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Dom Moacyr Grechi: Fé e política na Bíblia



Neste mês da Bíblia somos convidados a refletir uma fábula popular, reproduzida no Livro de Juízes, capítulo 9, que apresenta a mais severa crítica ao poder político: somente aquele que nada produz é que se presta para exercer o poder, e a segurança que ele oferece não passa de armadilha contra a liberdade do povo. Os versículos seguintes (16-20) aplicam essa fábula à situação, mostrando que o povo deverá arcar com as conseqüências de suas próprias decisões.

“Joatão gritou: Ouçam-me, senhores, para que Deus também escute vocês: Certo dia, as árvores se puseram a caminho para ungir um rei que reinasse sobre elas. Disseram à oliveira: ‘Reine sobre nós’.. A figueira respondeu: ‘Vocês acham que vou deixar o meu fruto saboroso, para ficar balançando sobre as árvores?’. Então as árvores disseram à videira: ‘Venha você e reine sobre nós’. A videira respondeu: ‘Vocês acham que vou deixar meu vinho novo, que alegra deuses e homens para ficar balançando sobre as árvores?’. Então todas as árvores disseram ao espinheiro: “Venha você e reine sobre nós’. Então o espinheiro respondeu às árvores: ‘Se vocês querem mesmo me ungir para reinar sobre vocês, venham e se abriguem debaixo da minha sombra. Senão, sairá fogo do espinheiro e devorará os cedros do Líbano’.(Jz 9,7-15)

O projeto Ficha Limpa, apesar das divergências no Supremo Tribunal Federal, já evidencia uma mudança de postura da sociedade, que está se tornando menos tolerante com a corrupção. “A cultura de tolerância com a corrupção está começando a mudar” (M. Reis). A parábola do espinheiro é atual quando refletimos na quantidade de lixo e espinheiros a serem removidos da vida política para que possamos avançar cada vez mais para formas de democracia direta e participativa.

Dois eventos importantes marcam este mês da Bíblia e a próxima semana. O primeiro é á presença do teólogo Isidoro Mazzarolo, mestre em exegese bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; doutor em teologia bíblica pela PUC-Rio; PhD em exegese bíblica pela École Biblique et Archéologique de Jerusalém. Autor de diversos livros bíblicos e teológicos, atualmente é professor na PUC-Rio e outras faculdades e institutos teológicos. Ele vai proferir uma série de palestras com o tema “Fé e Política na Bíblia e na Patrística” na Escola Fé e Política da Arquidiocese de Porto Velho (24-26/09).

O segundo evento é o debate com os candidatos à presidência da República que a Igreja quer proporcionar aos cristãos e à sociedade já estando confirmada a presença de todos os candidatos cujos partidos têm representação na Câmara dos Deputados. O debate, que será transmitido pelas TVs e rádios de inspiração católica, sites da UCB e das entidades promotoras, vai acontecer na Universidade Católica de Brasília, dia 23 de setembro, das 21h30 às 23h30.

Promovido pela Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), Universidade Católica de Brasília (UCB), Associação Nacional de Educação Católica (ANEC) e Associação Brasileira de Universidades Comunitárias (ABRUC), o debate conta com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

De acordo com o secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Daniel Seidel, o debate irá priorizar o tempo de exposição dos candidatos com uma pauta voltada para os problemas sociais que afetam diretamente a população brasileira. Refletir sobre a situação do país e quais as proposições que apresentam para enfrentar esses grandes problemas, desde a questão do desenvolvimento urbano à moradia, reforma agrária, família, desenvolvimento humano e temas ligados à defesa da vida.

Os candidatos terão qualidade do tempo e de espaço para responder as questões, para que haja profundidade e compromisso com aquilo que eles têm condições para enfrentar os grandes problemas nacionais. A pauta terá como foco os mais empobrecidos da sociedade, ou seja, irá olhar para a sociedade que nós queremos com o voto, privilegiando aquilo que vai ser a construção de um Brasil novo.

A Igreja não pode e nem deve omitir-se no campo político. Ela não pode colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode e nem deve ficar de fora na luta pela justiça e pela ética. Seria renegar sua fé em Jesus Cristo.

É nosso dever incentivar os católicos leigos a se engajarem com responsabilidade na ação política, dando a eles orientações para que exerçam o seu voto com consciência e com ética. A partir destes ensinamentos é que a sociedade deve compreender o engajamento dos líderes da Igreja Católica no combate à corrupção.

A corrupção eleitoral ainda é um problema enraizado na mentalidade de nosso povo. Os eleitores carecem de educação para a cidadania. É preciso instalar uma nova consciência política iluminada pelo lema que mobilizou os movimentos sociais nos últimos anos: “voto não tem preço, têm conseqüências.”.

Estamos diante de um grande apelo ao depositar na urna o compromisso com Rondônia e com o Brasil: eleger candidatos idôneos, capazes de orientar nosso Estado e nosso Brasil para novos caminhos, em resposta às necessidades do povo.

Seja, portanto, um eleitor consciente do valor de seu voto. Que vote pela comunidade e não por interesse ou privilégios individuais ou familiares. UM ELEITOR QUE NÃO VENDA O SEU VOTO. Quem vende seu voto por favores, vende sua dignidade humana. O cristão não deve votar em candidato que quer comprar seu voto. Consciência não se vende.

Queremos ser um eleitor que tenha consciência de seu poder de interferência e decisão na vida da comunidade, que saiba valorizar o seu voto, analisando, refletindo sobre o passado e o presente do candidato tendo em vista um futuro melhor. Não basta votar. Não basta mesmo escolhermos uma pessoa de “ficha limpa” por mais fundamental e importante que ela seja.

Nossa missão vai além: levar a pessoa “ficha limpa” a ser eficaz e a se manter ética durante o mandato a serviço do bem comum.

A Igreja católica não apresenta candidatos próprios. Qualquer sinal nesta linha deve ser interpelado, em nome dos documentos oficiais de nossos pastores. Indicamos, com força profética, a importância do voto e os critérios que devem valer no nosso compromisso como cristão.

Que Deus inspire e proteja o povo brasileiro, especialmente os de nossa Arquidiocese, no próximo dia 03 de outubro! Estamos conscientes de que o voto-cidadão, com participação popular, é uma das melhores formas de promover políticas públicas a serviço do bem comum.

Somos convocados a uma ação política iluminada pela convicção de que o voto é de responsabilidade pessoal de cada eleitor, diante de sua consciência, da sociedade e de Deus.

Que todos, no livre exercício do dever democrático, possam experimentar a proteção materna de Nossa Senhora! Façamos preces pela nossa Pátria e pelo nosso compromisso com o Estado de Rondônia a promover a prosperidade e dignidade de nosso povo.

 

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Fonte: Dom Moacyr  Grechi - [email protected] 
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