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Dom Moacyr

Juventude constrói projeto popular!


     Estamos celebrando o 19º Grito dos excluídos com o lema: “Juventude que ousa lutar constrói um projeto popular”. O Grito é parte do processo da 5ª Semana Social Brasileira que traz a reflexão sobre o Estado: “Estado para que e para quem”?

     Neste ano a Juventude está no centro dessa manifestação que acontece no dia 07 de setembro. O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo, é um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. Juventude constrói projeto popular!  - Gente de Opinião

     Constitui-se numa mobilização com três sentidos: Denunciar o modelo político e econômico que, ao mesmo tempo, concentra riqueza e renda e condena milhões de pessoas à exclusão social; Tornar público, nas ruas e praças, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do desemprego, da miséria e da fome; Propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de inclusão social, com a participação ampla de todos os cidadãos.

     É realizado em um conjunto de manifestações realizadas no Dia da Pátria, tentando chamar à atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira.      Não é um movimento nem uma campanha, mas um espaço de participação livre e popular, em que os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os defendem, trazem à luz o protesto oculto nos esconderijos da sociedade e, ao mesmo tempo, o anseio por mudanças. As atividades são as mais variadas: atos públicos, romarias, celebrações especiais, seminários e cursos de reflexão, blocos na rua, caminhadas, teatro, música, dança, feiras de economia solidária, acampamentos e se estendem por todo o território nacional.

     A Igreja, através da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB enviou uma Mensagem de apoio ao Grito dos Excluídos 2013, convidando os jovens e a sociedade brasileira para participarem deste momento especial no dia 07 de setembro, nas várias regiões do país onde o evento acontece. Nas comunidades o 19º Grito dos excluídos acontece mediante as lutas por um projeto popular fundamentado na garantia e proteção à saúde, segurança, transporte, emprego, salário e educação!

     Com mais este Grito, queremos contribuir na superação da contradição fundamental existente na sociedade brasileira, que continua sendo obrigada a conviver com a aberrante contradição de ser a 6ª potência econômica mundial e a 184ª em desigualdade social. Queremos também contribuir, com a força da fé, para que os raios de luz que irradiam das juventudes sejam alimentados e jamais se apaguem. E que o Estado brasileiro se coloque a serviço da sociedade e não do poder econômico.

     Apoiamos a juventude brasileira que emerge como novos sujeitos sociais e exige novas estruturas de participação democrática, reforçando a democracia participativa e direta como forma legitima de governo da sociedade brasileira.

     Acreditamos que as manifestações populares poderão encontrar no 19º Grito uma rica oportunidade de expressão dos legítimos anseios da juventude brasileira que exige um novo Estado, uma nova política e uma nova nação (CNBB).

     A Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos lembra que o Grito não se limita às ações do dia 07. As atividades acontecem antes, durante e depois do evento. E faz memória dos diversos gritos que tem ressoado por todo o país.

Recentemente centenas de milhares de pessoas soltaram no ar reivindicações e protestos há muito sufocados e reprimidos. Os jovens, em especial, vestiram-se de verde e amarelo, pintaram a cara, saíram de casa para desmascarar a precariedade dos serviços públicos (educação, saúde, transporte, segurança, entre outros). O aumento de 20% na tarifa de ônibus representou apenas a ponta de um iceberg, cujo corpo oculto se traduz por uma indignação que vinha amadurecendo. Os gastos com a Copa das Confederações, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos chegam a ser uma afronta diante da falta de políticas públicas adequadas e duradouras, além da insistência em políticas compensatórias acompanhadas de uma retórica demagógica.

     Ao fazer memória da década de 1970, a Coordenação do Grito recorda que, em pleno regime militar, desencadeou-se uma onda de manifestações estudantis; compareceu o movimento contra o custo de vida, com as panelas vazias; surgiu a organização do sindicalismo combativo e dos trabalhadores sem terra. Na década seguinte, a formação da CUT e PT, a grande campanha pelas “Diretas já” que, de uma forma ou de outra, culminaria na eleição e impeachment do primeiro presidente eleito. A partir dos anos 90, começou o longo processo das Semanas Sociais Brasileiras, seguidas do Seminário da Dívida Externa, Campanha Jubileu Sul, Plebiscitos, Auditoria Popular da Dívida, Consulta Popular e Assembleias Populares. Direta ou indiretamente, milhões de cidadãos foram envolvidos.

Juventude constrói projeto popular!  - Gente de Opinião

     É neste cenário de ebulição sociopolítica que nasce e se fortalece o Grito dos Excluídos, em 1995, defendendo a vida em primeiro lugar, dando sequência aos debates da 2ª SSB e da Campanha da Fraternidade, cujo tema “Eras tu, Senhor”, refletiu sobre a realidade da exclusão social. Daí para cá, o Grito nacional sempre se caracterizou pelo desafio de envolver os jovens em suas atividades e mobilizações. Nesta rápida retrospectiva, não podemos deixar de fora os anos de perplexidade, apatia e certo desencanto na condução do projeto político nacional, mais parecido com um projeto de poder.

     Neste ano, em sua 19ª edição, o Grito, ao propor o tema “Juventude que ousa lutar constrói o projeto popular”, traz presente dois contextos: de um lado, as recentes manifestações que se estenderam por várias cidades do

Brasil e que contradizem a versão tão difundida de que os jovens de hoje constituem uma geração alienada que “não quer nada com nada”. Pelo contrário, eles são capazes de descer das arquibancadas, entrarem em campo e participar do jogo. E mais, mostram a importância atual das redes sociais, que podem tornar-se relevantes na mobilização e organização popular. Por outro lado, o Grito deste ano insere-se nos debates da 5ª Semana Social Brasileira, retomando o fio condutor do processo de discussão das SSBs anteriores, especialmente em relação ao Brasil que queremos. Está ainda em sintonia com a CF 2013, cujo tema é a juventude, com a expressiva participação dos jovens. É no bojo desse processo que se engendra o chamado Projeto Popular para o Brasil. Projeto que, como sabemos, não nasce em laboratório, nem pela ação de alguns iluminados. Em verdade, ele já está em curso, nas milhares de iniciativas de combate por uma sociedade justa, solidária, social e ecologicamente sustentável.

     Muitos perguntam: por que 7 de setembro? Desde 1995 foi escolhido o dia 7 de setembro para as manifestações do Grito dos Excluídos. Segundo a Coordenação do Grito, a ideia era aproveitar o Dia da Pátria para mostrar que não basta uma independência politicamente formal. A verdadeira independência passa pela soberania da nação. Um país soberano costura laços internacionais e implementa políticas públicas de forma autônoma e livre, não sob o constrangimento da dívida externa, por exemplo. Relações economicamente solidárias e justiça social são dois requisitos indispensáveis para uma verdadeira independência.

Nada melhor que o dia 7 de setembro para refletir sobre a soberania nacional. É esse o eixo central das mobilizações em torno do Grito. A proposta é trazer o povo das arquibancadas para a rua. Ao invés de um patriotismo passivo, que se limita a assistir o desfile de armas, soldados e escolares, o Grito propõe um patriotismo ativo, disposto a pôr a nu os problemas do país e debater seriamente seu destino. É um momento oportuno para o exercício da verdadeira cidadania.

     Dentre as principais lições do Grito dos Excluídos destacamos sua abertura a todos aqueles que se propõem defender a causa das populações deixadas à margem da história e da vida. Embora nascido no contexto da Igreja, é uma iniciativa levada adiante por várias forças da sociedade civil organizada. A organização e os debates privilegiam o diálogo plural, ecumênico e democrático. O Grito abriu caminho para uma série de parcerias em que diferentes atores sociais trabalham em conjunto, o que ajuda a superar o isolamento, o corporativismo e a fragmentação de esforços.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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