Sábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

ACRM

REUNI – UNIVERSIDADE ABRE A PORTEIRA


 
Por William Haverly Martins

Que o Brasil precisa ampliar o acesso à Universidade Federal ninguém questiona, mas que se utilize de um programa caolho – REUNI – que prioriza a quantidade em detrimento da qualidade, uma expansão quantitativa e não qualificativa, não aceitamos porque acreditamos que a universidade não pode deixar de ser um referencial de qualidade. É bem a cara deste país, sempre às voltas com o complexo de vira lata em relação às nações desenvolvidas do universo, a tentativa de aparecer diante dos índices internacionais da quantidade de cidadãos com acesso garantido á universidade, mas quando se promove um teste para detectar a qualidade do ensino brasileiro, em comparação com universidades de países desenvolvidos, é uma tristeza, uma vergonha.

Para quem não sabe o REUNI é mais uma pirâmide do MEC, além da pretensão grandiosa: aumento de vagas; redução de taxas de evasão; ocupação de vagas ociosas; reestruturação acadêmico-curricular; renovação pedagógica da educação superior; mobilidade intra e interinstitucional; suporte da pós graduação ao desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo dos cursos de graduação; aumento substancial do investimento, algo em torno de alguns bilhões de reais; é realmente um túmulo do ensino de qualidade, deixando muito a desejar. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, que deveria ter como principais objetivos a ampliação do acesso a universidade e uma profunda e ampla reestruturação da educação superior, não vem colhendo bons frutos nas IFES que aderiram, em Rondônia, por exemplo, tem sido um desastre. A gênese do imbróglio é um decreto de 2007 (nº6. 096/2007) com ações plurianuais previstas para a conclusão em 2012.

O próprio MEC, ao apostar suas fichas no Reuni, reconhece que o sistema de educação superior brasileiro ainda conserva modelos de formação acadêmica e profissional superados e que, lamentavelmente, ainda continuam emperrados, apesar dos esforços federais. Na verdade prevalece no sistema nacional uma concepção fragmentada do conhecimento, resultante de reformas universitárias parciais e limitadas. As reformas estabelecidas não modificaram a estrutura curricular de formação profissional e acadêmica, colocando o país em risco de isolamento nas esferas científica, tecnológica e intelectual de um mundo cada dia mais globalizado e inter-relacionado.

Desde 2008 que os discentes e docentes, da maioria das IFES que aderiram ao programa, questionam o Reuni, demonstrando com argumentos e números o fracasso das pretensões impostas à comunidade universitária sem uma prévia e ampla discussão. Implementaram novos cursos, os chamados Bacharelados Interdisciplinares com a pretensa idéia de uma formação mais generalizada, destruindo os diplomas profissionais, uma vez que o estudante sairia da universidade como bacharel em saúde, em humanas, em exatas, o que quer dizer formado em nada, no popular, formado em porra nenhuma, dificultando a inserção deste profissional no mercado de trabalho.

Em Rondônia, a situação é mais delicada porque aqui nós temos um complicador a mais, em nome da adesão ao REUNI, sua excelência o reitor, de conchavo com um Conselho Superior sem legitimidade e com o apoio de lideranças políticas, conseguiu recursos federais para obras de construção de laboratórios e de novas salas de aula ao longo do Estado de Rondônia, pretensamente em nome do aumento de vagas na universidade. Acontece que muitas destas obras sequer foram feitas, acrescentando à inoperância prática do programa, um adjutório a mais: a CORRUPÇÃO.

Neste instante de tomada de posição da sociedade em relação aos absurdos cometidos pelo senhor Reitor da UNIR e asseclas da Fundação Riomar, em nome da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira, entidade que presidimos e, particularmente, em nome da cadeira que ocupamos na ACLER- Academia de Letras de Rondônia, já que o presidente não se pronunciou, com o fim de defender a nossa universidade, nos posicionamos favoráveis aos professores e estudantes da UNIR, no intuito de exigir a renúncia do reitor da instituição, ao tempo em que declaramos a nossa indignação pela forma de administração autoritária, centralizadora, mais comprometida com o banquete de Baco do que com os princípios iluministas de avanço e desenvolvimento do pensamento intelectual, formador de jovens para o crescimento da nossa região.

Segundo o Livro Cinza do Reuni, elaborado por vários grupos universitários do Brasil, o Reuni não é um projeto cujo objetivo visa desenvolver a universidade brasileira a serviço da nação. Sua principal idéia, baseada na “Universidade para Todos”, trouxe para a universidade uma expansão feita às pressas, ocasionando um boom de estudantes dentro de uma instituição despreparada. Seu propósito é desregular/quebrar os diplomas profissionais com a flexibilização das modalidades de graduação prevista no inciso IV do 2º parágrafo do programa: “diversificação das modalidades de graduação, preferencialmente não voltadas à profissionalização precoce e especializada”. Aumentar a “produtividade” à custa do aumento drástico do número de matrículas. Na prática, só tem verbas quem adere, desrespeitando a autonomia das universidades, forçando uma adesão ao programa.

A sociedade rondoniense precisa acordar e exigir a renúncia e conseqüente apuração das denúncias de corrupção e trapalhadas na administração da RIOMAR e da UNIR, por conta de uma política interna centrada no compadrismo e na incompetência. Chega de indignação, precisamos de atitudes concretas!

Pela revogação do decreto que criou o Reuni e uma nova discussão por uma urgente, profunda e ampla reestruturação da educação superior no Brasil;

Pela continuação da greve na UNIR até uma conclusão satisfatória.

Pela possibilidade do trabalho de outros, verdadeiramente compromissados com o desenvolvimento da classe universitária e a modificação dos índices internacionais de comparação vergonhosos;

Pela defesa da universidade pública e o direito de todo jovem de ter acesso a um diploma de verdade;

[email protected] [email protected]
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER – Academia de Letras de Rondônia
.


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

NÃO PERGUNTES POR QUEM OS SINOS DOBRAM - NECROLÓGIO DO ACADÊMICO HERCULANO MARTINS NACIF

NÃO PERGUNTES POR QUEM OS SINOS DOBRAM - NECROLÓGIO DO ACADÊMICO HERCULANO MARTINS NACIF

  Por William Haverly Martins Só os poetas são donos do privilégio inominável de ser ele mesmo e o outro ao mesmo tempo, só eles conseguem ingressar o

ASSOCIAÇÃO CULTURAL SE REÚNE COM GENERAL DA 17ª BRIGADA PARA FALAR DE PROJETOS CULTURAIS DO EXÉRCITO EM RO

ASSOCIAÇÃO CULTURAL SE REÚNE COM GENERAL DA 17ª BRIGADA PARA FALAR DE PROJETOS CULTURAIS DO EXÉRCITO EM RO

Presidente da ACRM, Francisco Lima e o general Novaes Miranda em reunião na 17ª Brigada Hoje, 26 de março, a Associação Cultural Rio Madeira, represen

MANIFESTO 'VIVA MADEIRA-MAMORÉ'

MANIFESTO 'VIVA MADEIRA-MAMORÉ'

  A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) esteve conectada à extração da borracha desde o ano de 1903, a partir do Tratado de Petrópolis entre Brasil

Integrantes da ACRM visitam obra de restauração da antiga Câmara Municipal

Integrantes da ACRM visitam obra de restauração da antiga Câmara Municipal

Ontem, dia 31 de janeiro de 2014, por volta das 09h30 da manhã, vários integrantes da Associação Cultural Rio Madeira, ciceroneados pelo presidente Wi

Gente de Opinião Sábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)