Quarta-feira, 10 de setembro de 2025 - 08h05
A Companhia de Desenvolvimento Agrícola do Estado de Rondônia (Codaron) durou até 1983. Até ali o Programa Integrado de Colonização do Noroeste Brasileiro (Polonoroeste) contribuiria com os projetos de colonização do INCRA. Cinco deputados estaduais elegeram-se à sombra do êxito da Codaron, e funcionaria em seguida o Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro), para refrear a degradação ambiental e oferecer ações de assistência técnica, crédito rural, pesquisa agropecuária e florestal. Ao ser exonerado pela caneta de quem o designara para tão altas funções, Cury foi trabalhar em países africanos.
Mais da metade das atividades da Codaron já haviam sido previstas pelo engenheiro
agrônomo William Cury na Embrapa, antes de ir trabalhar em campos africanos, na
condição de consultor do Banco Mundial.
– A criação do Polonoroeste foi minha e pessoal: 80% da concepção do
programa foi de minha lavra, só não saúde e educação – conta.
Na abertura desta série mencionamos o fato de Cury ter feito essas
revelações a mim e aos colegas repórteres: Lúcio Albuquerque e Rosinaldo
Machado.
Era um tempo em que ainda não se cogitava a comercialização de créditos
de carbono a partir da floresta em pé. O Banco Mundial funciona com três
divisões, e as que comandam as áreas técnica e de pessoal deram início ao
Polonoroeste.
– Estive com o ministro Delfim Neto (Planejamento) e lhe informei que precisávamos de US$ 330 milhões. Ele indagou: “Se eu for dar R$ 330 milhões para Rondônia, quanto terei que dar para o Estado de São Paulo? Eu lhe disse que esse aspecto ele solucionaria com facilidade. E resultou na liberação de US$ 1 bilhão 300 milhões pelo Banco Mundial.
Delfim tinha as chaves do cofre. As portas já estavam bem abertas para o Governo de Rondônia, conta Cury:
– Ele (Delfim), o secretário-geral do ministério Carlos Viacava, e o Savasini decidiram aprovar os recursos, medida também compartilhada pelo economista José Flávio Pécora, que veio a ser ministro.
José Augusto Arantes Savasini e Viacava recebiam Cury pontualmente. À exceção de Savasini, Delfim Neto, Viacava e o ex-ministro da agricultura Alysson Paulinelli vieram a Rondônia. Viacava foi também presidente da CFP (Comissão de Financiamento e Preços).
– Eu conversava com eles de dia e à noite já estava com os recursos debaixo do braço, foi um avanço formidável na concretização das negociações para funcionar o estado.
Em 1979 e 1980 Cury sentiu o crescimento do projeto e o olhar governamental mais claro sobre Rondônia a partir do momento em que fez palestra numa sala lotada de economistas e outros assessores.
– Eu falei das 8h30 às 9h30 para abrir o debate, mas fui me alongando, e ao meio-dia pedi para parar. Ficava bem claro que o Polonoroeste era o melhor programa do Brasil, e eu até ouvi um elogio: diziam lá que eu era o melhor secretário de agricultura do País.
Segundo Cury, o Banco Mundial era comparado naquele período ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Inicialmente, o Polonoroeste tinha previstos US$ 330 milhões, entretanto, o programa fechou em US$ 1,2 bilhão beneficiando também Mato Grosso.
Quatro anos trabalhados
Para conceber o Polonoroeste o Governo de Rondônia trabalhou durante quatro anos com exaustivas negociações que vieram também beneficiar ao Estado de Mato Grosso. Aquele estado, então governado pelo engenheiro agrônomo Júlio Campos, deu um salto rumo a diversas obras rodoviárias
No ritmo desenfreado da migração, um estudo revelava que milhares de famílias chegavam depois de cumprir um ciclo: saíam do nordeste brasileiro, passando pelos estados do Paraná e Mato Grosso até chegar a Rondônia. Outros passavam por Goiás.
– Dois diretores do Banco vieram ao Brasil e a Rondônia, e aqui estiveram por minha causa. Nem sequer marcaram audiência com o governador Teixeira – relata Cury.
DNER foi chamado
O Polonoroeste agigantou o ritmo de obras previstas naquele período, e com isso apareceram alguns desafios.
Cury se lembra de uma importante reunião com a presença do ex-secretário de obras Ademir Guerreiro Villar: “O governo sentiu a insegurança em fiscalizar todas as obras previstas. Eu sugeri que conversarem com a chefia do Departamento Nacional de Estradas (DNER), e esse órgão agarrou tudo com quatro mãos, topou na hora. Algumas rodovias ligavam regiões até então isoladas à BR-364.”
Aí, entra em cena a Companhia de Desenvolvimento de Rondônia (Codaron). Cada pagamento por trecho construído recebia o “aprovo” da empresa.
O maior contingente de migrantes rumo ao antigo território federal concentrou-se no início da década de 1980. Em comparação com o número total de migrantes entre 1977 e 1981, o número alcançou 28,37%. Já entre 1982 e 1985, chegou a 71,63%. Por diversos fatores, entre os quais, o aumento do capital investido nessa região e a pavimentação da BR 364 – inaugurada em 1981 e concluída em 1984.
O ex-governador de Mato Grosso e atualmente deputado estadual Júlio Campos (UB), depõe:
O progresso trazido pelo Polonoroeste abrindo canteiros de obras por toda Rondônia não foi propriamente um mar de rosas para o agrônomo Cury, cujo prestígio em ascensão incomodava de certa forma as principais secretarias do governo, notadamente a Seplan, cujo titular, José Renato da Frota Uchôa, considerava-se único na formulação de políticas públicas.
Uchôa fora trazido de Manaus por Teixeirão antes mesmo do primeiro dia de governo. Ao notar que a direção do Banco Mundial tratava absolutamente tudo, diretamente, com Cury, o secretário iniciou um problemático esperneio que culminou em choque de ideias, programas e da condução administrativa à construção dos Núcleos Urbanos de Apoio Rural (NUARs).
– Na verdade, eu não recebia ajuda dele, nem de secretário algum. Tudo o que fiz naquela ocasião foi fruto do trabalho da nossa equipe centrada e organizada para a instalação do estado – lembra Cury.
– A engrenagem da Codaron funcionava no antigo prédio da Coordenadoria Regional do INCRA (Rua José de Alencar), em boa sintonia com a Embrapa e a Sudhevea (Superintendência do Desenvolvimento da Borracha). Tanto que aproveitou o potencial de estudos de ambas e a necessária matéria-prima. Produzimos mudas para a formação de 25 mil hectares de seringueiras.
Cury ia regularmente ao Rio de Janeiro e ali visitava o Instituto Brasileiro do Café (IBC), que durante décadas controlou o fomento à cafeicultura brasileira, aprovando as melhores áreas de plantio. Era uma autarquia governamental vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio, que definia as políticas agrícolas do produto no Brasil entre os anos 1952 e 1989.
– Mesmo com audiências marcadas, o presidente (Jório Dauster Magalhães e Silva) nunca me deixava esperando. O IBC estabeleceu cotas de café para Rondônia. Dois técnicos vieram avaliar e liberaram um total de 10 milhões de covas.
Resolvidas a parte da produção e do seu escoamento, Cury buscava a direção do Banco Nacional da Habitação (BNH), e assim obteve autorização para construir 2 mil casas e entregá-las a pessoas de baixa renda.
– Levei a notícia ao governador Teixeira.
Com tudo isso, nas quatro paredes das salas do prédio da Rua José de Alencar, a ordem era seguir adiante cada vez mais e dentro das amplas possibilidades de expansão agrícola então proporcionadas pelo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Banco Mundial).
A Codaron passava a ter autonomia e assim contratava 42 empresas de construção civil de Rondônia e 12 empresas de terraplenagem, todas daqui também.
Com muito tato e 100% de ousadia, Cury subdividiu projetos: em vez de licitar 42 Núcleos Urbanos de Apoio Rural (NUARs) para uma só empresa, entregou cada pacote de obras a empresas “pratas da casa.”
– Banquei essas empresas, e assim conseguimos dar conta de obras entre Ariquemes e Pimenta Bueno, e de Colorado do Oeste a Cerejeiras e Rolim de Moura.
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