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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi


 
A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no Brasil e na democracia”. Fortalecer aqueles “que têm medo do presente e do futuro e temem pelas ameaças aos seus direitos”.

É missão da Igreja “preocupar-se com a saúde das instituições da sociedade civil, pronunciando-se sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG 183).

Uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela. Amamos este magnífico planeta, onde Deus nos colocou, e amamos a humanidade que o habita, com todos os seus dramas e cansaços, com os seus anseios e esperanças, com os seus valores e fragilidades. A terra é a nossa casa comum, e todos somos irmãos (EG 183).

Embora a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política, a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça.

A liturgia nos ensina a confiar em Deus e a viver uma fé transformadora, que liberta e é “sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo”.

Hoje, pela força de nosso batismo, somos chamados a testemunhar nossa fé, mesmo diante dos ambientes mais desencorajadores. “O sofrimento recorda-nos que o serviço da fé ao bem comum é sempre serviço de esperança que nos faz olhar em frente, sabendo que só a partir de Deus, do futuro que vem de Jesus res­suscitado, é que a nossa sociedade pode encon­trar alicerces sólidos e duradouros” (LF 57).

Para seus seguidores, Jesus garante sua presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo. Ao enviar seus discípulos para anunciar e implantar o reino de Deus, ele nos ensina a firmeza profética. Ensina-nos a não ter medo daqueles que matam o corpo, mas a viver em temor diante daquele que tem poder para destruir corpo e alma no inferno,

Jesus representa o Pai, e o Pai endossa a obra de Jesus. Quem for testemunha fiel de Cristo será por ele recomendado a Deus. Em Jesus está nossa firmeza.

Os discípulos não devem ter medo, porque a missão se baseia na verdade, que põe a descoberto toda a mentira de um sistema social que não mostra a sua verdadeira face (BP).

Mateus apresenta motivos para não temer as ameaças: a afirmação de que o discípulo não está acima do mestre; a condição para seguir o Mestre é abraçar a cruz (Mt 10,26-33). O perseguidor só poderá tirar a vida do corpo, mas não a vida depois da morte, que está nas mãos de Deus; confiar na divina Providência: Deus cuida até dos pardais, quanto mais de seus discípulos.
Aos que derem testemunho de Cristo diante dos homens, Ele dará testemunho diante do “Pai que está nos céus”.

O caminho que Jesus nos mostra, e a respeito do qual ele pede nosso testemunho, é o caminho da vida. Não podemos, diante do mundo, professar o contrário, pois então negamos, sob os olhos de Deus, o caminho de vida que, em Jesus, ele nos proporciona. É uma questão que diz respeito a Deus, referência última do nosso viver.

Não podemos concordar com um sistema econômico, social, político e até pretensamente cultural que exclui, cada dia mais, as pessoas da paz e do bem-estar comum e, inclusive, leva ao abismo o próprio ambiente da vida humana. Não é para um sistema de morte que Jesus deu sua vida. Devemos professar Jesus que deu sua vida para que todos tenham vida e possam viver na abundância da graça que ele trouxe ao mundo.

O profeta Jeremias é o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar, com coerência e fidelidade, as propostas de Deus para os homens (Jr 20,10-13).

Inúmeros – hoje mais que nunca – são os perseguidos, martirizados e mortos por defenderem a justiça e a solidariedade. Quem é profeta é perseguido, mas, se permanece fiel à sua missão, Deus não o abandona. Quem luta por Deus pode contar com ele (Konings).

Paulo Apostolo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projetos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo gera morte. O cristão pode, por vezes, sentir-se impotente diante das estruturas do pecado, do qual ele é vitima e também culpado. Mas, pela fé ele sabe que pode vencê-las pela solidariedade sacramental, eclesial e existencial com a morte e ressurreição de Cristo. (Rm 5,12-15).

Possam as palavras do saudoso Pe. Libanio motivar nossa reflexão e vivencia da fé nesta semana:

Num mundo de desesperança e desânimo, sejamos sinal de coragem e engajamento. Num mundo que só valoriza o presente, acreditemos no futuro, forjando utopias.

Num mundo hedonista, mostremos que o verdadeiro prazer está na entrega de si aos outros. Num mundo de corrupção política, que possamos exercer vigilante controle sobre a administração pública para evitar a malversação dos bens públicos.

Num mundo de violência, revelemos a liberdade e transparência acolhedora da tolerância e do amor. Enfim, anunciemos em palavras e ações que é possível criar uma sociedade alternativa a esta que aí está, começando já (em nosso meio) o ensaio do mundo futuro de fraternidade, igualdade, acolhida, paz e amor.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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