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Montezuma Cruz

Mader ajudou mineração que ainda desconhecia a “pedra da cura”


Pedra de topázio: sonho industrial ficou nas calendas (Foto Ana Tomich) - Gente de Opinião
Pedra de topázio: sonho industrial ficou nas calendas (Foto Ana Tomich)

O negócio mineral começou a prosperar no final da década de 1960, quando já se detectava a presença da pedra topázio em Monte Negro. Em seu governo, o coronel João Carlos Mader apoiou grandes grupos que chegaram a Rondônia para substituir garimpeiros na extração mineral. O DOC, da Câmara dos Deputad0s, informa que ele desembarcou em Porto Velho já filiado à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do governo.

 

No dia 8 de abril de 1970, o Congresso Nacional aprovava a emenda das eleições diretas em 11 estados e elas foram realizadas em outubro; em 27 o presidente Castelo Branco decretava o Ato institucional n° 2, extinguindo os partidos políticos.

No artigo anterior eu lamentei que nunca interessou à Transparência Governamental mostrar resultados, nem ao Governo Estadual promover algum evento que demonstre a riqueza mineral rondoniense, notadamente a cassiterita.

Coronel João Carlos Mader: o governador que apoiou o Código de Mineração (Foto Wikipedia) - Gente de Opinião
Coronel João Carlos Mader: o governador que apoiou o Código de Mineração (Foto Wikipedia)

Atribui-se a escolha do coronel João Carlos Mader à sua permanente atuação em prol do setor mineral no Ministério das Minas e Energia, escrevi em meu livro “Território dourado (Imediata, 2025). Mader contribuiu para a redação do Decreto-lei n.º 227, o Código de Mineração, emendado em julho de 2017 para a criação da Agência Nacional de Mineração, e até hoje em vigor.

Alegava-se que a lavra do minério de estanho (cassiterita) era onerosa devido à falta de energia elétrica. Porto Velho utilizava usinas termelétricas, enquanto o interior movia-se com motores particulares até se livrar da escuridão, o que demorou alguns anos.

Iniciada em 1982, a Hidrelétrica Samuel, no Rio Jamari, só funcionou 14 anos depois, quando empresas mineradoras com sede no Rio de Janeiro já encerravam as atividades, deixando crateras cheias de lama, muitos desempregados e árvores medicinais tombadas por suas máquinas gigantes. O mulateiro (regenerador de pele), por exemplo, foi uma delas, mas esse é outro capítulo da história botânica e mineral.

Dez anos depois das incursões do seringalista Joaquim Pereira da Rocha pelas terras dos seringais Angustura e União (início dos anos 1950, onde mais tarde surgiria Machadinho d’Oeste), o Decreto nº 1665 de 26/11/1962, publicado no dia seguinte no Diário Oficial da União, também autorizava Moisés Benarrós Israel a pesquisar cassiterita na área de 500 hectares denominada São Lourenço, na confluência dos Igarapés Sauvinha e da Desgraça, no município de Porto Velho.

Nesse cenário em que são lembrados os empresários Rocha, Moacir Mota e Flodoaldo Pontes Pinto, o Sr.Benarrós só veio a ser incluído quando professores da UNIR começaram a apurar a história do ciclo mineral – de 1990 para cá.

Apurou-se que o título da autorização de pesquisa custava naquela ocasião a bagatela de cinco mil cruzeiros e valia por dois anos. Normalmente, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) renovava as pesquisas.

De sua parte, a Mineração Brasileira Estanho Ltda (Mibrel), do Grupo Paranapanema (mais tarde vendido a um grupo peruano) começaria a trabalhar na década de 1980, coincidindo com a descoberta do Garimpo de Bom Futuro, em Ariquemes – considerado, a céu aberto, o maior do mundo.

          Em 1986, quando suas terras foram ocupadas por garimpeiros também interessados na mina em Massangana, essa empresa detentora de lavra desde 1972 considerava-se “estritamente brasileira” fazendo contraponto, por exemplo, à Brascan (Brasil-Canadá) e, assim, lançou nota no jornal “Alto Madeira” protestando contra “a invasão por grupos de indivíduos que começam dilapidar o patrimônio do País.”

Exageros à parte, na verdade, a Massangana pretendia demonstrar seus investimentos no setor.

A nota falava em “desordem e intranquilidade”, acusando “indivíduos com interesses escusos (...) de operarem a mando de grupos internacionais de joalherias e pedristas, aos quais interessava desestabilizar totalmente o mercado produtor, pulverizando para pagar preços baixos pelo minério sem necessidade de investimentos.”

Para a Mibrel, que investira no negócio 280 milhões de cruzados [moeda daquele período] não havia dúvida: a situação causada pelos garimpeiros resultava na evasão de divisas ao estado e ao País. E a vila, com 2 mil pessoas, segundo a empresa, estava “disposta ao progresso”, mesmo enfrentando 11 mil casos de doenças diversas, notadamente a malária.

Alegava ainda “ter conservado a BR-421 e concluído a ponte São Jorge, beneficiando toda a margem esquerda do Rio Jamari e mantido a balsa que fazia a ligação entre as duas margens do rio, possibilitando a colonização agrícola.”

Em 24 de maio de 1986, a Associação do Serviço Médico em Massangana publicava outra nota afirmando que seus profissionais cadastrados no Instituto de Administração Financeira da Previdência Social prestavam grande assistência aos habitantes das linhas: “Somente em 1983 foram atendidas 3,8 mil pessoas; em 1984, só com malária, 509; em 1985, 10 mil atendimentos, cada um custando em média 800 cruzados; em 1986, 4,9 mil pessoas recebiam remédios e consultas, e cinco partos normais foram feitos ali, juntamente com exames de sangue, RH, VDRL [para sífilis], prognósticos, bacterioscopia e lâminas para pesquisas de malária.”

Em meados da década de 1990, a empresa negociou a mina depois pertencente à Cooperativa Estanífera de Mineradores da Amazônia Legal Ltda. [Cemal], detentora dos direitos minerários e que em 2005 estabeleceu parceria com um grupo de Hong Kong.

Esse grupo estrangeiro atuou no município de Monte Negro, estimulando a produção de topázio e obteve qualidade, uma vez que as pedras encontradas na região são detentoras de características únicas. Segundo geólogos especialistas, passando pelo processo de bombardeamento para coloração muito mais rápida do que qualquer pedra do mundo.

Obteve-se naquele período aproximadamente 80 toneladas de concentrado de óxido de estanho, a cassiterita.

Entrada de Monte Negro, município do Jamari, a 249 quilômetros de Porto Velho (Foto Frank Nery) - Gente de Opinião
Entrada de Monte Negro, município do Jamari, a 249 quilômetros de Porto Velho (Foto Frank Nery)

Monte Negro surgiu como núcleo urbano de apoio rural do Projeto de Assentamento Dirigido Marechal Dutra [do Incra] com o nome de Boa Vista, entretanto, por ser homônimo da Capital do Estado de Roraima teve o nome mudado depois da emancipado, em 1992.

Saberia Mader que o topázio é considerado na litoterapia a “pedra da cura”? Certo é que os estudos vieram a se consolidar depois, no DNPM em Brasília, justamente quando ocorria a expansão agrícola. Em 2019, o Centro de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente da Amazônia (Rioterra) iniciava um diagnóstico para propor alternativas econômicas na região do Jamari.

0 então coordenador de Projetos do Rio Terra, Alexis Barros, justificava: “A mineração acontece em muitas partes do estado e cerca de 80% é manual, artesanal, podemos até chamar de garimpagem. Precisamos levar dignidade a essas pessoas, com investimentos privados e do terceiro setor.”

A conversa e o compromisso animavam o então superintendente de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Gonçalves, que demonstrava satisfação com a parceria da organização. O secretário se dispunha a minimizar impactos da mineração e a lapidar cristais industrialmente em Monte Negro.

Pelo visto...

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