Domingo, 15 de junho de 2025 - 08h31
Hoje não
é Dia da Criança.
Ou
melhor, todo dia é dia da criança – e é nosso dever denunciar, lutar e combater
o trabalho infantil.
Afinal, lugar de criança é na escola!
Simples, direto e correto, como dois com dois são quatro.
No
entanto, o que justifica a exploração do trabalho infantil? Nada poderia
justificar um fato tão desumanizante como esse. E o que explica? Uma porção de
situações e relações, a começar pelo modo de produção e exploração capitalista.
No mundo, conforme o Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)[1], 160 milhões de crianças e
adolescentes (05 a 17 anos) foram submetidas ao trabalho infantil em 2020, das
quais 10 milhões são vítimas de escravidão contemporânea.
No
Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) de 2023
traz os dados nacionais sobre o trabalho de crianças e adolescentes (05 a 17
anos): 1,607 milhão estão em situação de trabalho infantil, o que representa
4,2% da população com a mesma idade. Apesar de ter havido uma redução no número
de casos em relação a 2022, e de os dados de 2023 serem os menores da série
histórica (iniciada em 2016), a situação ainda é desoladora: 586 mil crianças e
adolescentes se encontravam em atividades de alto risco (Lista TIP)[2].
Porém,
além da hegemonia do capital no estágio atual, há outros descabimentos que
podemos/devemos considerar, como a permanência da extrema miséria humana e o
reincidente Pensamento Escravista[3] que teima em colonizar o
Brasil, por exemplo. Esse pensamento não é um resquício de um passado mal
resolvido, mas sinal de um passado permanente e inerente às dinâmicas sociais
brasileiras.
A
humanidade fracassou, "pessoas normais", que até conhecemos,
normalizam o trabalho infantil: "no meu tempo criança trabalhava...".
Em complemento, o neoliberalismo e o neocolonialismo (neoescravismo) fazem sua
parte para destruir o restante da humanidade que ainda possa resistir.
Essa
“normalização da desumanização” conta com governos, é claro; no entanto, é algo
muito pior: está incrustrado, é parte ativa da cultura de "pessoas
dóceis", que alertam sobre o “bem que a exploração do trabalho faz à
criança". Todavia, se esquecem que criança tem que ter escola, alimentação
adequada, segurança, felicidade e brincar. Esses são direitos garantidos pelo
artigo 227 da Constituição Federal, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
e, mais recentemente, pelo Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13257/2016)[4]. Mas, assim como tantos
outros direitos, encontram-se desrespeitados.
Não
é difícil perceber, com uma inteligência social mediana (não sendo-se atacado
pela sociopatia), que, ao contrário do que dizia Auschwitz, um dos piores
campos de concentração nazista, o trabalho não liberta. O Brasil é um fator à
parte, porque nos persegue firme e forte o Pensamento Escravista. Quando
falamos de trabalho infantil, falamos de crianças com raça, com classe social e
gênero: 65,2% das crianças e adolescentes que trabalham são pretos e pardos,
11,6% não frequentam a escola[5]. Os filhos e filhas da
classe média e da elite não trabalham.
A
classificação racial da população se mantém como padrão de poder e
racionalidade – o “corte social” que mantém a desigualdade como fator de
dominação. Por sua vez, o pensamento escravagista está tanto nas subjetividades
(racismo) quanto objetivamente aparece na exploração do trabalho (inclusive,
infantil). A estrutura patriarcal também compõe esse quadro. Pois, do total de
crianças e adolescentes em situação de trabalho em 2023, 63,8% são meninos,
enquanto 36,2% são meninas. E, enquanto os meninos ganhavam um pagamento, em
média, de R$815, as meninas recebiam R$695.
Portanto,
é óbvio ululante que a exploração do trabalho infantil não irá libertar nenhuma
criança do estágio de abandono e de miséria no qual já viva. E mais triste é
ter que avaliar e repetir isso reiteradamente. O que libertará nossas crianças
disso tudo, da miséria, dos abusos, maus-tratos, da exploração em fase de
escravismo infantil, é uma profunda transformação social e cultural: até
chegarmos numa fase em que o Pensamento Escravista, ao menos, já não seja
predominante.
Enfim,
temos consciência de que a consciência social necessária para a solução desses
fatores não é simples? Temos a “ciência” de que muitas camadas superficiais de
nossa alegada “consciência” precisam ser removidas?
Enquanto
isto não se modificar, em nós “cidadãos e cidadãs de bens”, na feitura das
relações sociais de produção capitalista, nada será efetivo no sentido de
soluções reais, duradouras, estruturantes.
[1] Child labour: global estimates 2020,
trends and the road forward (Trabalho Infantil: estimativas globais de 2020,
tendências e o caminho a seguir).
[2] A Lista TIP é uma classificação adotada
por vários países para definir as atividades que oferecem mais riscos à saúde,
ao desenvolvimento e à moral das crianças e dos adolescentes. No Brasil, a
lista proposta pela OIT foi regulamentada pela Lei nº 6481/2008. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6481.htm
[3] Pensamento Escravista: associação de
racismo com exploração do trabalho em condições análogas (semelhantes) à
escravidão.
[4] “Art. 4º As políticas públicas voltadas
ao atendimento dos direitos da criança na primeira infância serão elaboradas e
executadas de forma a:
I - atender ao interesse superior da
criança e à sua condição de sujeito de direitos e de cidadã”. Destacamos que
aqui a cidadania da criança é colocada como elemento central na legislação.
Mas, em um país de subcidadãos, em que a construção social histórica foi de
exclusão, que lugar cabe às crianças?
[5] Disponível em:
https://livredetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-infantil/estatisticas/.
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