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Silvio Persivo

A crise do coronavírus e seus impactos na cultura


A crise do coronavírus e seus impactos na cultura  - Gente de Opinião

Um dos setores mais profundamente impactados pela crise do coronavírus foi o setor cultural, em especial a denominada economia criativa, a parte da economia que engloba todas as expressões de criatividade da arte e inovação. Não é preciso pensar muito para ver, por exemplo, que, com o confinamento, não se acabaram apenas as apresentações de artistas em eventos ou shows, o que representa uma imensa perda de receitas não somente para eles, como também para toda uma série de pessoas que se movimentam em sua volta, que operam transportes, sons, imagens, negociações, contratos e direitos. Isto não se restringe, porém, aos artistas renomados, pois, mesmo os cantores de barzinhos, os grupos que se apresentam em restaurantes ou churrascarias também ficaram órfãos durante esta epidemia. Pode-se dizer que não. Que as lives, as apresentações ao vivo se sucedem, com duas ou três, no mesmo dia. Isto é fato, no entanto, elas são feitas mais como uma forma de continuarem presentes do que rendem recursos para os artistas. Muitos, aliás, o fizeram mais como um meio de ajudar os necessitados ou comemorar alguma coisa, de vez que somente grandes empresas, como a Google ou a Netflix, conseguem ganhar dinheiro com a internet. Mas, não são apenas os artistas que sofreram com a crise. Imagine os museus ou exposições de artes que precisam ter público para sobreviver? Nem vou falar dos cinemas, das festas, inclusive as costureiras e pessoas que vivem delas e dos teatros que foram fechados à força para evitar a transmissão do vírus. Esta crise do coronavírus tem uma característica que é ímpar: é globalizada, mas, seu impacto é sentido muito mais fortemente na vida local. Afinal todos nós, querendo ou não, fomos forçados ao recolhimento, a voltar a viver nos nossos ninhos, nas nossas tocas. Esta crise tem um lado cruel que é o de nos impedir a convivência, o entrelaçamento, o que, principalmente, para nós, brasileiros, efusivos, que gostamos de abraços, apertos de mãos e beijos, dos encontros nos locais de lazer é uma verdadeira sentença de morte para o cultivo das amizades. É uma crise que nos força, nos induz à solidão. Muitos argumentam que, neste momento, nunca antes fomos tão digitais. Talvez também tenhamos muito mais contatos via e-mails, Twitter, Facebook, Whatsapp e Instagram do que antes. Até mesmo utilizamos muito mais os bate-papos em vídeos ou as videoconferências. É verdade sim. Tivemos que nos adaptar a uma realidade que nos limita. Mas, duvido que, qualquer pessoa, por mais boa companhia que tenha, por melhor que esteja passando, não tenha saudades de dar um bom dia a um desconhecido, de poder beber uma cerveja ou um cafezinho, de dizer: -vou até ali assistir fulano cantar ou ver uma peça ou um filme. Por mais bem acompanhado que você esteja não tenho a menor dúvida: somos prisioneiros em nossas próprias casas. Deserdados da cultura na medida em que não é possível uma cultura de qualidade sem a presença física, sem o compartilhamento. Esta, por incrível que pareça, é também uma crise de solidão. Amputaram uma parte considerável da nossa cultura quando nos impedem de ir e vir e de trabalhar fora de casa. E sem cultura e sem convivência somos muito menos humanos.

Ilustração: https://coloradoreview.colostate.edu/

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