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ACRM

OS AGENTES DO DESTINO


 
Por William Haverly Martins


Na pauta dos estudantes universitários das décadas de sessenta/setenta, apareciam, com freqüência, questionamentos relacionados à existência de Deus, aos agentes do destino, ao homem como produto do meio e a alguns outros, ditados pelo existencialismo. As esquinas intelectualizadas, espalhadas Brasil afora, fervilhavam os miolos da juventude.

Sempre fui fascinado pelas Moiras, nada me empolgava mais do que uma bela discussão sobre a sucessão de fatos que direcionavam a vida, na maioria das vezes, totalmente alheios à vontade. Ainda adolescente, estudando em colégio católico, por conta da onipresença, da onisciência e da onipotência, me considerava um robô de Deus. Todos os nossos passos seriam comandados por Ele. Os padres educadores diziam que Deus nos dava liberdade de ação, mas andava com um livro, anotando nossos pecados e, conforme nosso procedimento, determinava nosso destino.

Deus seria como um escritor de ficção, comandando a história da vida de seus personagens. Guimarães Rosa gostava de carregar um caderninho pendurado no pescoço, onde anotava falares regional e destinos de personagens. Quanto mais me aprofundava, quanto mais avançava nos estudos, mais me afastava do criacionismo. Os orientais nos ensinam a esvaziar o cérebro e a ser o jardineiro de nossas plantas existenciais, nem assim nos livramos das surpresas determinantes da vida. Cada fato novo interferia no planejamento, a ponto de me deixar à deriva da esperança, embora os sonhos continuassem grandes e na mira de minha perseguição.

Não vou me perder em elucubrações filosóficas, não é este o escopo desta página, tampouco vou fazer comparações do pré-determinismo, pós-determinismo, determinismo e acaso, mas acompanho o pensamento dos filósofos que garantem: “nada ocorre por acaso”, ou seja, tudo na vida tem causas, embora, nem sempre as alcancemos, é o mistério que abastece o misticismo.

Explicar certos acontecimentos na vida da gente não é muito fácil, principalmente se o fato, vamos chamar de fenômeno, foi determinante na escolha de um novo caminho: Você traça sua vida, faz suas escolhas e segue acreditando que tudo vai acontecer conforme o programado. Aí algo sai do script e o obriga a mudar de rumo, a improvisar. Mero acaso? Quando não sabemos explicar, quando a coisa foge ao nosso controle, chamamos de acaso.

No âmago do aparente acaso há uma complexidade de difícil previsão e controle, de probabilidade distante que põe em risco nossa concepção de liberdade, entretanto, a nossa vida está cheia de ações determinantes tomadas por nós mesmos. Se não tivéssemos o poder de determinar, na maioria de nossas ações, de que nos valeria a vida e o pensamento?

O destino não é desgovernado, nem somos seres com existência e fim predeterminados. Interferimos em tudo, inclusive no nosso destino, ainda que em doses homeopáticas e nem sempre perceptíveis. Nietzsche dizia que as situações de fatalismo e confiança são cíclicas e que não é possível interpretar a vida, mas é preciso aceitá-la com simplicidade infantil.

A vida é mais intrincada do que a concebemos, mas se fizéssemos um esforço para vê-la de modo simples, diminuindo a ansiedade por felicidade, a encarando como a essência que não se explica, as Moiras não teriam tanto trabalho no fiar/desfiar o destino de cada um.

[email protected] [email protected]

Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER – Academia de Letras de Rondônia.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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