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Dom Moacyr

Peixe pequeno os grandes comem




Este provérbio popular além de ilustrar o momento político atual, e ser titulo de um antigo livro das edições Paulinas, lembra-nos ainda a historia bíblica de Jonas, que após desobedecer a Deus, é engolido por um peixe bem grande (Jn 2), permanecendo no ventre do peixe três dias e três noites. Não podendo fugir, é forçado a encontrar a verdade consigo mesmo e com Deus.

Será esse fato relevante para a fé cristã hoje? Estamos no mês da Bíblia e as comunidades eclesiais estão estudando o livro de Jonas, com destaque para a evangelização e a missão na cidade. O tema é “Jonas: conversão e missão” e o lema “Levanta-te e vai à grande cidade”(Jn 1,2).

Deus se revela aos pequenos e as CEBs são consideradas a melhor forma de participação dos pobres e uma força de transformação do mundo em que estão vivendo. Segundo Comblin, não se inventou outra maneira de tornar a Igreja presente no mundo popular. A fé que as pessoas têm em Deus, no caso dos cristãos, em Jesus Cristo, leva a uma atuação no mundo em busca do bem comum, de uma política com seriedade e honestidade.

Essa fé une todos aqueles que crêem e tem a perspectiva de construir um mundo melhor. Essas pessoas nunca perderam o contato com aquilo que de mais vivo está acontecendo (J.C.Patias).

Setembro é o mês da Bíblia e nossas CEBs, grupos de reflexão, catequese, jovens e famílias estão refletindo a Cartilha arquidiocesana “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus”, pois esta Palavra é fonte e sustento do discipulado e da missão. Na Cartilha encontramos ainda as reflexões sobre Jonas e as eleições de 2010.

O Livro de Jonas fala de um profeta que não aceita que Deus seja para todos e, naquele contexto, Deus intervém, mostrando que Ele está acima dos nossos esquemas e que sua misericórdia é infinita e sem limites meramente humanos. Sua posição é mostrar que Ele não está só no templo e é para todos sem privilégio algum e distinção de lugares e pessoas. Trata-se de um gênero literário muito conhecido entre os mestres judeus e, nesse caso específico, podemos classificá-lo como um midraxe, ou seja, uma narrativa que interpreta um texto bíblico à luz de um contexto histórico posterior (Aila L.P.Andrade).

Os judeus da época consideravam-se povo eleito e não aceitavam que Deus fosse também para os estrangeiros; já o livro de Jonas reforça a idéia de universalidade e gratuidade do amor de Deus, que reconhece o valor de todos. De acordo com Maria Antônia, do Centro Bíblico Verbo, a reflexão deste livro permite que respondamos ao que Deus quer de cada um de nós em relação à necessidade de mudança de uma postura egoísta, saindo da estagnação pessoal para um agir libertador e transformador a favor dos pobres e excluídos, os preferidos de Deus. “Tenho a impressão de que esta história nos convida a sairmos do nosso egoísmo e fechamento, buscarmos a superação dos preconceitos e irmos ao encontro dos outros, porque a proposta da conversão é coletiva. Deus se arrepende do mal que ia fazer porque o povo da cidade de Nínive deixou o mau caminho. Se não sou uma pessoa que prejudica os outros estarei neste caminho. Deus insiste com Jonas e diz: ‘Levanta-te e vai’. Isto quer dizer que Ele quer que saiamos da inércia.

Através do livro de Jonas Deus faz o mesmo apelo aos cristãos de hoje: “Levanta-te e vai à grande cidade” (Jn 1,2) para denunciar as injustiças e proclamar a sua misericórdia. E no final do livro, Jonas é forçado a receber uma lição: a misericórdia de Deus está sobre todos os povos e sobre toda criatura. Se a maioria das pessoas não sabe disso é porque falta quem lhes anuncie essa boa-notícia.

Neste mês da Bíblia, somos convidados a vivenciar o caráter missionário de todo cristão como consequência do Batismo. O documento de Aparecida destaca o valor do mandato missionário, enfatizando os novos areópagos da missão (DAp 491-500) e trata da formação dos discípulos missionários, alertando-nos para as muitas formas de nos aproximarmos da Sagrada Escritura, destacando a Leitura Orante como meio privilegiado. Sua prática conduz ao encontro com Jesus-Mestre (DAp 249).

A Assembléia Geral da CNBB deste ano aprofundou o tema “Discípulos e servidores da Palavra de Deus e a missão da Igreja no mundo”, em sintonia com o ultimo sínodo dos bispos e aprovou uma Mobilização Bíblica Nacional no espírito do projeto Missão Continental.  A Arquidiocese de Porto Velho já está se preparando para esta Campanha em nível regional e local.

Ao tratar da animação bíblica, o subsidio denominado Instrumento de Trabalho, elaborado pela Comissão da CNBB para a assembléia dos bispos fornece algumas pistas pastorais: “Os discípulos de Jesus desejam alimentar-se com o Pão da Palavra: querem chegar à interpretação adequada dos textos bíblicos, empregá-los como mediação de diálogo com Jesus Cristo, e a que sejam alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus a todos. Por isso, a importância de uma ‘pastoral bíblica’, entendida como animação bíblica da pastoral, que seja escola de interpretação ou conhecimento da Palavra, de comunhão com Jesus ou oração com a Palavra, e de evangelização inculturada ou de proclamação da Palavra. Isso exige, da parte dos bispos, presbíteros, diáconos e ministros leigos da Palavra, uma aproximação à Sagrada Escritura que não seja só intelectual e instrumental, mas com coração ‘faminto de ouvir a Palavra do Senhor’ (Am 8,11)” (DAp 248).

A partir dessas palavras e iluminados pelo episódio do “diácono Filipe encontrando-se com o eunuco etíope” (At 8,26-40); o episódio dos “discípulos de Emaús” (Lc 24,13-35); de “Lídia de Filipos” (At, 16,11-15); de “Maria de Betânia” (Lc 10,38-42) se deduzem três funções básicas da Animação Bíblica da Pastoral:

1. Ser Escola de Conhecimento e Interpretação da Palavra: assimilar a compreensão dos sentidos genuínos dos textos bíblicos e interpretar não apenas com mero conhecimento intelectual e instrumental, mas que proporciona um conhecimento do sentido pleno da Palavra.

2. Ser Escola de Comunhão e Oração: ajudar a perceber e vivenciar a revelação do mistério de Deus e do homem (Palavra de Deus), presente na Sagrada Escritura, mediante a comunhão e o diálogo permanente com o próprio Jesus Cristo, a revelação divina em plenitude.

3. Ser Escola de Evangelização e Proclamação: o terceiro passo é a consequência da evangelização. Como a Sagrada Escritura está confiada à Igreja para que a proclame como Palavra de Deus plena de salvação, ela é, por um lado, lugar teológico e pastoral de discernimento e, por outro, fonte e conteúdo da evangelização. Esta terceira função da Animação Bíblica da Pastoral ajuda a viver e proclamar a Palavra de Deus, concretizando-a em motivações, vivências e condutas que correspondam à proposta e à prática de Jesus. Por isso tudo, a Animação Bíblica da Pastoral torna-se e é Escola de Evangelização e de Proclamação da Palavra, isto é, de animação contínua de toda a ação evangelizadora, de inspiração profunda para a missão, de impulso intrépido para a transformação da sociedade.

Concluindo, a “Animação Bíblica da Pastoral” com estas três funções de ser Escola de Conhecimento e Interpretação da Palavra, Escola de Comunhão e Oração da Palavra e Escola de Evangelização e Proclamação da Palavra, satisfaz a permanente necessidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo de nutrir-se com o Pão da Palavra de Deus mediante “a interpretação adequada dos textos bíblicos”, de seu emprego “como mediação de diálogo com Jesus Cristo”; como “alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus Cristo a todos” (DAp 248; DV 12).

Fonte:  Pascom


 

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Fonte: Dom Moacyr  Grechi - [email protected] 
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