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Discurso por ocasião do lançamento do livro IMAGENS DE RONDONIA



Por William Haverly Martins

A minha função, dando início ao lançamento do livro IMAGENS DE RONDÔNIA: a Fotografia Documenta a História, é falar um pouco da autora, da professora, da historiadora enquanto mulher, filha, esposa, mãe, escritora. Pensei em fazer um discurso de improviso, o mestre Almino Afonso costuma dizer que há certa distância entre o discurso escrito e o de improviso. O discurso escrito, abrindo espaço para os recursos da erudição, pode vestir-se de uma riqueza mais nobre, mas o discurso de improviso, que se nutre da palavra oral, sem despojar-se dos valores da cultura, transfigura-se pelos encantos da arte dramática. Diante da natureza do evento resolvi mesclar as duas expressões da oratória, até mesmo para não me perder nos labirintos da oralidade emotiva, gerada na vontade de contar mais de quem merece muito.

Impossível falar de Yêdda sem me reportar ao seu pai, ao velho mestre, ao saudoso Ary Tupinambá Penna Pinheiro, médico por formação e etnólogo, biólogo e botânico por paixão. Eu conheci o Dr. Ary na sua casa da Rua D. Pedro II com a Euclides da Cunha, ali por trás das emblemáticas caixas d’água do bairro Caiari, no distante 1973, quando tive o prazer e a honra de ingressar na sua floresta particular entre apetrechos indígenas e inúmeros livros, foi ali que compreendi e só hoje posso divulgar que sua filha Yêdda foi fruto de uma de suas mais bem sucedidas pesquisas na área da botânica/biologia/antropologia, quando ainda morava na majestosa pérola do Mamoré: Yêdda, feito botão de uma roseira rara, foi forjada no cadinho da genética Greco/indígena, nasceu em Guajará Mirim, herdou do pai a seiva dos tupinambás por onde recebeu a inteligência, o gosto pela sala de aula e pelas pesquisas que mais tarde, já desabrochada, irão colocá-la na direção de importantes instituições de ensino da capital e no topo dos cronistas da história rondoniense. Da mãe, de origem grega, Cristina Struthos Pinheiro, vieram-lhe a delicadeza, o discernimento da compreensão filosófica da existência e a cor do amor formadores das pétalas singelas, as quais distribuiria, ao longo dos anos, para as pessoas mais próximas e queridas.

O marido Eduardo Constantino Borzacov, 44 anos de convivência e troca de experiências, já em outra dimensão, tenho certeza, recebeu a maioria, as mais cheirosas e mais vermelhas das pétalas. Os filhos - Cristina Helena, Lourdes Maria, Ary e Eduardo Junior e os netinhos – Amanda, Aryadne, Lilian e Eduardo outro tanto destes pedaços do coração. Entretanto, não esqueçamos de que em todas as obras publicadas por Yêdda nós - os leitores, os admiradores - recebemos um punhado destas pétalas, inseridas na dedicação e prazer com que ela se debruça sobre seus escritos. Com este já são seis livros de sua autoria e três no forno, prontos para serem lançados no decorrer deste e do próximo ano, isto para não falar dos dez lançados em coautoria.

No livro que agora chega às mãos de Vossas Senhorias, o qual eu tive a distinção de folheá-lo em primeira hora, vocês se surpreenderão com a relação texto imagem e muito mais com o ineditismo regional dos assuntos “Expedição Bandeira Aérea” e “Cavalos Selvagens do Marajó Para a EFMM”, no primeiro achado ela nos relata a aventura do jornalista Assis Chateaubriand, na companhia de um punhado de denodados militares e técnicos, em julho de 1950, sobrevoando o Real Forte do Príncipe da Beira e imediações, no segundo nos revela como os cavalos conhecidos como varzeanos, resultado do cruzamento de cavalos oriundos de Cabo Verde, Ilhas Canárias e Ilha da Madeira e introduzidos na Ilha de Marajó pelos portugueses, foram parar nos acampamentos da EFMM.

Mas, senhoras e senhores, o velho Pajé Ary Tupinambá, com ajuda da esposa, no cadinho mágico de sua criação, aumentou consideravelmente o número de pétalas da sua flor, mas não lhe secionou os espinhos, ao contrário, afiou-lhes as pontas usadas por ela na oratória em defesa do Patrimônio Histórico de Rondônia, da sua cidade natal, da sua família e dos que se opõem as verdades da sua pena construídas sob muito trabalho e dedicação. Quer sentir os espinhos da rosa? Questione seus escritos, fale mal de Guajará, de Dr. Ary, do Eduardo, de seus filhos e netos, de Aluízio Ferreira, do Teixeirão, dos cutubas, fale da EFMM, do Patrimônio Histórico de Porto Velho, da ACLER, dos amigos.

As pessoas apaixonadas pela vida são assim mesmo, Yêdda, como uma flor, ora distribuem pétalas, ora usam seus espinhos, como defesa das ervas daninhas, como defesa daqueles que nada fazem, vivem nas sombras da incompetência e usam a crítica e a hipocrisia como tentativa de destruição, mas o castelo de realizações dos bons e competentes nunca será  destruído por ingerências maldosas.

Eu tive o prazer e a honra de receber várias destas pétalas, uma delas é mais significativa: Devo ao trabalho incansável da Yêdda à frente da FUNCER Fundação Cultural do Estado de Rondônia, depois FUNCETUR e do projeto “Rondônia por seus Escritores” a publicação de meu primeiro livro.  Yêdda durante o Governo José de Abreu Bianco, pela Fundação Cultural referida, publicou mais livros do que todos os secretários de cultura dos governos anteriores e posteriores. Saudade e exemplo para nossos secretários de cultura de hoje que jamais deveriam esquecer as palavras do escritor polonês Joseph Conrad, autor de O Coração das Trevas, um dos romances preferidos pelo filósofo inglês Bertrand Russell: “o papel do escritor na sociedade é fazer você ouvir, é fazer você sentir e acima de tudo é fazer você ver. Isto é tudo. E é muito.”         

Fazendo uma breve reflexão, posso dizer do recôndito material de mim mesmo que invejo o seu alcance espiritual, dizem os espiritualistas que o importante não é como se começa a vida, mas como se termina, quem termina bem, recomeça com o privilégio antecipado de reconhecer o amor ao próximo como símbolo da eternidade. Espero com a sinceridade que me é característica que você alcance o maior grau de sabedoria espiritual possível e com ele a salvação e a vida eterna. Se ela existir você a merece.

Yêdda, estamos carentes de pessoas com a sua compreensão, inteligência e esperança. Você que é generosa, que nos brinda com o resultado das suas pesquisas e da sua veia artística. Você que foi criança, moça, namorada, mãe e amiga, continue distribuindo a beleza deste amor, continue distribuindo suas pétalas por esta e, quiçá, por outras encarnações.

 [email protected]   /   [email protected]    Acler/Acrm

 

                                                                          

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