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DE JUSTUS VERÍSSSIMUS A AZAMBUJA


DE JUSTUS VERÍSSSIMUS A AZAMBUJA - Gente de Opinião
Por William Haverly Martins

A emissora de TV número um do Brasil, ultimamente, vem tratando o tema corrupção como alquimista descobrindo a pedra filosofal, como grego alardeando o toque de Midas, ou, como os chineses da dinastia Han, deslumbrados com o barulho da descoberta da pólvora: encheu o horário nobre com a algazarra pirotécnica que foi de Justo Veríssimo ao Azambuja, como se fosse um show de fogos de artifício de fim de ano, uma bomba de meio quilo, foi no máximo “uma bufa de velho”, um traque de comemoração de um jogo que está longe de acabar.

Ora bolas! Todo mundo sabe há quantos séculos remonta a tal “comissa por fora”. Para ser mais preciso com o estudo dos pesquisadores, a corrupção começou pra valer com a chegada da Corte de D. João VI ao Brasil. De lá pra cá a coisa foi se organizando e crescendo de tal forma que ela se institucionalizou, e há quem diga que corre nas veias do brasileiro, embora se saiba que não somos exclusivistas. Exageros à parte, é muito difícil encontrar a honestidade de mãos dadas com o dinheiro público.

Mais triste é ver a roupa suja das igrejas neo-pentencostais – Universal e Mundial – sendo lavada em público, com os dois dirigentes numa troca de acusações deprimentes: ninguém sabe ao certo qual a igreja que mais tira o sagrado dinheirinho do fiel em troca de salvação, por muito menos (indulgências) Lutero se insurgiu, estabelecendo a Reforma da Igreja Católica. Quanta sujeira com o dinheiro do povo inocente, já estava na hora de uma nova Reforma, capaz de colocar na cadeia os dois espertos que não se cansam de negociatas em nome de Deus. Quem é o melhor amigo do capeta? Ambos.

Em meados de 2011 ocorreu em Porto Velho o Fórum Rondônia Contra a Corrupção, organizado pelo Dr. Arildo do TCU, num esforço de conscientização dos órgãos públicos contra o cancro da corrupção, que vem corroendo nossas esperanças num país melhor, um país de estreitas distâncias sociais. Naquela ocasião foram alardeadas soluções para vários problemas, inclusive muito se falou sobre empresários corruptos, mas a unanimidade dizia que o problema maior estava com o gestor público, era ele o autor do primeiro passo, o corruptor.

A corrupção sempre foi uma via de duas mãos e ela se agiganta mais, quando engendrada nos corredores que unem o Executivo ao Legislativo: lembram-se do mensalão, das gravações do Cassol, das sanguessugas? Lembram-se da recente Operação Termópilas? Onde estão os corruptos? Inclusive aquele que morava na casa do governador? E o empresário que administra a limpeza do DETRAN que asseverou publicamente que propina é investimento? – soltos e rindo da nossa cara, à espera da prescrição.  

Todas as soluções discutidas passam por uma reforma política, principalmente por uma reforma do Judiciário, um poder tão corrupto quanto os outros e conivente porque atrasa processos convenientemente, porque aceita propina, porque contribui para que nada seja feito. Se houvesse boa vontade estas reformas já teriam saído do papel. O fato é que são poucos, muito poucos os que realmente querem acabar com a corrupção no Brasil, assim vamos gastando com corrupção, por ano, o PIB de uma Bolívia.

As gravações da Globo não passam de mais um fato da mídia para aparecer na opinião pública, a gente sabe o pouco que aquilo representa no contexto nacional. Rio de Janeiro e São Paulo são duas cidades/estados onde a corrupção campeia livremente, onde o metro quadrado da construção civil pública é o mais caro do Brasil, onde os funcionários terceirizados são os mais caros do mundo, onde o preço pago por metro cúbico de lixo recolhido daria para comprar mais de um metro cúbico de alimento. Culpar apenas os empresários não é justo, a cobra da corrupção é de duas cabeças, ambas venenosas.

Acabar com a corrupção passa pela educação de nossas crianças, pela mudança de mentalidade, pela seriedade da punição, pela meritocracia, pela vigilância constante de todos os cidadãos, pelo fim da reeleição em todos os níveis, assim evitaríamos a autocracia. Cargos eletivos deveriam ser preenchidos por candidatos voluntários, isto quer dizer sem remuneração, como nos países escandinavos. Apenas quatro partidos teriam direito a registro e seriam de ideologia forte, vedada a mudança de partido. Sindicatos seriam apenas dois: o dos funcionários públicos e o dos privados, com uma cartilha bem clara sobre direitos e deveres.

Acabar com a corrupção passa pelo rigoroso controle dos bens pessoais antes e depois de cada cargo assumido. Quando um político gasta muito mais para se eleger do que o que ganhará durante a vigência de seu mandato, a título de “salário”, está mandando um claro recado que usará o recurso da corrupção para recuperar o dinheiro aplicado e ganhar um pouco mais para as futuras campanhas.

Acabar com a corrupção passa por um judiciário forte, bem remunerado, incapaz de vender sentenças. Passa pelo fim da indústria de recursos. Haveria um Conselho de Fiscalização isento, com membros do STF, STJ, TRTs, TRFs e todos os tribunais estaduais eleitos pelo povo. Justiça rápida e pena de prisão perpétua para negociatas com a saúde, com a merenda escolar, com o dinheiro da construção de escolas, hospitais, etc. Empresários que fossem pegos cobrando mais do que o estabelecido pelas tabelas federais, estaduais e municipais elaboradas pelas CGU, CGE e CGM, ou ludibriando o estabelecido em contratos, também ganhariam prisão perpétua. Não se preocupem, sem corrupção sobraria dinheiro para a construção de novos presídios, além do mais, duvido que alguém quisesse se arriscar a transgredir.

Enfim, acabar com a corrupção no Brasil é um sonho, seria como acabar com o malandro Azambuja, ou erradicar a pobreza sem precisar explodir com os pobres, o contrário do que queria o Justo Veríssimo. Descanse em paz Chico Anísio, continuaremos sendo o país da piada pronta, do coronelismo político e da safadeza aplaudida.

[email protected]          [email protected]
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio
Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER – Academia de Letras de Rondônia.
             

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