP tem como tema central “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”.
 
     O projeto de documento “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia” chegou à Assembleia enriquecido pelas contribuições que vieram de muitas Paróquias, Dioceses, Regionais e também de pessoas que, individualmente ou pequenos grupos, procuraram refletir sobre o tema.
 
     Segundo Dom Damasceno, presidente da CNBB, na abertura da Assembleia, “renovar as paróquias, favorecendo para que elas tenham as feições de comunidades, é mantê-las precisamente no centro da experiência cristã”. Ser comunidade é viver a fé na forma do amor fraterno. E este é o apoio de que todos necessitamos para viver a missão de anunciar o Evangelho com alegria e entusiasmo.
 
     O documento de estudo n.104 reafirma o apelo do documento de Aparecida sobre a necessidade de renovação, revitalização e transformação das estruturas da Igreja, começando pela Paróquia. Fala do esforço a ser empreendido para superar uma pastoral de manutenção e da necessidade de uma conversão pastoral.Recomeçar a partir de Jesus Cristo implica necessariamente uma Igreja próxima da vida das pessoas, tanto no nível da individualidade quanto no nível das pequenas comunidades em rede (DAp 99e, 170ss, 309).
 
     Para oPapa Francisco a renovação das paróquias tem por objetivo torna-las ainda mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de comunhão, participação e missão (EG, 28). Pe. Joel Portella Amado, em sua análise eclesial durante a assembleia, reafirmou que o aspecto comunitário é o elo de ligação entre este atual momento e a experiência cristã. O mundo da transição, do movimento, da diversidade, pede também estabilidade.
 
     Todo ser humano precisa conviver, partilhar experiências, compreensões, linguagens, avaliações e decisões comuns. Todo ser humano necessita de pertença. O mundo individualizado e em constante mutação é também gerador de solidão, em especial nas grandes cidades. É por isso que constatamos, junto com o processo individualizador, a sede por efetivas experiências comunitárias, nas quais acolhimento, afeto e ajuda mútua podem efetivamente ser experimentados.
 
     Portanto, as redes de comunidades não podem, deste modo, permanecer apenas como proposta em nossos planejamentos pastorais. Elas precisam urgentemente se tornar realidade (DAp 365, DGAE 49-50, 152).
 
     Com o passar do tempo, nossas paróquias tradicionais, sedentariamente estabelecidas, cresceram no número de residentes, os quais, por sua vez, passaram a ter fluxos de vida num raio bem mais amplo do que os limites jurisdicionais. Em conseqüência, as paróquias tendem a possibilitar efetiva experiência comunitária a apenas alguns, em geral, os mais próximos ao sacerdote. Para o restante, o que sobra é a participação nas missas e o atendimento burocrático em vista da prestação de serviços imediatos (DGAE 156).
 
     Assim como em outro período da história da Igreja, ocorreu a criação das paróquias, como forma de presença capilarizada da Igreja lá onde as pessoas estavam, penso ser este um novo momento na história da Igreja, em que se fazem necessárias a mesma coragem e boa dose de urgência para recapilarizar continuamente. Sem este recapilarizar comunitário, corremos o risco de permanecer patinando na burocratização pastoral.
 
     É por isso que vemos crescer experiências eclesiais que, construídas ao lado ou mesmo dentro das paróquias tradicionais, manifestam-se como mais atrativas. É por isso que os bispos assumiram como destaque o tema das Comunidades Eclesiais de Base, buscando compreendê-las nesta nova etapa da história, de modo que, não perdendo sua identidade, sejam capazes de manifestar seu vigor num contexto sociocultural distinto daquele em que surgiram.
 
     De fato, esta mudança de época acena para formas diferenciadas de concretizar a experiência comunitária, cada uma com seu jeito de ser, com seus carismas e seu modo de interagir com o todo sociocultural. Num mundo plural, não há como afirmar uma única concretização.
 
     Só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma Fé será capaz de dialogar relevantemente com a mentalidade que se nos apresenta hoje. Num contexto de homogeneidade cultural e religiosa, concretizações únicas funcionam, atraem. Num contexto de mobilidade, mutação contínua e diversidade, a homogeneidade de formas afasta. Não se trata do abandono do essencial, do núcleo de nossa Fé, das metas comuns, possibilitadoras da pastoral de conjunto.
 
Trata-se de reconhecer que a diversidade de concretizações é, ao mesmo tempo, relevante para a mentalidade que se vai gerando nesta mudança de época e fiel à experiência cristã.
 
Dois aspectos são indispensáveis para todas as concretizações:
 
1º - Trata-se do efetivo reconhecimento que nenhuma concretização esgota em si a riqueza da dimensão comunitário-eclesial e que, por isso, todas são chamadas ao caminhar comum, superando as tensões da exacerbação do próprio carisma.
 
2º - O enfrentamento testemunhal e interpelativo de uma mentalidade que, exacerbando o individual, gera consumismo, isolamento e exclusão.
 
     Gostaria de reafirmar as conclusões do documento 92 da CNBB: Em meio a grandes extensões geográficas e populacionais, a comunidade eclesial de base requer que as relações sejam de fraternidade, partilha de vida, de bens e da própria experiência de fé. Ela deve provocar um encontro permanente com a Palavra de Deus e celebrar na liturgia, na alegria e na festa, a salvação que Jesus Cristo nos trouxe.
 
     A experiência da fé e da participação faz amadurecer a comunidade eclesial de base, e lhe confere características próprias de modo a levá-la a um relacionamento fraterno de igualdade com as demais comunidades pertencentes à mesma paróquia. Com isso, a matriz-paroquial ganha maior relevância pastoral na medida em que passa a exercer a função de articuladora das comunidades.
 
     Nossas paróquias podem e devem se transformar em “rede de comunidades e grupos, capazes de se articular conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos missionários de Jesus Cristo em comunhão” (DAp 172), tendo por modelo as primeiras comunidades cristãs retratadas nos Atos dos Apóstolos (At 2 e 4). Assim, a paróquia será mais viva, junto com suas comunidades, coordenadas por leigos ou leigas, por diáconos permanentes, animadas por religiosos e religiosas, e que tenham no Conselho Pastoral Paroquial, presidido pelo pároco, seu principal articulador pastoral.
 
     Em comunhão com outras células vivas da Igreja, comunidades de discípulos e discípulas geradas pelo encontro com Jesus Cristo, Palavra feito carne (cf. Jo 1,14), como são os movimentos, as novas comunidades, as pequenas comunidades, que integram a rede de comunidades que a paróquia é chamada a ser, reafirmamos aqui o que está escrito no Documento 25 da CNBB: “As CEBs são para a vida da Igreja no Brasil, pela união existente entre os nossos irmãos e seus pastores, e pela esperança de que este novo modo de ser Igreja vá se tornando sempre mais fermento de renovação em nossa sociedade”. (94)
 
     O documento de estudo n.104 trata ainda de desafios atuais, como o da migração religiosa e o da vida urbana. A conversão pastoral exige a capacidade de inovar, por isso, novos métodos de evangelização devem ser assumidos, sem se descuidar da transmissão da fé, a partir do processo contínuo de iniciação cristã e formação catequética e doutrinal em todos os âmbitos e para todas as idades. Um novo olhar para a pastoral familiar, ajudando os casais a encontrar respostas a novas situações familiares, como a dos casais em segunda união estável. Do novo ardor cristão nas famílias decorre um novo ardor vocacional e missionário.
 
     Na Assembleia da CNBB, além deste assunto e outros temas prioritários, os bispos refletem sobre os cristãos leigos na Igreja e na sociedade, a questão agrária e um documento sobre a realidade nacional, referente à situação atual, no momento em que se aproximam as eleições. Segundo o arcebispo de Feira de Santana (BA) e presidente da Comissão para o texto da Questão Agrária, dom Itamar Vian, há 34 anos que a igreja não publica um documento sobre a questão da terra.

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