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ACRM

ROBERTO CARLOS X ERNESTO MELO


Por William Haverly Martins

Roberto Carlos sempre Roberto Carlos! Neste início de setembro, mês da primavera, das flores e do olfato, ele nos brindou pela audição com um show repleto de letras e músicas que nos remeteram ao passado, nos gratificou o presente, ao tempo em que garantiu um futuro aromatizado por sons inesquecíveis, mas a visão, a nossa visão, se comportou, com o presente do rei, como a rainha dos sentidos: cenário digno da divindade - além do belíssimo jogo de luzes e cores, os prédios envolvendo locais sagrados da antiga Jerusalém, o muro das lamentações, o silêncio do deserto - era como se RC estivesse nos representando na Terra Santa, passeando de mãos dadas com as nossas raízes cristãs, encerrando o magnífico espetáculo, cantando para os ouvidos sagrados: Jesus Cristo, eu estou aqui. Até ateus convictos, como este escriba, se sensibilizaram.

Entretanto, imaginem se o show do Roberto Carlos fosse realizado na parte moderna de Jerusalém, entre prédios suntuosos cobertos de vidros espelhados, cercados dos recursos dos arquitetos contemporâneos, com certeza não teria o mesmo impacto visual, nem representaria nossa cultura cristã, seria apenas mais um show global de RC, iguais aos apresentados, ao longo das últimas décadas, pela emissora líder de audiência.

RC foi fundo nas raízes formadoras da nossa identidade cristã, mostrando prédios históricos, locais famosos, músicas religiosas. Cantou, inclusive, em hebraico. Este preâmbulo longo serve para realçar a importância da valorização das nossas raízes, da restauração dos nossos prédios históricos, da conservação dos que foram restaurados e, principalmente, da revitalização de todos os nossos ambientes históricos.

Costumo dizer que a Identidade Histórica Cultural de uma comunidade é como uma árvore frutífera e frondosa: está sempre crescendo, ganhando novos galhos, renovando os frutos a cada temporada, isto porque a identidade não é estática, é dinâmica: as migrações e o efeito da internet na formação cultural de nossa gente interferiram e interferem na formação dos galhos novos de nossa árvore simbólica, que para se sustentar precisa de raízes fortes, representadas pelo patrimônio histórico material. Algo como um retrato de um tempo que já se foi.

A luta da Associação Cultural Rio Madeira pela restauração do prédio da primeira Prefeitura e da primeira Câmara Municipal é a luta pelas raízes históricas de nosso povo, precisamos salvar Porto Velho dos políticos pára-quedistas e desprovidos de amor a esta região, ressaltando que a identidade se constitui pela diferença, sendo esta, pois, a condição de existência daquela. Nunca perderemos a nossa identidade se cuidarmos da nossa memória que é única: não existe outra EFMM, nem um centro histórico igual ao nosso.

Convocamos o time dos incomodados para que nos ajudem, na ACRM (Associação Cultural Rio Madeira), a lutar contra os acomodados, saiam da platéia e venham fazer parte do espetáculo nesta fascinante metáfora do teatro. A luta do momento é pela restauração do prédio da Ladeira da Prefeitura, ou Ladeira comendador Centeno, também estamos tentando realizar, em parceria com a SECEL, ainda este ano, a Cantata de Natal no Palácio do Governo, na Praça Getúlio Vargas.

Precisamos manter acesa a chama do amor a esta cidade, a este estado, pois, diferente de nossos irmãos acreanos, não temos a felicidade de termos em nossos quadros administrativos, políticos seriamente comprometidos com os valores históricos culturais de nossa gente, muito menos filhos da terra. Os poucos em cargos de mando estão cegos de arrogância, mais preocupados com cerimoniais de beija-mão do que com a memória da cidade. Necessitamos do envolvimento de todos os apaixonados por Porto Velho, chega de comodismo. Se a democracia representativa está corroída pela corrupção e pelo egocentrismo, por que não investirmos na democracia associativa?

Ernesto Melo e A Fina Flor do Samba realizam todas as sextas feiras, na frente do Mercado Cultural, um show, onde cantam nossas raízes, enunciando a origem de cada prédio histórico, ou lembrando o vazio de muitos outros. Proporções à parte, trabalho diverso do de Roberto Carlos, pelo caráter religioso, porém parecido no aspecto preservação de prédios históricos, basta lembrar que o centro histórico de Jerusalém foi reconstruído inúmeras vezes. Guardadas as quilométricas distâncias, mas evidenciando o quesito emoção no contexto música/centro histórico, quem não se emociona quando o poeta da cidade canta “Porto Velho meu dengo”, ou inicia o espetáculo com uma adaptação do hino Céus de Rondônia? “Somos destemidos pioneiros que nestas paragens do poente gritam com força somos brasileiros”.

William Haverly Martins/ACLER/31
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Detalhes biográficos: Estudou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras na UNIR, é professor, escritor, membro da Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da Academia de Letras de Rondônia – Acler.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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