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Dom Moacyr

QUARESMA E A CORAGEM DE MUDAR


 O itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é ”fazer-nos conformes com a morte de Cristo” (Fl 3,10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo (Mensagem do Papa).

O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
É necessário fazer da Quaresma um momento propício para a avaliação de nossas opções de vida, corrigir os erros e aprofundar a dimensão ética da fé, abrindo-nos aos outros e realizando ações concretas de solidariedade.

A Quaresma é tempo de oração, jejum e esmola. “O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente” (P. Crisólogo, séc. IV).

O primeiro domingo do tempo quaresmal evidencia a nossa condição de seres humanos nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (OICA,25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta “contra os dominadores deste mundo tenebroso” (Hb 6,12), no qual o diabo é ativo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal(Bento XVI).

A Campanha da Fraternidade que iniciamos com a abertura da Quaresma, nos convida à conversão ecológica para que aprendamos “a correta relação do ser humano com a natureza” (J.Paulo II).

O Texto Base da Campanha alerta que a população mundial ultrapassa os 6,5 bilhões de pessoas, o que representa grande pressão por alimentos. Felizmente, a humanidade se encontra em condições de suprir toda esta demanda. No entanto, segundo dados mais recentes de organismos da ONU, cerca de um bilhão de pessoas ainda sofrem com a fome. Trata-se de uma grave contradição, uma vez que esta situação de fome acontece num tempo de farta produção de gêneros alimentícios. Mas esta injustiça também gera pressões sobre a integridade do meio ambiente, da fauna e flora, únicos recursos para as pessoas nestas condições. A Cúpula do Milênio, realizada em N.York, em 2000, traçou como meta a erradicação da fome e da miséria, mas o fato persiste e tende a se agravar com o aquecimento global e as mudanças climáticas (TBCF).

Diante de tantos sinais e da urgência de implantação de mudanças profundas, a Igreja não pode ficar indiferente nem perder tempo. Trata-se, portanto, de ouvir os gritos da Terra. Mesmo em situação limite, como a atual, são sinais de “dor de parto”, como reflete o apóstolo São Paulo. E ela está à espera da “gloriosa manifestação dos filhos e filhas de Deus” para ser libertada (Rm 8). Sua libertação tem tudo a ver com a história autolibertadora dos próprios seres humanos, assumida, amada e impulsionada por Deus. É dela que são feitos, e ela é seu lugar e seu ambiente de vida (Gn 1-2). Ela foi entregue aos cuidados dos seres “feitos à imagem e semelhança de Deus”. Seu destino está, portanto, diretamente ligado ao modo de ser, de pensar, de sentir e de agir das pessoas humanas.

A solução para que ao menos seja contido o aquecimento global dentro de patamares suportáveis, não é tão simples. É de caráter global, passa por um grande acordo entre as nações, por sacrifícios, especialmente das nações mais ricas e maiores emissoras, por melhores condições de vida de nações inteiras que ainda se encontram em condições de miséria e fome, pela diminuição do apetite de crescimento das empresas, das nações, por inovações em várias áreas que permitam uma pegada ecológica menor. O que certamente resultará na diminuição das emissões de gases de efeito estufa.

Entretanto, mesmo diante disso, é alentador saber que podemos sim, fazer algo e dar o nosso contributo, ele não só é válido, mas necessário. E quanto mais nos organizarmos para ações que visem diminuir as emissões, melhor será o resultado das iniciativas. A consciência de que cada um de nós é parte do problema deve se reverter na convicção de que cada um pode pessoalmente contribuir para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa.

A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB propõe no Livro “Mudanças Climáticas, profecia da terra”, que comecemos pelas mudanças em nosso cotidiano com três Rs: Reduzir: usar menos (água, luz, carro), gastar menos, tendo como meta desperdício zero. Reutilizar: usar até terminar, seja o que for; utilizar tudo de maneira diferente. Reciclar: quando algum objeto não puder ser usado mais, façamos a reciclagem.

O Texto Base da Campanha da Fraternidade sugere que façamos algo por melhorias em nossa cidade visando a qualidade de vida, saúde e o cuidado com o meio ambiente, como saneamento básico: no Brasil, quatro em cada dez moradias têm acesso à rede geral de esgoto, gerando condição de vida degradante à população provocando doenças e mortes, sobretudo infantis. Incentivar a criação de ciclovias, o uso de bicicletas; reorganizar os bairros para que a população se desloque melhor para o local de trabalho, oferecer áreas de lazer para a população. Favorecer as relações diretas entre pequenos produtores e os bairros mais próximos, gerando feiras em que a comercialização dos produtos seja feita diretamente, sem intermediários. Criar e fortalecer os Conselhos Municipais para o Meio Ambiente; fazer levantamento das necessidades ecológicas e contribuir na criação do plano diretor, com participação da população.

Dentre as mudanças em nível individual, somos convidados por Campanhas globais e ecumênicas a exercitar o consumo ecológico, diminuindo o consumo pessoal, mediante vinte maneiras viáveis: 1) Use bolsas e sacolas de algodão para as compras e dispense as sacolas plásticas. 2) Consuma produtos locais: o transporte que vêm de longe consome petróleo e aumenta o efeito estufa. 3) Diminua a temperatura da geladeiras e ar condicionados: assim, você vive melhor e polui menos. 4) Desligue o computador e a televisão quando não são utilizados. O modo stand-by consome energia e polui. 5) Pegue sol com painéis solares, para aquecer água ou produzir energia elétrica. 6) Troque (se puder) de carro; prefira os movidos a gás ou etanol; e use-os o menos possível. 7) Fique com os pés no chão: os aviões provocam 10% do efeito estufa mundial. 8) Coma frutas e verduras (se orgânicas, melhor): carne de ovinos e bovinos são responsáveis por 18% das emissões mundiais de gás carbônico, além de favorecer o desmatamento devido à exploração intensiva. 9) Use fraldas ecocompatíveis: a biodegradação das fraldas tradicionais leva 500 anos. 10) Para conservar alimentos use vidro; alumínio e plástico poluem e desperdiçam energia na sua produção. 11) Informe-se através de sítios, revistas e canais de TV que falam sobre meio ambiente e sustentabilidade. 12) Não use papel: utilize a tecnologia digital para enviar e receber documentos e para se informar; você salva árvores e não polue com o transporte. 13) Escove os dentes com inteligência: a torneira aberta joga fora 30l de água. 14) Use lâmpadas econômicas: consomem cinco vezes menos e duram dez vezes mais. 15) Coma de forma sadia prefira o orgânico: é um método que respeita o meio ambiente. 16. Coma com consciência: o hambúrguer é bom, mas, para ser produzido requer muita energia. 17) Um banho é bom se dura pouco;em 3m você consome 40l d’água; em 10m mais de 130 litros. 18) Pense sempre que todo objeto que você usa irá se tornar lixo: faça com que ele dure o máximo possível. 19) Use pilhas recarregáveis: podem ser recarregadas até 500 vezes. 20) Faça a coleta seletiva: é a contribuiçãointeligente e importante que você pode dar ao meio ambiente.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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