Sexta-feira, 26 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Semana santa: o rosto do povo crucificado!


      
                Estamos iniciando a Semana Santa após uma intensa caminhada quaresmal;durante cinco semanas vivenciamos na comunidade e em nosso retiro da Quaresma, a meditação da Palavra de Deus, a participação na liturgia, momentos de oração, jejum, penitência e fraternidade.

 
     A missão de Jesus cumpre-se no Mistério Pascal: aqui nos vemos colocados diante da Palavra da Cruz (1Cor 1,18). Aqui verdadeiramente se comunica a nós o amor maior, aquele que dá a vida pelos próprios amigos (Jo 15,13).
 
     Neste grande mistério, Jesus manifesta-se como a Palavra da Nova e EternaAliança: a liberdade de Deus e a liberdade do homem se encontraram definitivamente na sua carne crucificada, num pacto indissolúvel, válido para sempre. O próprio Jesus, na Última Ceia, ao instituir a Eucaristia falara de Nova e Eterna Aliança, estabelecida no seu sangue derramado, mostrando-Se como o verdadeiro Cordeiro imolado, no qual se realiza a definitiva libertação da escravidão (VD 12).
 
     Entramos na Semana Santa na certeza de que Deus caminha conosco. Cristo humilhou-se, Deus o exaltou. Nestes dias celebramos a caminhada do Senhor Jesus até ao ponto culminante da sua existência terrena. Nacerteza da vitória sobre o pecado contemplamos os passos da Paixão de Jesus durante toda a Semana. A partir do sofrimento de nossos irmãos e da via sacra de tantas famílias desabrigadas, nosso coração volta-se para Cristo que assumiu o sofrimento humano até o extremo.
 
     A vida humana traz sofrimentos coletivos, escreveu Pe. Libanio. E, nesses momentos, nós gritamos, como Jó perguntando a Deus: como isso é possível? Um ateu dizia que, enquanto uma criança inocente sofrer, todos os argumentos para a existência de Deus são inúteis. Outro dizia que um escândalo contra Deus é o sofrimento. Ora, isso seria correto se fosse um Deus distante, um Deus que ficasse fora, o famoso Deus de certas religiões, um Deus ocioso, como dizem os antigos. Mas nós sabemos que o nosso Deus não ficou fora da história humana. Ele entrou nela, e isso mostra que Ele está ao lado não só dos indivíduos, mas também dos povos. E pode prometer a eles essa esperança, que começa agora, pela presença, pelo carinho, pelo amor. Eles não são desprezados de Deus, mas sim amados de Deus, mesmo nas condições tão desprezadas em que estão.
 
     Deus continua interpelando-nos desde todos os crucificados do nosso tempo. Não podemos continuar vivendo como expectadores desse sofrimento tão grande, alimentando nossa ingênua ilusão de inocência. Temos que nos manifestar contra essa cultura do esquecimento que permite nos isolarmos dos crucificados deslocando o sofrimento injusto que há no mundo para uma distância onde desapareça  o clamor, o gemido e o pranto.
 
     Quando os cristãos dirigiram seus olhos até o rosto do Crucificado, eles contemplaram o amor imenso de Deus que se entregou até a morte por nossa salvação. Se olharmos mais detidamente, logo descobriremos o rosto de muitos crucificados que, longe ou perto de nós, estão reclamando nosso amor de solidariedade e compaixão (Pagola).
 
      O Domingo de Ramos abre a Semana Santa. Hoje fazemos memória da entrada triunfalde Jesus na Cidade Santa, imagem da Nova Jerusalém que acolhe o seu Senhor com júbi­lo. Jesus montado num jumentinho é aclamado pelas crianças, pelos pobres, pelas mulheres: “Bendito seja aquele que vem como Rei, em nome do Senhor!” (Lc 19,38).  
 
     Recordamos a entrada de Cristo em Jerusalém para realizar a entrega de sua vida pela morte de cruz, fiel ao projeto do Reino. Com o povo da primeira aliança, que, durante a festa das Tendas, levava ramos nas mãos, significando a esperança messiânica, nós também, seguindo os passos de Jesus, renovamos nossa adesão ao seu projeto e, com nossos ramos nas mãos, o aclamamos Senhor da vida e da história. Escutando a narrativa da Paixão conforme a comunidade de Mateus e participando da liturgia da Paixão do Senhor, deixamos que o mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus se realize mais intensamente em nossa vida (VP).
 
     Na Cruz Jesus morre por cada um de nós. Por conseguinte, a Cruz é o sinal maior e mais eloquente do seu amor misericordioso, o único sinal de salvação para cada geração e para toda a humanidade (J.Paulo II).
 
     Nesta semana, queremos mergulhar na misericórdia infinita de Deus, através do sacramento da reconciliação, convertendo nosso coração corroído pela sombra da mágoa e do pecado e seguindo a Luz de Cristo que tem o poder de eliminar a morte, a corrupção e o ódio.
 
Eu queria que todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessarcomo nossa única glória Cristo Crucificado (papa Francisco).
 
     Deus não obrigou Jesus a pagar por nós, nem desejou a morte dele. Só desejava que ele fosse seu Filho. Esperava dele a fidelidade a seu plano de amor e que ele agisse conforme este plano. Jesus foi fiel a esta missão até o fim. Quem quis a sua morte não foi Deus, e sim os homens que o rejeitaram.
 
     No relato da paixão de Nosso Senhor, Mateus vê o Messias sob o ângulo da realização do projeto do Pai. Jesus realiza o modelo do Servo-Discípulo, que pede a Deus “um ouvido de discípulo” para proclamar a sua vontade com “boca de profeta” e lhe ser fiel até o fim. A fidelidade à missão de Deus é que faz de Jesus o Messias e Salvador. Jesus não veio para “fazer qualquer coisa”, mas para realizar o projeto do Pai. Ensina-nos a obediência até a morte como instrumento da salvação do mundo. Pois quem sabe o que é preciso para salvar o mundo é Deus. Ele sabe que a morte daquele que manifesta seu amor infinito é a resposta suprema ao supremo desafio do mal. Jesus poderia ter sido infiel a Deus, pois era livre. Mas então teria sido infiel a si mesmo, Servo, Discípulo, Messias e Filho. Levou a termo a obra iniciada: pregar e mostrar o amor de Deus até no dom da própria vida.
 
     O exemplo de Cristo nos ensina o caminho da libertação. Vamos realizar a missão de libertar o mundo pela fidelidade radical à vontade do Pai. Por isso, devemos “prestar-lhe ouvidos” - sentido original de “obediência”. Obedecer não é deserção da liberdade. É unir nossa vontade à vontade do Pai, para realizar seu projeto de amor, e a outras vontades que estão no mesmo projeto. E é também dar ouvidos ao grito dos injustiçados, que denuncia o pisoteamento do plano de Deus. Só depois de ter escutado todas essas vozes poderemos ser verdadeiros porta-vozes, profetas, para denunciar e anunciar. Profetismo supõe obediência e contemplação (J. Konings, SJ).
 
     Hoje, Domingo de Ramos, é dia da Coleta da Solidariedade. Dia especial da fraternidade, dentro da Campanha da CNBB. Oato concreto da CF se expressa pela oferta de doações em dinheiro na Coleta da Solidariedade. É um sinal real de fraternidade, partilha e solidariedade, feito em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs católicas, paróquias e dioceses.
 
     A coleta da Solidariedade é parte integrante da Campanha da Fraternidade. Os recursos da Coleta de Solidariedade são aplicados para apoiar projetos. Esse é o gesto mais simples que podemos fazer para com milhares de vítimas da violência do tráfico humano, tema da Campanha da Fraternidade deste ano.
     Desejando a todos uma semana santificada rumo à Páscoa, tenhamos presente as palavras do papa Francisco:
 
     Jesus já não está no passado, mas vive no presente e lança-Se para o futuro; Jesus é o hoje eterno de Deus. Assim se apresenta a novidade de Deus diante dos olhos das mulheres, dos discípulos, de todos nós: a vitória sobre o pecado, sobre o mal, sobre a morte, sobre tudo o que oprime a vida e lhe dá um rosto menos humano. Quantas vezes precisamos que o Amor nos diga: Por que buscais o Vivente entre os mortos? Os problemas, as preocupações de todos os dias tendem a fechar-nos em nós mesmos. Na tristeza, na amargura… e aí está a morte. Não procuremos aí o Vivente! Aceita então que Jesus Ressuscitado entre na tua vida, acolhe-O como amigo, Com confiança: Ele é a vida! Se até agora estiveste longe d’Ele, basta que faças um pequeno passo E Ele te acolherá de braços abertos. Se és indiferente, aceita arriscar: não ficarás desiludido.
 
Se te parece difícil segui-Lo, não tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar seguro de que Ele está perto de ti, está contigo e dar-te-á a paz que procuras e a força para viver como Ele quer.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 26 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Sexta-feira, 26 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)