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Vinício Carrilho

O metafísico e o Nosferatu - a lenda do mito caído


O metafísico e o Nosferatu - a lenda do mito caído - Gente de Opinião

            Na imagem que ilustra (no melhor sentido) o texto, vemos um encontro absolutamente plausível entre Bozo (O metafísico) e Nosferatu, agora travestido de Napoleão Bonaparte. Se fosse simbolizar com o “vampiro brasileiro” também estaria muito adequado. Ou, ainda caberia a capa do Fausto (Goethe) e o Mefistófeles – se bem que esta é clássica demais para sofrer com os tamanhos males políticos brasileiros. Outro dia trarei o metafísico lendo O Fausto, ainda que me seja muito fáustico pensar nisso.

          Hoje vamos observar o Bozo-metafísico dialogando ou se colocando em posição de duelar com o Nosferatu. É óbvio que não seria páreo, porém, em termos terrenos, na política abaixo do nível da terraplana, o metafísico pode muito bem representar o papel do mito caído.

          Nessa pintura (foto para nós) de Lucas Gama, temos uma tensa troca de olhares encandecidos, pondo fogo e labaredas em toda a vermelhidão que corre no fundo da imagem. Seria, quem sabe, uma autodescrição, caso o próprio metafísico tivesse capacidade de pintar em tal magnitude – como é incapaz de pintar, sonhar, escrever, interpretar, nós fazemos a leitura como se ali estivesse transportada essa persona do metafísico.

          Não sei se a pintura já tem nome, mas vou chamar de “O mito caído”. Quando o mito caiu, ao invés de recolher os apreços que tinha direito pelo pacto de sangue, Bozo – o metafísico logo percebeu que levou um chapéu dos infernos. Machado de Assis diria que o metafísico foi enrolado pelo padre nos “sermões da montanha”, exatamente na Igreja do Diabo[1]. E olha eu aí falando d’O Fausto antes da hora.

          De qualquer modo, com o mito caído, atraído e traído por Nosferatu – o vampiro da política brasileira, o metafísico, põem-se a elucubrar pelo “contrato de direitos negado”. Qualquer pessoa mediana, com sanidade espiritual e mental, saberia que o contrato com o Nesferatu é, na verdade, um distrato. E que levaria para casa apenas o engana pão. O metafísico não é diferente do mito caído, na lenda ele não ganha, mas engana muito bem.

          Na lenda do mito caído, na realidade também, o Bozo – metafísico assinou sem ler as cláusulas leoninas do acordo com o Nosferatu. Não percebeu que fazia apenas um contrato napoleônico – de acordo com o modelo da internação compulsória.

          No geral, a lenda do mito caído é meio paradoxal, porém, é assim mesmo – “a lenda do mito” – e conta essa piração do metafísico em medir forças com o Diabo. Muito mal perdedor, o metafísico promete acabar com o fogo pondo lenha na fogueira. Na cabeça (oca) do Bozo – metafísico, lenha e fogo são elementos diferentes e por isso não se atraem. O que também nos permite perceber o alcance do metafísico, pois associa a madeira com os elementos da natureza.

          Em meio ao fogo pavoroso, o Bozo – metafísico acaba por gritar por socorro, desesperado e consumido, aos diabos que possam ouvir. E olha que coisa mais curiosa, ainda mais interessante, o Nosferatu – como não é político de perder viagem, aliás, viaja muito ao Centrão – dá de ombros (talvez lhe escreva uma cartinha) e finge ignorância.

          Em matéria política, há um conto pequeno de Maquiavel que nos ajuda na prevenção, a nós pessoas normais e racionais, contra outro tipo qualquer de Bozo – metafísico e de Nosferatu. Trouxe Nicolau Maquiavel para esta conversa porque é o criador da Ciência Política e porque, ao contrário do Bozo – metafísico, tinha os pés plantados no chão. Além disso, em seu Belfagor – o Arquidiabo, Maquiavel nos revela um pouco dos males metafísicos do seu tempo.

          É igualmente óbvio que o metafísico – o “não-ser-aí” é incapaz de ler qualquer descrição que lhe seja apresentada. O metafísico não consegue ver nem mesmo um desenho de si e do Nosferatu. Sua cegueira política é absurda, absoluta (do tipo da “cegueira branca”, de Saramago), afinal, se não fosse, teria lido as entrelinhas (muito realistas, nada metafísicas) do contrato assinado com o Nosferatu.

          Nós trouxemos essa imagem, foto da pintura, na esperança de que o metafísico, vendo a si mesmo, pudesse fazer uma pausa em sua sandice. É claro que essa nossa pretensão também é pra lá de metafísica, pois jamais será realizada. Em todo caso, nós seguimos tentando, inclusive, porque “a lenda do mito caído” nos atormenta e atormentará por muito tempo.

          Por favor, metafísico, olhe ao menos a foto (pintura), dê-se (dê-nos) uma chance de que o desenho lhe ensine algo útil na vida. O pior para nós é que o Nosferatu permanece muito mais (infinitamente) mais hábil, ardiloso, liso, do que o Bozo – metafísico em sua “vã filosofia”, a mesma que repetem todo dia (em cantilenas), na forma da sua mais pobre “lenda do mito caído”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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