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Francisco: o Papa do povo e da inovação


António da Cunha Duarte Justo - Gente de Opinião
António da Cunha Duarte Justo

Num mundo marcado por divisões e conflitos, o Papa Francisco emergiu como um farol de humanidade e esperança. O seu pontificado foi uma lição viva de simplicidade e proximidade, como ilustra o breve diálogo que manteve com um fiel no Vaticano:

— “Bom dia, Santo Padre!”

— “Bom dia, Santo Filho!”

Esta resposta, cheia de ternura e igualdade, sintetiza o espírito de um homem que sempre Cristo no rosto do outro.

Um Legado de Paz e Reforma

Francisco foi o Papa da paz e do povo. A sua mensagem, centrada no amor ao próximo e na justiça social, ecoou além das fronteiras da Igreja. Quando exortou o mundo a levantar a "bandeira branca" da reconciliação — inspirado no mandamento de Jesus: "Ama o próximo como a ti mesmo" — desafiou os poderes que alimentam a guerra. “O amor e a paz são uma e a mesma moeda”, insistia. A guerra não pode ser optada como meio para se alcançar a paz!

A sua crítica à indiferença e à violência foi incansável. Citando as palavras de Cristo — "Guarda a tua espada no lugar, pois quem pela espada vive, pela espada morrerá" —, lembrava-nos que a verdadeira espada é do discernimento, não a das emoções não resolvidas. "Enquanto valorizamos mais os bens materiais do que o milagre da vida, a mensagem do Evangelho ainda não nos alcançou."

Um Reformador com os Pés na Terra

Francisco revolucionou com gestos simbólicos: decidiu ostentações, preferiu viver em Santa Marta, escolheu ser sepultado em terra na Basílica de Santa Maria Maior e mudou-se dos marginalizados. A sua primeira visita a Lampedusa, onde denunciou a “indiferença desenfreada” perante os refugiados, marcou o tom do seu papado. Em 2013, ao declarar “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor de boa vontade, quem sou eu para julgar?”, abriu portas que muitos julgavam fechadas.

Foi um reformador: mudou-se dos marginalizados, abriu a discussão sobre temas difíceis (como a colhida a divorciados e pessoas LGBTQ+) e incentivou uma "ortodoxia dinâmica", fiel ao Evangelho, mas adaptada às necessidades pastorais.

Promoveu sinergias, incentivando a política e a Igreja a abandonar o espírito de competição e a "encontrar Jesus nas pessoas". Nas exortações Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) e Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), reafirmou o espírito do Concílio Vaticano II, desagradando teólogos mais tradicionalistas. Para ele, as controvérsias (1) eram um "Método de Descoberta da Verdade", e as discussões, conveniência. O seu legado não deixa uma igreja indiferente porque convidada a não se fixar apenas em doutrinas que embora provadas deixam a desejar no aspecto pastoral (moral sexual).

Desafios e Tensões

A sua abordagem gerou resistências. A Igreja alemã, por exemplo, criticou-o por não ser suficientemente adequada ao espírito do tempo, enquanto outros o acusaram de engenhosidade ao dialogar com o Islão. Francisco insistiu na fraternidade universal, mas a ausência de líderes muçulmanos e judeus no seu funeral — provavelmente devido às suas críticas à guerra em Gaza e ao hegemonismo religioso muçulmano — revela as complexidades desse diálogo.

A sua visão de uma Igreja em peregrina, comprometida com os pobres e aberta à reforma, contrastava com estruturas enrijecidas. Questões como o celibato clerical ou o diaconado feminino ficaram em suspenso, mas o seu chamado à "ortodoxia dinâmica" — fiel à doutrina, mas pastoralmente criativa — permanece um desafio.

(O papa terá de orientar-se entre a “verdade revelada” e a interpretação que a natureza e a História expressa no seu desdobramento, o que implica a capacidade de manter a igreja una e de escolher a melhor pedagogia para se fazer compreender num mundo secular cada vez mais exposto à formatação da consciência social e pessoal por elites desalmadas. Almas assim formatadas tornam-se alérgicas a tudo que envolve espiritualidade, o que exige por isso caminhadas mais longas sem recursos a atalhos.) É importante seguir com os tempos sem. cair na tentativa de politização da Igreja especialmente nesta época em que poderes econômicos e ideológicos a atuar globalmente ameaçam levar na sua enxurrada a pessoa humana e tudo o que tenha a ver com valores perenes.

O Adeus ao Papa do Povo

Com a sua morte, a 26 de abril de 2025, o mundo parou. Centenas de milhares de fiéis e mais de 160 líderes mundiais reuniram-se no Vaticano. Trump e Zelensky aproveitaram o momento para um encontro inédito, confirmando o papel da Igreja como mediadora.

Mas quantos aqueles políticos, todos os presentes, eram realmente próximos do seu espírito? Francisco, o primeiro Papa jesuíta e não europeu, viveu como "construtor de pontes", colocando a caridade e o humanismo cristão no centro de sua missão.

O Caminho que Fica

Num mundo racionalista e cada vez mais desumanizador, o seu legado é um convite: Escutar o coração, onde Jesus fala no silêncio. As razões do coração, afinal, transcendem a lógica unilateral da mente.

A Igreja, peregrina na História, enfrentou o dilema de equilibrar a "verdade revelada" com os sinais dos tempos. O Espírito Santo era tanto na instituição quanto no povo — mas o poder espiritual, que concede verdadeira dignidade, não se confunde com o poder político – meramente democrático (como por vezes se fez sentir na Igreja da Alemanha). Permanecerá o desafio: O poder espiritual presente no povo é diferente do poder político em que assenta a democracia; não é legítimo, por isso, confundir o voto individual democrático movido pelo poder político com o voto individual movido pelo Espírito Santo; este é mais abrangente e é o que concede a verdadeira dignidade e a soberania à pessoa, o outro é limitado produzindo dependência e igualdade apenas perante a lei.

Francisco partiu, mas a sua pergunta ecoa: "Quem é responsável pelo que está a acontecer agora?" Num mundo de hipocrisia e medo, a sua vida foi uma resposta: "Só o amor terá a última palavra."

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10032

FESTA DA LIBERDADE

O 25 de Abril do Povo

A revolução do 25 de Abril não inventou a liberdade, mas ensinou-a a dobrar-se — humildemente— tanto à luz que liberta quanto à sombra que corrompe.

Antes do 25 de abril, já sabíamos - conservadores e progressistas - que o sol não se ajoelha perante senhores! Todo o regime é espelho dos que nele caminharam e vício dos que nele se acorrentaram ou temem.

Assim me foi ensinado, na escola de Jesus - pela boca e exemplo de meus pais - aquela escola que liberta, e nunca submete.

Num mundo de senhores e arregimentados, é de afirmar um Abril sem credenciais e que não pede licença: onde a chuva lava o pó de tronos e a traça dos ministérios e onde a soberania nasce de cada passo e não de bandeiras nem de postos, mas em cada peito que ousa avançar!

Liberdade política liberta os corpos, mas a verdadeira liberdade - aquela que é soberana e ecoa nas almas; só o vento a regular, só o espírito a governar!

Quem clama por liberdade e justiça não pode repetir a violência dos opressores: não pode ser espelho de prepotentes; não pode haver monopólios de bem ou de mal!

Liberdade é este canto nascido quando um homem desperta e descobre que traz o céu no próprio sangue. Ela é a memória do céu gravada em cada homem, em cada mulher, em cada criança que nasce para a esperança!

Abril é este grito: de pé, povo livre! Que nunca mais o medo vos dobre! Que nunca mais a sombra vos cale! Que nunca mais o céu deixe de arder em vós!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10028

FESTA DA LIBERDADE

Antes do Abril verificado aos calendários,

eu já bebia a liberdade nos rios —

aquela que não se vê a relógios de senhores,

nem se vende em parlamentos vazios.

O que Abril trouxe foi o dente do tempo

a roer tanto as notas como as mãos:

fez-se luz nos cárceres, sim,

mas também sombra nos corações.

Eu quero o Abril que não cabe em feriados,

o que incendeia sem pedir licença,

onde a chuva lava os nomes dos Estados

e a liberdade é raiz, não cerca.

Sol para o justo e o velho,

terra sem dono, céu sem redea —

que a revolução é uma realidade

começa quando um homem se ergue

e descobre que nunca precisou de soberano.

Liberdade é o canto que nasce

quando um homem descobre

que traz o céu no próprio sangue.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10026

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