Segunda-feira, 8 de dezembro de 2025 - 07h50

Bagé, RS, 08.12.2025
Vamos continuar reproduzindo
as reportagens da Revista Manchete:
Manchete n° 626, Rio de Janeiro, RJ
Sábado, 18.04.1964
Os
Labirintos da Revolução
(Murilo Melo Filho faz um Relato Pormenorizado das
Articulações Político-Militares)
Depois
de ter a vitória garantida no setor militar, a Revolução enfrenta a sua última
Batalha: a que está travando no Congresso Nacional, em Brasília, para eleger o
novo Presidente da República e para afastar da arena política todas as pessoas
comprometidas com o governo deposto. Os chefes militares são os primeiros a
afirmar que as decisões do Congresso serão acatadas.
Tancredo Neves, Líder do PSD, Tentou
Encontrar um Nome que Substituísse o de Alkmin Para Vice
Está
claro, agora, que a candidatura Castello Branco não foi uma indicação unânime
dos Governadores vitoriosos. O Sr. Ademar de Barros preferia o General Costa e
Silva ou o General Amauri Kruel. O Sr. Magalhães Pinto queria o General Mourão
Filho; o Governador Mauro Borges indicava o Marechal Dutra. Em torno do General
Castello Branco reuniram-se os Governadores Carlos Lacerda, Nei Braga e Ildo
Meneghetti. Contando, portanto, com a maioria dos votos, foi ele o escolhido. O
Sr. Caros Lacerda dirigiu-se, então, a uma emissora de televisão e comunicou a
escolha, enquanto fazia severas críticas ao ex-Presidente JK. O General, a
princípio, resistiu à escolha de seu nome pois entendia que nenhum dos chefes
militares vitoriosos deveria aceitar qualquer cargo eletivo, a fim de não
macular com suspeita de ambição um movimento armado que, desde o começo, fora
apresentado como de salvação nacional. Contudo, em vista das manifestações
favoráveis que passou a receber, Castello Branco terminou por concordar com a
sua candidatura. Num encontro com JK, dissipou ele as dúvidas e desconfianças
do PSD, que estava assustado com a perspectiva de que a ascensão dos Coronéis
da “Sorbonne” representasse uma
ressurreição do espírito de 24 do agosto de 1954.
Verificaram
depois os pessedistas que os propósitos do General Castello Branco se baseavam
em termos rigidamente legalistas e de transmissão do poder em 31 de janeiro de
1966 ao candidato eleito pelo povo em outubro de 65. Simultaneamente, várias
seções pessedistas como as do Pernambuco, Goiás, São Paulo e Minas
inclinavam-se para o General Castello, já assegurado com o apoio de toda a UDN,
do PSP, PRP, PDC, PL e PR. Era uma frente parlamentar vitoriosa. Um detalhe
muito ajudava a penetração do General Castello Branco nas bancadas
Gesse-distas; o lato de o Deputado José Maria Alkmin ser candidato a
vice-presidente na sua chapa, embora o Sr. Tancredo Neves e outros líderes
pessedistas coordenassem novas candidaturas a vice, como a dos Senhores Moura
Andrade, Arriarei Peixoto e Ranieri Mazzilli
Foi
o PTB que estimulou e candidatura do General Amauri Kruel, aproveitando-se para
tanto das delongas na escolha do dia destinado à eleição do novo Presidente da
República. Com o apoio inicial de oitenta Deputados e dezesseis Senadores do
PTB, o Comandante do Exército terminou por consentir no lançamento do seu nome.
A devida comunicação foi feita no Senado pelo Senador Lino de Matos, Presidente
do PTN, que assim se juntava à bancada trabalhista. Enquanto isto, na Câmara, o
Deputado Hugo Borghi, Presidente do PST, fazia idêntico lançamento. As
esperanças dos partidários do General Kruel voltavam-se para o PSD, na
suposição de que, ameaçados pelo caráter udenista da indicação do General
Castello Branco, os pessedistas se voltassem para o Comandante do II Exército,
que fora Chefe de polícia do antigo Distrito Federal no governo de JK Ao mesmo
tempo, sua penetração no Senado era feita através do Senador Artur Virgílio,
líder do PTB. Especulava-se, também, que o Senador Moura Andrade seria
convidado a participar da chapa como candidato à Vice-Presidência. O General
Kruel, quando consultado, respondeu que aceitava a sua indicação para ganhar ou
perder; não se consideraria humilhado ou ofendido em caso de derrota, pois
achava que a decisão do Congresso, em qualquer das hipóteses, seria soberana e
tinha de ser acatada. Alguns de seus adversários, entretanto, começaram a
levantar Suspeita sobre esse apoio do General ao Congresso. Insinuavam que o
ex-presidente João Goulart comunicara a vários deles, há alguns meses, que
Kruel certa vez pretendera fechar a Câmara e o Senado. Essa intriga, alastrada
como um estopim entre as bancadas, era ajudada por outra: deputados radicais do
PTB eram solicitados a não votar no General, que poucos dias antes se voltara
contra Jango e o depusera. Tratava-se, portanto, de uma candidatura destinada a
lutar contra obstáculos, intrigas e incompatibilidades. Mesmo assim seus
adversários achavam que ela deveria ser levada às últimas consequências, até
mesmo como a necessidade de ser oferecida uma opção aos que não desejassem
votar no General Castello Branco.
A
indicação de Dutra surgiu numa tarde em que o Congresso era presa da maior
preocupação e ansiedade. O Marechal Mendes de Morais irrompeu pelo plenário da
Câmara, comunicando que havia acabado de receber, através do telefone
interurbano, a notícia dada pelo Marechal Dutra de que resolvera candidatar-se
“em defesa da democracia e do Congresso”.
Pedia, ainda, que todos os seus amigos da Câmara e do Senado ficassem cientes
da sua decisão. O mais interessante de tudo, como salientava o Deputado
udenista Padre Godinho, é que todo o esquema inicialmente articulado se
destinava a consagrar a eleição do Marechal Dutra, mas ele próprio não se
interessava muito, facilitando o aparecimento do General Castello Branco. A
aceitação do ex-Presidente foi fácil e livre em alguns setores do PSD,
sobretudo nas áreas tradicionalmente dutristas, Que passaram a considerá-lo
como o nome ideal para servir de “Tertius”
([1])
na disputa. Chamava-se a atenção para o fato de o velho Marechal ter decidido
candidatar-se somente no dia em que o seu genro, General Ulhoa Cintra, assumira
o Comando da Divisão de Infantaria e da Vila Militar. De qualquer forma, o
aparecimento desta terceira candidatura militar ora saudada como a prova
indiscutível de que os comandos revolucionários e armados não tinham um nome
único a impor ao Congresso, já agora com a alternativa de várias escolhas.
A Principal Exigência dos Chefes
Militares da Revolução é a Cassação dos Mandatos dos Deputados Comunistas. Os
Generais não Admitem a Hipótese de que, Revestidos de Imunidades, Esses
Parlamentares
Retornem à Agitação
A
revelação da existência do Ato Institucional causou o impacto de uma bomba.
Imediatamente começaram a ser feitas as mais terríveis especulações sobre os
seus termos. O aspecto legal da ideia foi confiado a um grupo de juristas. Os
Chefes Militares empenharam-se em obter a aquiescência e a colaboração do
Congresso. Mandaram emissários a Brasília, solicitando o comparecimento dos
Srs. Ranieri Mazzilli e Auto Moura Andrade ao Rio de Janeiro juntamente com os
líderes parlamentares. O pensamento do Alto Comando do Exército foi exposto nos
seguintes termos:
1 Houve uma Revolução
no Brasil. O fato de não ter havido derramamento do sangue não quer dizer que
deixem de existir um Movimento e um Estado Revolucionário;
2 A
Revolução gera direitos e a Constituição deve ser utilizada na medida em que
serve aos interesses Revolucionários. A legalidade existente é a Revolucionária
que não está inserida na Constituição, mas apoiada numa situação de fato e de
força.
Os líderes parlamentares ficaram atônitos diante dessa lógica que lhes era exposta com tão dura simplicidade. Tentaram, então, ganhar tempo para ver se cozinhavam os Chefes Militares em banho-maria, até o ponto em que eles pudessem arrefecer o ímpeto inicial e recuar para uma posição mais conciliatória e compreensiva. Mas os Generais argumentavam que não podiam – nem deviam – dar sequer vinte e quatro horas de prazo para quaisquer gestões, pois nelas terminariam embrulhados pelos políticos. E acrescentavam que desta vez não se deixariam mais enredar nas malhas das confabulações infindáveis, nem permitiriam uma contemporização semelhante às de 1945 e 1954, quando, depois de derrubarem o Sr. Getúlio Vargas, acabaram derrotados. O poder civil, representado pelo Congresso, tentou adiar o mais possível a consumação do Ato Institucional. Mas houve um momento em que se receou muito pela sorte da Câmara e do Senado se insistissem em negar esse instrumento exigido pelos Chefes Militares. Em lugar da ruptura, seria então mais conveniente a elaboração de um dominador comum que por um lado resguardasse algumas fatias legalistas e, por outro, proporcionasse às Forças Armadas a base reclamada para a complementação do Processo Revolucionário. Homens com vocação liberal e responsabilidade democrática não se furtaram à tarefa de redigir um anteprojeto de Ato Institucional, em cujo bojo estava contida a instauração de um Estado de Sítio, com a suspensão de várias garantias. O cerco era grande e os próceres parlamentares preferiram barganhar alguns itens, enquanto tinham condições de negociar.

JK Surge Novamente Como um Traço de União Entre Pessedistas e Trabalhistas
A bancada do PSD, dividida entre Castello Branco e Dutra, tem sido o principal centro das articulações políticas. Assim mesmo, concordaram em sugerir as seguintes providências:
1. Cassação do registro de Partidos que contém elementos comunistas em suas fileiras e cassação de mandatos parlamentares;
2. Cassação de direitos políticos de líderes sindicais, políticos e universitários
3. Suspensão das garantias constitucionais em determinados momentos e regiões.
4. Expurgo na Magistratura, nas Forças Armadas e no Serviço Público.
O texto foi remetido pelos líderes políticos, através do General André Fernandes, aos Chefes Militares, que concordaram em limitar a esses itens suas exigências para a “Operação Limpeza”. Enquanto isto, o Congresso era convocado para tomar conhecimento do texto. Alguns Generais, porém, comunicaram aos líderes parlamentares que não haviam participado das démarches que visavam a levar o Congresso a aprovar aquele projeto. O principal – e talvez indispensável – item das exigências militares era o relacionado à cassação dos mandatos. O Alto Comando do Exército chegaria ao ponto de transigir em todas as demais exigências, menos na relativa ao expurgo no Parlamento. Os três Ministros Militares alegavam estar com a sua pele no fogo e, portanto, não podiam permitir que dentro de algumas semanas alguns Deputados estivessem nas ruas para novas agitações, cobertos de imunidades. A um Deputado que pretendeu mostrar a violência da cassação respondeu um General:
O senhor está com esses escrúpulos todos em cassar uns poucos mandatos, mas não reagiu quando um colega seu, na presença do Presidente da República e do Ministério, pediu no comício do dia 13 a cassação não de um ou outro mandato, mas de todos, porque exigia o fechamento do Congresso. E o povo lhe respondia: “Fecha!” Se o senhor quiser, poderei mostrar-lhe a gravação do comício.
Esse General explicou também que estava na obrigação de assumir a liderança e a responsabilidade dessas exigências, pois do contrário não conseguiria conter a impaciência dos seus comandados, sobretudo Majores e Coronéis, ávidos e irrequietos por medidas imediatas. E explicou ainda:
Por duas vezes o Congresso já declarou vago o posto de Presidente da República: na renúncia do Sr. Jânio Quadros e na saída do Sr. João Goulart. Poderia muito bem, agora, esclarecer que estão vagos os lugares de vários Deputados.
Com a queda do Sr. João Goulart, seu partido sofreu um duro revés e irá agora, no ostracismo, experimentar as inevitáveis deserções. Restará na provação apenas um núcleo homogêneo e decidido a levar sua oposição até as últimas consequências. Foram igualmente esmagados os dispositivos sindicais que dificilmente poderão ser restaurados nas bases anteriores à Revolução, se isso algum dia for possível, é bem provável que os atuais líderes tenham sido superados. A onda esquerdista, que vinha crescendo como um caudal aparentemente imbatível, terá agora que refluir para nascentes muito modestas. Suas bases estaduais e até municipais estão sendo desmanteladas pela deportação que levou os Governadores Miguel Arrais e Seixas Dória para Fernando de Noronha e por “impeachments” que vêm atingindo Prefeitos. O dispositivo militar vitorioso tinha seus olhos permanentemente voltados para o modelo argentino, executado logo após a queda do peronismo. Os Generais achavam perfeitamente possível transportá-lo para o Brasil, mesmo com algumas adaptações.
A verdade é que dificilmente a liderança civil poderia conseguir mercê de alguma manobra, rachar a frente militar e encaixar alguma cunha entre seus chefes, unidos na defesa da Revolução. Toda essa reviravolta beneficia o Sr. Juscelino Kubitschek, que se vê mais uma vez – menos por vontade sua, mas pela imposição dos fatos novos – como o herdeiro único da aliança entre o PSD e os trabalhistas. Antes, tinha ele de buscar avidamente o poio do PTB e de Jango, que não se mostravam muito interessados em caminhar com sua candidatura. Agora, o ex-Presidente está em condições de esperar que o PTB e Jango se joguem em seus braços, como única tábua e salvação. Em 1955, Juscelino herdou o acervo do suicídio de Vargas. Dez anos depois, poderá herdar o espólio que lhe chega como legado da deposição de Jango. Ainda há quem diga que em política a história não se repete, ainda há quem em política tenha coragem de fazer previsões a longo alcance, quando em apenas quarenta e oito horas tudo pode modificar-se na vida deste País.
Enquanto isto, a candidatura do Governador Carlos Lacerda, que vinha crescendo enormemente em função da sua luta contra Jango e o comunismo, perde esses dois alvos.
O Governador Magalhães Pinto subiu muito na crista dos acontecimentos, na qualidade de um dos grandes líderes civis da Revolução, e já agora vê confirmar-se a sua tese de que a convenção udenista não podia realizar-se tão cedo. Desta maneira, poderá comparecer diante dos convencionais udenistas com novos trunfos nas mãos.
O Governador Ademar de Barros, por seu turno, embora fortalecido e consolidado em seu prestígio político com os episódios, também perdeu as bandeiras do antijanguismo e anticomunismo.

A Vida Secreta do General Castello Branco
General, Herói da FEB, Democrata, Revolucionário, Longe dos Partidos, Realizado, o Cearense Humberto de Alencar Castello Branco (Parente de José de Alencar) Chega ao Ápice de sua Carreira aos 63 Anos
O General Humberto de Alencar Castello Branco tem 63 anos, pois nasceu em fortaleza, a 20 de setembro de 1900. Sua vida militar começou aos 18 anos. Em 1921 foi declarado Aspirante. Levou quarenta anos para subir os degraus da hierarquia, um a um, até se tornar General-de-Exército. Humberto de Alencar Castello Branco, sem jamais ter manifestado ambições políticas, sem estar vinculado a qualquer Partido, sem ter sido Ministro de Estado ou candidato a qualquer mandato, chega à crista de uma Revolução, apontado pelos líderes militares e civis como uma grande figura, de reconhecida probidade, eminentemente democrático, culto, bem intencionado, “com as qualidades necessárias e indispensáveis para repor o Brasil no caminho da ordem e da disciplina, sem quebra do progresso e do desenvolvimento”, como diz o manifesto dos Governadores. Discreto, por temperamento, o General Castello Branco não fez o menor esforço para aglutinar as forças que o apoiam. Para entrevistá-lo, tivemos que vencer seu constrangimento. Suas primeiras palavras foram para testemunhar confiança nas instituições democráticas. Suas ideias são conhecidas de todos, principalmente nos meios militares:
Estão nos meus trabalhos, inclusive no que se intitula "O Dever Militar em Face da Luta Ideológica", que publiquei no “Mensário de Cultura Militar”, do Estado-Maior do Exército, quando era Diretor-Geral do Ensino. Ai já fazia um confronto entre democracia e totalitarismo, mostrando tratar-se de sistemas incompatíveis. A democracia, reconhecendo dignidade no homem, atribui-lhe liberdades fundamentais, confere-lhe igualdade de direitos e promove a retribuição de acordo com o esforço de cada um.

No Colégio Militar o Aspirante Castello Branco já Lutava Pela Democracia e Pela Vitória da Legalidade
Vê nele, antes de tudo, os três direitos essenciais, próprios da sua natureza e que tem mesmo a força de um instinto: a sobrevivência pelo sustento, a procriação e a propriedade onde possa pelo menos habitar. Já o totalitarismo, negligenciando a dignidade humana, faz o Estado absorver o homem, inclusive na sua liberdade de pensamento, de religião e de empreendimento. Supõe dar-lhe igualdade, como dependente exclusivo de sua máquina e de suas necessidades. A democracia procura a valorização do homem através de um regime de opinião e de representação, enquanto o totalitarismo totaliza a supressão dos direitos fundamentais com a permanência de um Governo Ditatorial e do Partido Único, reforçado pela eliminação de opositores.
Esse trabalho do General Castello Branco teve grande repercussão nos meios militares, porque demonstrava que não podia haver duas lealdades: um Oficial permanece nas fileiras para cumprir o comando dos seus chefes e não para executar as missões de um Partido. Recomendava então que se fizesse desde logo um trabalho de persuasão junto aos que poderiam ser recuperados. Quanto aos outros, àqueles em que falavam mais forte que tudo as convicções políticas, não restava outro caminho senão abandonar, finalmente, as Forças Armadas. E advertia:
O dever militar principal da hora presente está nas mãos dos seus Chefes mais graduados. Revigorar o espírito militar, desenvolver a instrução da tropa dos quadros, agir com responsabilidade e autoridade, esclarecer quanto à luta ideológica, eis o caminho seguro para o restabelecimento da coesão das Forças Armadas. A inação, por omissão ou ausência, deixa o militar completamente desclassificado. O medo de uma atitude, de uma definição, é um opróbrio para o Soldado. Além disso, o comando encontra nas forças do espírito substância para a sua ação, e não negligenciando uma indeclinável base intelectual, dá ainda à sua autoridade um nível superior de influência profissional.
Pronunciamento ainda mais importante foi o que o General Castello Branco fez como chefe do Estado-Maior do Exército, na Escola de Alto Comando e Estado-Maior, dando a aula inaugural com o título: “Destinação Constitucional e Finalidades do Exército”. Alguns trechos, selecionados pelo autor:
As instituições políticas do Brasil, não sendo totalitárias, nem se caracterizando pelo tipo em que o mais alto Governante Civil se confunde com o mais Alto Escalão Militar, têm, em todos os seus níveis, a fundamental característica de democráticas. O poder nacional, formado pelos poderes político, econômico, psicossocial e militar, não pode ser dominado por nenhum destes pelos particularismos e interesses de um deles, ou pela tutela ou exploração de um sobre os outros. A soberania, assim constituída, além de promover e defender a democracia, é de cunho eminentemente político e civil. As Forças Armadas, expressão máxima do poder militar, se interpenetram com os outros poderes constitutivos do Poder Nacional, são um instrumento político daquela soberania, externa e interna, e, por isso, obedientes ao poder máximo que a encarna.
A Lei Está Acima do Chefe do Governo, que Deve ser o seu Executor. Um Oficial Está no Exército Para Cumprir o Comando dos Seus Chefes e não Para Executar as Missões de um Partido.
De todos os comandantes a quem serviu o General Castello Branco guarda palavras de elogio. Tem todos os cursos do Exército Brasileiro e cursos na França (onde recebeu a legião de Honra) e nos Estados Unidos (por quem foi condecorado). Ultimamente estava no Estado Maior do Exército.
A Constituição Brasileira configura a estrutura das Instituições Militares como, de maneira indeclinável, dependentes e participantes das instituições políticas. Estão subordinadas, não só à sua evolução, como também abrangidas pelas próprias crises institucionais e políticas do Poder Nacional. Tornam-se estáveis quando este se organiza na legalidade e na operosidade, e se ressentem e se perturbam quando os detentores das instituições políticas manejam a Nação sem autoridade e sem discernimento. A própria História do Brasil é que demonstra esta asserção. A conduta das Forças Armadas decorre, antes de tudo, da destinação que a Constituição Brasileira lhes atribui. É ela a própria definição das Forças Armadas. Envolve a existência das Instituições Militares e também de seus servidores. Atualmente, é a base democrática da ideologia dos militares. Está vinculada à evolução política do País. Enquanto em algumas Nações o Poder Militar é institucionalmente adaptado a um Partido único ou ao poder pessoal de um governante discricionário, a nossa Constituição manda que as Forças Armadas garantam um regime cuja autodeterminação, externa e interna, se legitime na representação popular e na pluralidade dos partidos.
O General conclui sua aula afirmando que:
Essas Forças têm uma natureza eminentemente nacional, de caráter permanente, assentando-se na hierarquia e na disciplina, integradas umas com as outras.
E por fim:
A lei está acima do Chefe do Governo, o seu executor.
O General sempre negou que as Forças Armadas, pelos preceitos constitucionais, ainda estivessem (como estavam, sob a Carta de 1937) submetidas ao poder pessoal, arbitrário, caudilhesco, ao dever encarnado num homem só.
No Exército Nacional, a Atuação do General Humberto de Alencar Castello Branco não tem Sido Apenas a de um Oficial Combatente, mas Sobretudo a de um Educador e Professor de Civismo
Sobre a nova mentalidade e a nova destinação das Forças Armadas, diz o General Castello Branco:
A mentalidade não só deve excluir o reacionarismo e uma nociva influência retardatária, mas também o uso indevido e simuladamente legal da relevância do seu histórico papel político e militar. Uma mentalidade robusta e atuante é ânimo para se tomar atitude e posição, para se cumprir o dever militar. Impõe respeito, consegue confiança e ganha prestígio em todos os escalões de comando e de execução. E permite Forças Armadas eficientemente adestradas e coesas, para as garantias que cabe promover, pela contenção ou repressão, dentro dos limites da lei.
O General Castello Branco é parente, pelo lado materno, do romancista José de Alencar, do Senador Martiniano de Alencar e da escritora Raquel de Queiroz. Seu pai era um velho militar, o General Cândido Borges Castello Branco. Estudou no Colégio Militar do Rio Grande do Sul, na mesma turma que o General Amauri Kruel. Pouco depois de sair da Escola Militar (onde foi colega do Marechal Juarez Távora), casou-se com uma mineira, D. Argentina Viana Castello Branco, que morreu no ano passado. Tem dois filhos: a Srª Antonieta Castello Branco Diniz, casada com o economista Salvador Nogueira Diniz, e o Capitão-de-Fragata Paulo Viana Castello Branco.
Quando o Brasil entrou na 2ª Grande Guerra, o General Castello Branco era Ten Cel e foi escolhido para integrar a oficialidade da Força Expedicionária Brasileira. Foi um dos seus heróis, sendo logo promovido a Cel por merecimento. Recebeu na Itália as mais altas condecorações militares. Além de ser reconhecido como oficial combatente de grande coragem e capacidade de liderança, o General Castello Branco é considerado como uma das figuras de maior projeção intelectual do Exército. Alguns dos seus trabalhos publicados: “O Alto Comando da Tríplice Aliança na Guerra Contra o Paraguai”, “Tendência do Emprego das Forças Terrestres nas Guerras Futuras”, “Os Meios Militares e o Problema Moral da Nação”, “Aspectos Geopolíticos do Brasil”, “A Guerra”, “O Poder Nacional”, “Nacionalismo e a Segurança Nacional”. Além de ter feito todos os cursos do Exército Nacional, fez também os da Escola Superior de Guerra da França (onde recebeu a Legião de Honra), e o “Command and General Statf” dos Estados Unidos. No Exército exerceu os mais importantes comandos e comissões, além de missões no exterior. O General Castello Branco é um homem realizado, calmo, sensível. Gosta de bom teatro, nunca perde as temporadas francesas de comédia e as temporadas de “ballet”. Gosta de música clássica e de câmara, e de boa leitura, na tranquilidade do lar.

A Prisão de Arrais em Pernambuco
A entrevista do General Justino Alves Bastos, publicada em outro local desta edição, expõe de maneira ampla o que se passou não só em Recife, mas em todo o Nordeste. A situação foi dominada de forma tão completa pelas Forças do IV Exército que nenhuma reação se esboçou. Já com a polícia de Pernambuco sob o comando de um Oficial do Exército e sem nenhuma capacidade de reação, o Sr. Miguel Arrais se obstinou em não renunciar. Foi por isso preso pelos Coronéis Castilho e Ivã Rui, sendo o Palácio das Princesas ocupado militarmente. Enquanto a Assembleia Legislativa decretava o impedimento do governador e o vice-governador Paulo Guerra assumia o governo, o Sr. Miguel Arrais era mandado, preso, para Fernando Noronha.
Este Homem era um dos Chefes Comunistas do Nordeste
Sentado no chão, entre as forças que o prenderam, aparece o ex-sargento e ex-deputado (1946), Gregório Bezerra, um dos mais velhos militantes comunistas do Nordeste. Participou do movimento comunista que, em 1935, abalou Recife e Natal. Agora, foi preso pelo Capitão Morais Rego, da PM de Pernambuco, quando pretendia levantar camponeses em Palmares. Reagiu, sendo todavia rapidamente dominado. Correu a notícia de sua morte, que esta foto desmente.
O Ministério Mazzilli
O Presidente Ranieri Mazzilli, ao assumir o poder, absteve-se de nomear Ministros de Estado para cada uma das pastas. Preferiu escolher os titulares de algumas, incumbindo vários deles de responderem pelas demais. Assim, o diplomata Vasco Leitão da Cunha, ex-embaixador do Brasil em Havana e em Moscou, foi nomeado Ministro das Relações Exteriores e, interinamente, da Saúde Pública. O Professor Luís Antônio da Gama e Silva, Reitor da Universidade de São Paulo, foi nomeado para exercer cumulativamente as pastas do Interior e Justiça e da Educação e Cultura. O Dr. Otávio Gouveia de Bulhões foi nomeado para as pastas da Fazenda e da Indústria e Comércio. O Sr. Arnaldo Sussekind, antigo funcionário do Ministério do Trabalho, onde granjeou reputação como técnico e como homem de bem, foi nomeado para a pasta do Trabalho, respondendo também pela da Agricultura. O General Arthur da Costa e Silva, um dos chefes do Movimento Vitorioso, passou a ocupar a pasta da Guerra. Para o cargo de Ministro da Marinha, o Sr. Mazzilli nomeou o Almirante Augusto Rademaker Grunewald. E, finalmente, para a pasta da Aeronáutica foi nomeado o Brigadeiro-do-Ar Francisco de Assis Correia de Mello, que a exercera no ano de 1957 a contento de seus colegas e é um grande entendido de aeronáutica.
Uma das Consequências Imediatas da Política de Contenção Financeira Anunciada Pelo Ministro Otávio Gouveia de Bulhões foi a Baixa da Cotação do Dólar no Mercado Manual e o Considerável Aumento das Vendas de Títulos das Empresas Nacionais, da Bolsa de Valores do Rio
O novo Ministro da Fazenda, Sr. Otávio Gouveia de Bulhões, é uma autoridade financeira de larga experiência nacional e internacional, tendo elaborado leis da SUMOC ([2]). O Sr. Arnaldo Valter Blank, funcionário e várias vezes diretor de Carteiras do Banco do Brasil, é atual Presidente do estabelecimento. O Dr. Arnaldo Sussekind reuniu os técnicos do Ministério do Trabalho, com única preocupação: colocá-lo a serviço dos interesses dos trabalhadores.

Ademar de Barros Fala à Manchete com Exclusividade, Depois de Qualificar de “Brabo e Difícil” o Nosso Questionário
# Eu Desembainhei a Espada Missionária #
Afirmando que os Decretos Atentatórios à Constituição Terão que ser Revogados. O Governador Ademar de Barros Respondeu ao Questionário de Manchete que Qualificou de “Brabo e Difícil”, Entre Tantos Comentários de Maior Interesse Nacional Declarou que Somente Deseja ser Presidente da República Pela Vontade Soberana do Povo e que foi Quem Primeiro Preconizou, no Brasil, a Necessidade Imediata das Reformas
— Manchete: Quais as consequências para o Brasil do movimento antijango?
— Ademar de Barros: O movimento não foi feito contra ninguém. Não foi orientado contra este ou aquele, mas a favor do Brasil. Não visou a homens em si. Porém visou a ideias. O seu caráter foi aquele da nossa campanha em 1962 para o Governo do Estado e também para as eleições Municipais em 1963: caráter ideológico, luta anticomunista. A grande conquista obtida nessa primeira fase da luta, é a da libertação nacional do jugo bolchevista. Estatísticas que fizemos nos últimos tempos revelam que o Partido Comunista cresceu exageradamente. Através dos esforços de 2.400 a 2.500 agentes vindos da China continental, da Rússia, de Cuba e de toda a América Latina, a massa comunizada ampliou-se enormemente. Mas a Bandeira Brasileira continuará a ser Auriverde e a Cruz não será substituída pela foice e o martelo. O Império da lei e o princípio da autoridade foram restaurados, para que não aconteça mais aquele episódio doloroso com a Marinha de Guerra humilhada e espezinhada por um esquema que nós, informados anteriormente, avisamos ao próprio Almirante Silvio Mota. O Sindicato dos Metalúrgicos devia ter sido ocupado pelas Forças da Marinha, dentro de lei. Os fuzileiros, adredemente escolhidos, para lá se dirigiram e, chegando, aderiram ao movimento: depuseram as armas no chão e entraram no Sindicato dos Metalúrgicos. Quer dizer: tipo da desordem organizada, tipo da infração acintosa ao princípio da hierarquia ao princípio da disciplina, sem as quais pelo próprio texto da Constituição não existem Forças Armadas. Por isso nosso movimento foi um movimento restaurador. Ele procurou restabelecer os princípios cardeais da política espiritual e ainda não terminou a sua tarefa
— Manchete: Serão anulados os decretos do ex-presidente João Goulart, como o da SUPRA, por exemplo?
— Ademar de Barros: Sim. Essa afirmativa á apenas de um líder autêntico, que luta com fé e sem esmorecimentos. Nós não visamos cargos, nenhum de nós, Governadores; como nenhum do nós, os líderes militares que participaram dessa luta não procuraram, sequer, numa única reunião, qualquer cargo ou partilha de cargos. Esses decretos atentatórios à Constituição já foram revogados e estão sendo revogados. Apenas persiste aquele que diz respeito aos aluguéis. A SUPRA é manifestamente ilegal. Fere frontalmente a Carta Magna. Mantê-lo seria tolerar flagrante ilegalidade. Legislou-se à revelia do Congresso que é o poder competente. Elaboraram-se atos sem qualquer conteúdo jurídico, violadores dos direitos básicos da democracia. Essas aberrações jurídicas deverão ser extirpadas. As assertivas que ora reitero, sempre as fiz quando o ex-presidente ainda se encontrava no poder. Cansei-me de informá-lo do rumo dos acontecimentos, da onda de revolta que se avolumava contra o seu processo de dissolver as Forças Armadas, dissolver as Forças Políticas, bases da Democracia. Tais advertências, eu as fiz ao ex-presidente João Goulart como democrata sincero, como Governador de quatorze milhões de brasileiros. Falei-lhe com a autoridade moral de líder do movimento de Ressurreição Nacional. Não falo pelo que não sou. No domingo de Páscoa, no meu retiro espiritual no Convento do Seminário do Verbo Divino, tive ocasião de pedir a cento e tantos Padres que aquela missa da Ressureição fosse também a da Ressurreição Nacional. Horas depois, éramos como que apossados pelo Espírito Santo, pela luzes divinas. E partimos para a luta, fossem quais fossem as consequências. O resultado é o que ai está.
— Manchete: O Sr. Adernar de Ramos foi um dos Governadores que participaram, no Rio, dos entendimentos que conduziram à escolha do nome de uma grande figura militar – o General Humberto de Alencar Castello Branco – para exercer a Presidência da República nos próximos dezoito meses. Declarou-nos, ele que nenhum das Governadores pensara em impor-se, na conjuntura, aos sufrágios do Congresso.
— Ademar de Barros: Não era o momento para se cogitar de nossas candidaturas, nem de questões político-eleitorais. Era a hora dos supremos sacrifícios pela Pátria. Quanto a mim, só quero um Brasil melhor, mais justo e mais humano, um Brasil em que a República seja a mãe comum, e não uma madrasta, como tem sido. Queremos um Brasil humanizado. Para isso desembainhei a Espada Missionária de São Paulo. Permanecerei candidato à presidência da República, mas só desejo sê-lo pela vontade soberana do povo, através de eleição direta.
— Manchete: Depois de uma pausa, ao aludirmos ao atentado, a bomba, contra a sede do PSP, em São Paulo, o Governador Ademar de Barros pergunta:
— Ademar de Barros: Onde está a esquerda? Em que submundo ela se esconde? O Brasil repudia os dois extremos: a direita e a esquerda. Por essa razão, eu sempre disse: não olhem para trás, não olhem para a esquerda nem para a direita. Olhem para a frente e para o alto. O Brasil é centro autêntico, legitimo. Só temo a Deus. O dispositivo militar continua instalado, alerta e vigilante. Nós não demos ordem ainda para ensarilhar as nossas armas. Tudo deve permanecer alerta na defesa da Pátria, na defesa da democracia, da liberdade e da família. Quaisquer atos de terrorismo seriam pronta e implacavelmente esmagados. Mas não creio nas bravatas dos que fugiram das gloriosas mulheres mineiras e paulistas, como o diabo foge da Cruz. São Paulo não tem problema. Tenho bisturi e cautério para a rigorosa profilaxia.
— Manchete: Influirá V. Exª na formação do futuro Ministério?
— Ademar de Barros: Certamente. Devemos influir, sem dúvida alguma. Devo dizer que um dos nossos magníficos companheiros de ideal e de luta foi escolhido como Ministro da Educação e da Justiça. É o Professor Gama e Silva, Reitor da Universidade de São Paulo. Mas a tarefa é muito grande, sobretudo no Ministério da Educação, onde há necessidade de um profundo expurgo e existem organismos que precisam ser extirpados. Resumindo: São Paulo não lutou por cargos nem posições. São Paulo exige firmemente, entretanto, que os inimigos do regime sejam alijados de todas as posições de mando, que a máquina bolchevista seja desmontada, que o Partido Comunista vá funcionar na Rússia ou nos países escravos de Moscou: aqui, não. Aos comunistas que queiram ir para a Rússia, nós forneceremos as passagens de ida. Quero que eles gritem na Rússia por democracia para que vejam o que é bom. São Paulo exige o respeito integral à Constituição. Nada mais, nada menos.
— Manchete: Que acha da exigência do Clube Militar para que o novo Presidente seja um militar?
— Ademar de Barros: Não vejo por que razão tanto o Clube Militar como o Clube Naval não possam assim manifestar-se. Nós somos irmãos. O que eu posso afirmar, no entanto, é que o Exército Brasileiro é o mais democrata, é o mais legalista do mundo. Sua luta é sempre pela Pátria, pelas conquistas de grandes ideais. Jamais procurou vantagens. Sua vocação constitucionalista é acendrada. A História nos demonstra: o Exército jamais disputou posições políticas por meios coercitivos. Os militares que exerceram o poder o fizeram pelo processo eletivo, cumprindo mandato popular. Se o Congresso, em sua soberania, eleger um membro das Forças Armadas, essa decisão merecerá todo o meu respeito e aplauso.
— Manchete: Acha possível a realização de Reformas de Base, antes mesmo das eleições de 65?
— Ademar de Barros: Continuaremos a lutar pelas Reformas de Base. Quem primeiro preconizou a necessidade de Reformas de Base neste País fui eu. Já em 1939. Em fevereiro de 1951, entreguei ao ex-Presidente Getúlio Vargas volumoso processo abrangendo todas as Reformas de Base. Basta compulsar os anais políticos. Queremos as Reformas, mas com uma soleníssima ressalva. Reformas, sim, porém todas por via democrática, sob a égide da Constituição. Espoliações, nunca.
— Manchete: Porque continua no ar a “Rede da Liberdade”, se tudo está calmo?
— Ademar de Barros: Aparentemente calmo. A rede, formada com a colaboração patriótica dos diretores de rádio e televisão, não se destina a manter a ordem porque a ordem se manteve e se mantém pela participação maciça de todo o povo paulista, de todos os brasileiros de São Paulo na luta pela Redenção Nacional. São Paulo se ergueu unido e coeso, galvanizado pelo ideal da preservação da democracia. Mas nós manteremos o dispositivo até que o Congresso eleja o Presidente definitivo, para o mandato de 18 meses.
— Manchete: Em que caráter V. Exª interveio nas repartições federais sediadas em São Paulo?
— Ademar de Barros: O Governo Estadual decretou a intervenção cumprindo dispositivo constitucional, que lhe determina a manutenção da ordem e da segurança pública em seu território, notadamente a defesa da ordem jurídica e das pessoas e bens sob a sua jurisdição. Na noite de 31 de março, quando partimos para a luta, tivemos necessidade de preservar o patrimônio federal. Então lacramos todas os organismos federais. E, já no dia 1° de abril, começamos a deslacrar e a entregá-los a gente da própria casa, recomendada ou conhecida. O Governo interveio para preservar a regularidade de seus serviços num momento em que o País estava sem Ministério.
— Manchete: Qual o esquema ou entendimentos que tem com o Governador Magalhães Pinto dentro da atual estrutura Político-Militar?
— Ademar de Barros: Estamos na mesma linha ideológica e, juntamente com outros Governadores Democratas, queremos a consolidação dos ideais que nos levaram às armas. O glorioso povo mineiro reafirmou, nesta página histórica, as suas tradições de civismo, o seu profundo espírito cristão e seu ilimitado amor à liberdade.
— Manchete: Quando começou sua participação nesse movimento?
— Ademar de Barros: Há dois anos. Efetivamente há um ano, março e abril do ano passado. Desde que o ex-presidente se cercou de comunistas, entregando-lhes postos-chaves da administração, comecei a luta frontal. Pelo rádio e pela televisão, por todos os meios ao meu alcance, alertei, avisei, adverti. Vi a marcha progressiva e vertiginosa da bolchevização do País. Transformei, então, São Paulo na barricada cristã da democracia. Aumentei os efetivos da gloriosa Força Pública, aumentamos os efetivos da Guarda Civil, da Polícia Marítima e da Ordem Política. Criamos a Polícia Ferroviária, ampliamos a Polícia Rodoviária e ampliamos enormemente a Polícia Florestal, tudo com dois objetivos: um, finalidade precípua, outra, se o pau tivesse de comer...
— Manchete: Quando V. Exª teve certeza da vitória?
— Ademar de Barros: Tive essa certeza antes de começar a luta. Sentimos que Deus estava conosco. Sempre tive fé inabalável na vitória. Sentimos em tudo a presença da padroeira gloriosa do Brasil. Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Joguei tudo que tinha, inclusive o meu cargo. Tinha certeza de que o Brasil jamais seria transformado em senzala, sob o regime da chibata. Nossa vitória é predestinação da História, é vontade onipotente de Deus.
— Manchete: Que São Paulo exige agora?
— Ademar de Barros: Paz e tranquilidade para o povo brasileiro, ordem e pleno respeito à Constituição. Quer o restabelecimento do regime federativo. Acabar com este negócio do Governo Federal passar por cima dos Estados e Municípios, intervir em nossa economia, cortar descontos e redescontos nos bancos, apertar o crâneo dos industriais, transformá-los em escravos, acabar com essa intervenção da União. O que assistimos nos últimos meses do Presidente Goulart foi a coisa mais inominável da História: suborno de prefeitos, compra de vereadores, suborno de deputados, através de favores, através de empréstimos e concessões.
— Manchete: Acha que o Presidente Ranieri Mazzilli na Presidência é São Paulo no Governo?
— Ademar de Barros: Em absoluto, Mazzilli não está na Presidência como paulista. Ele é, apenas, o Presidente da Câmara que assumiu o poder pela corajosa conduta do Senador Auro de Moura Andrade. Mazzilli assumiu apenas para que a Constituição fosse cumprida. Fosse um mineiro, um baiano, um pernambucano ou um paranaense, assumiria da mesma forma.
— Manchete: Que reformas preconiza V. Exª como necessárias ao País?
— Ademar de Barros: Continuamos a pensar na necessidade das reformas. A do caráter é a mais urgente. A reforma do homem, do material humano. O combate imediato ao regime de corrupção, pondo um paradeiro à marcha desenfreada de interesses pessoais e materiais. O resto virá depois, sozinho, a seu tempo e como consequência.
— Manchete: A nossa política externa será alterada?
— Ademar de Barros: Precisa ser alterada. O Brasil precisa reintegrar-se na sua política tradicional, voltar ao mundo livre.
— Manchete: Qual o futuro político de Jango?
— Ademar de Barros: Renan dizia que o passado é tudo. O futuro é a mais angustiosa das interrogações. Porvir, virá ou não. E o presente é a ponta extrema do passado.
— Manchete: Quais são as relações de V. Exª com o General Kruel?
— Ademar de Barros: A de dois velhos amigos, a de dois democratas autênticos, a de dois patriotas que querem soluções brasileiras para problemas brasileiros, soluções verde-amarelas. As de dois amigos sinceros, cujo denominador comum é a Pátria Brasileira.

Porque Iniciei a Revolução
O Governador Magalhães Pinto Lembra as Sucessivas Advertências que fez ao Povo Brasileiro e Revela, em Entrevista Exclusiva, Como Minas se Armou
— Magalhães Pinto: Por diversas razões eu senti que tinha o dever do tomar a iniciativa. Na qualidade de Presidente do Conselho de Governadores, convoquei sucessivas reuniões, nas quais adverti sobre a situação que se estava criando no Brasil, com desprestígio para a federação. Muitas e muitas vazes fui mal interpretado. Pensavam que eu estava cuidando de interesses políticos quando, na realidade, preocupava-me com o problema brasileiro. Procurava, por todos os meios ao meu alcance, colaborar para levar o Brasil até às eleições de 1965, dentro do Regime Legal. Em vão – e isto é do conhecimento público – foram as minhas advertências e sugestões. Pus-me, então, a articular o Movimento Revolucionário. Sabendo que ele teria de partir de Minas Gerais, entendi-me com o Comando da 4ª Região Militar e da ID-4, sob a direção dos bravos Generais Olímpio Mourão Filho e Carlos Luís Guedes, com a Policia Militar e, mais tarde, com a Base Aérea de Belo Horizonte, que obedece ao comando do Coronel Afrânio Aguiar. Estas foram as providências de ordem militar em nosso Estado. Depois, entrei em contato com os Chefes Militares de São Paulo e do Rio de Janeiro. Tomei cuidados para que Minas não ficasse Privada de suprimentos, de armas e de petróleo. Reservadamente, fiz um entendimento com o Governador Francisco Lacerda de Aguiar, do Espírito Santo, para que pudéssemos utilizar o porto de Vitória e a ferrovia Vitória-Minas. Com isso preparávamo-nos para uma longa luta. Segundo vários dos nossos Comandantes militares, estávamos habilitados a manter as fronteiras mineiras fechadas por três meses, no mínimo. Posso agora informar, o Comandante da Polícia Militar de Minas, Coronel José Geraldo, afirmou-me que a sua milícia estava preparada e aguerrida para impedir o ingresso de outras Forças em nosso território.
Jamais duvidei, um minuto sequer, da vitória. Por toda parte, eu procurava ouvir. Procurava indagar de modo a sentir o verdadeiro estado de ânimo de cada localidade, de cada família, de cada pessoa. Conclui que devia tomar a iniciativa, mesmo porque eu havia assumido a responsabilidade de defender o plebiscito, ao ouvir do presidente a queixa de que não poderia governar sem os necessários poderes. Os que me ouviram, na ocasião, devem recordar-se de que jamais falei em devolver poderes. Referia-me sempre a devolver as responsabilidades para com o País. Desta maneira, sobravam-me poderes e autoridade para dele cobrar seus deveres nacionais. No dia 19 de março, anunciei que a pregada Revolução governamental era destituída de caráter pois viria de cima para baixo. Era um Golpe de Estado e com ele eu não concordaria. Meus colaboradores mais íntimos sabiam que se tratava de uma definição e, mais do que isso, de uma tomada de posição mineira com relação ao Governo Federal. Minha advertência, naquela hora, também era dirigida às Forças Armadas, para que viessem cumprir o seu dever; ao Congresso, para que este fosse rápido na legalização das reformas, de modo a privá-las de donos. Na verdade, elas pertencem exclusivamente ao povo brasileiro. Recebi, então, notícias de que o Governo Federal estava disposto a substituir os comandos de Minas Gerais. Conclui que devia deflagrar o movimento, mesmo sentindo que em outros Estados a situação ainda não estava madura. Consultei os Chefes Militares. Decidimos retarda-la. Fiz viagens reservadas, inclusive a Juiz de Fora, onde conferenciei com o grande Cabo-de-Guerra General Denys. Pedi-lhe que examinasse os nossos planos. O General disse que a nossa situação era boa e que ademais, havia a opinião pública a nosso favor.
No sábado, dia 28, combinamos lançar em definitivo o movimento e os Chefes Militares pediram para marcar o “Dia D”. Disse-lhes que era chegado o exato momento. No domingo, o Comandante da Polícia Militar e o General Guedes foram para Juiz de Fora acertar os planos. No mesmo dia, em Belo Horizonte, tomamos as primeiras providências sobre gasolina, transportes e, inclusive, de natureza civil, dentre as quais a promoção da unidade política do Estado. Foi quando trouxemos para o Governo um elemento do PSD, o Deputado José Maria Alkmin. Era uma demonstração pública de que estávamos realmente unidos e prontos para a ação. Na segunda-feira o movimento foi deflagrado. Passei o dia de maneira calma e tranquila, com a serenidade de quem tinha uma missão a cumprir. Naquela mesma noite, quando as nossas tropas já haviam tomado posição, chegou a Belo Horizonte o General Cordeiro de Farias, em nome dos revolucionários de São Paulo, para verificar as nossas reais condições de luta. Expus-lhe a situação, juntamente com o Secretário Monteiro de Castro, após a qual o General Cordeiro abraçou-me em lágrimas, dizendo da emoção que lhe causara a coragem dos mineiros em se lançarem sozinhos àquela batalha. Acrescentou que nada mais tinha a tratar em Minas senão tomar o avião e ir dizer aos paulistas que os mineiros tinham, de fato, dado o exemplo do patriotismo e da abnegação numa causa justa e necessária.
O Governo Federal não acreditava em Minas. Achava, sobretudo, que nos esmagaria em vinte e quatro horas. Recebemos perguntas quanto às nossas intenções. Respondemos que, de fato, pretendíamos derrubar o Governo, que não havia possibilidade de entendimentos. Um amigo indagou-me se a minha obstinação ia ao ponto de eliminar uma advertência inicial. Disse que faria apenas uma: renunciaria ao meu mandato se o presidente da República renunciasse ao seu. Desta maneira poupar-se-ia a luta e, consequentemente, muitas vidas. Mas S. Exª não chegou a tomar conhecimento da minha disposição. O Governo Federal, que parecia tão sólido, ruiu rapidamente. Demonstramos, assim, que um Governo é forte na medida em que conta com o apoio da opinião pública e em que a autoridade do Chefe é resguardada. Oportunamente, espero poder escrever algo sobre este assunto, com a cooperação dos nossos Chefes Militares, para não haver omissões. Na verdade, além do nosso esquema tático, houve a mobilização de Belo Horizonte. Diversas vezes o Serviço Secreto tornou-me ciente de grupos que treinavam nas proximidades da Capital, visando a lutar contra a implantação do Regime Comunista no Brasil. Eram mineiros que estavam no legítimo direito de preparar uma Batalha Final, que seria comandada por mim.
Minas Gerais estava unida. Havia comunhão de pontos de vista de todos os seus homens e mulheres. Em várias oportunidades pude dirigir-me à mulher mineira. Observei suas reações, procurei compreender os seus anseios. Senti que não adiantava governar o povo mineiro sem contar com o sustento da sua opinião. Cumprimos a vocação histórica de Minas Gerais, que é a de marcar a sua presença nos momentos decisivos da Pátria Brasileira. Tenho declarado, em sucessivos pronunciamentos, que continuamos mobilizados. Considero que a vitória das armas, tão rápida e sem sangue, precisa ser consolidada com a vitória dos objetivos que determinaram o nosso movimento. É preciso mudar o dispositivo governamental que estava ameaçando o povo e estabelecer um Novo Governo que atue em benefício da coletividade, Nós fazemos questão de que a Revolução tenha êxito completo. Nós exigimos que os seus ideais sejam realizados Por um Governo autêntico, honesto e competente, que promova as reformas necessárias ao povo brasileiro. Tomei a responsabilidade de indicar o nome do General Castello Branco para Chefiar o novo Governo. Tive com o ilustre militar, nos últimos dias, diversos encontros pessoais e por telefone. Sabíamos que a ele competia a coordenação dos militares revolucionários. Este homem, portanto, tem responsabilidades iguais às nossas para assumir a Presidência da República e realizar os ideais da Revolução. Combatendo a inflação, os vícios que ai estão, os processos implantados no País, o novo Presidente terá que enfrentar forças que mais uma vez se aglutinarão para violentar o Regime Democrático. Mas nós não permitiremos que a liberdade seja ameaçada e por isso Minas continua armada.
Queremos prestigiar o Congresso, que estava sendo coagido, pressionado. Queremos devolver-lhe a dignidade do poder, a independência para deliberar. Sempre combati os extremismos. Todos sabem da minha pregação. O governo federal radicalizou-se de um lado e desmoronou. Precisamos ficar na faixa da democracia, que é a do povo, hoje consciente da sua fama. Não devemos aproveitar a vitória para vinganças pessoais mas devemos punir os que cometeram crimes contra o interesse público. Sou um homem que acredita nas vitórias obtidas através de lutas. Sou produto delas. Vamos estabelecer uma democracia representativa, autêntica, na qual o povo participe cada vez mais da vida pública, e que estabeleça a tranquilidade e a ordem no Brasil.
Carlos Lacerda diz o que Deve vir Após a Revolução – A Reforma do Brasil
Manchete: Na biblioteca do Sr. Carlos Lacerda, há um quadro sem moldura. É uma natureza morta, pintada pelo próprio Governador que, grande colecionador, resolveu agora invadir as artes plásticas. O movimento de 1° de abril impediu o pintor Carlos Lacerda de mandar o quadro para o moldureiro. Mas ele já tem pronta a moldura para um mural político saído de seus surpreendentes pincéis, última cena do presumível tríptico em que já figuravam o suicídio de Vargas e a renúncia de Jânio. É a eleição imediata, pelo Congresso, de um Chefe Militar (de preferência o General Humberto de Alencar Castello Branco) para Presidente da República até 31 de janeiro de 1966, quando o próprio Lacerda espera assumir o poder, com o voto popular. Acha o Governador que a situação do Brasil, após a Revolução que forçou o Sr. João Goulart a deixar o País, não tolera nenhuma pausa. Reclama a organização de um Governo Armado longe das negociações políticas e das pressões espúrias. Com a sua voz solene e enrouquecida, prossegue:
Carlos Lacerda: Ganhamos a Revolução. Agora, precisamos ganhar a vitória. E esta só virá para nós se soubermos ser dignos dela, isto é, se o novo Governo, enérgico e estável, não for construído sobre pilares podres. O Presidente a ser escolhido agora pelo Congresso deve ser urna espécie de ponte entre a Revolução de agora e as Eleições de 66.
Manchete: Embora seja madrugada, sua filha Cristina, de 12 anos, entra na sala finalmente vazia, para pedir-lhe a benção. Depois que a menina sai, o Governador da Guanabara me conta que, a 1° de abril, quando Jango cortou as comunicações telefônicas do Palácio Guanabara, ele ainda conseguiu falar com a sua mulher. Soube então que a “menina” estava à espera de seu telefonema para poder dormir. Naqueles momentos, Lacerda esperava o assalto e o bombardeio e, a crer nas ameaças, o seu inevitável sacrifício pessoal.
Carlos Lacerda: Se eu não estivesse certo de que o Palácio iria ser invadido, e de que a sorte minha e de meus companheiros estava selada, teria ficado em casa.
Manchete: Com os olhos fixados por trás dos óculos num belo quadro de Inimá, o Sr. Carlos Lacerda volta à hora presente. Reclama um Governo apartidário, que organize um Ministério de alto nível para administrar, governar e reorganizar o País.
Carlos Lacerda: Desde a posse do Sr. João Goulart que a administração pública parou. Está tudo no caos. No plano administrativo, o primeiro dever desse novo Governo será restaurar a ordem, principalmente no plano econômico-financeiro.
Manchete: Candidato mais do que nunca à Presidência da República, nas eleições de 1965 e cada vez mais convicto de sua vitória, acha que lhe cabe, no processo histórico brasileiro, não só ser o Presidente das reformas como ainda conceituá-las através de sua própria implantação, livrando-as dos equívocos e contrafações. Recusa-se a dar um cunho reformista ao governo do Sr. João Goulart, em sua opinião possuidor de todos os defeitos de um pendor caudilhesco e de todos os vícios de uma formação totalitária, o que explicaria a sua inesperada queda, como que no vácuo, diante da paralisação e estarrecimento das minorias passionais que o apoiavam. Enquanto fala, o Sr. Carlos Lacerda vai até a varanda. Escuridão e nevoeiro envolvem o Mar e Montanhas. Na praia do Flamengo, brilha, ao longo uma luz pequenina. Fiel a uma imagem obsessiva, o Governador da Guanabara olha-a por alguns instantes, aponta-a e me diz:
Carlos Lacerda: A democracia é como aquela luz pequenina. Devemos protegê-la sempre, a ela que é guia, calor e sinal. O totalitarismo apaga a luz que ilumina o caminho dos homens, cega os olhos do povo, que deixa de enxergar, de ver, de guiar-se, de sentir-se aquecido, de andar por si mesmo.
Manchete: Voltamos à sala. O Governador mira o buquê de rosas vermelhas à sua frente, na mesa do centro. Não lhes aspira o perfume. Apenas as contempla: coisas belas. “Uma rosa é uma rosa é uma rosa...” ([3])
Carlos Lacerda: Uma Revolução é uma Revolução. E esta agora foi uma Revolução, da qual participaram, plenamente conscientes de seus deveres e unidos em defesa da democracia, as Forças Armadas, o Povo, e os Governantes responsáveis. Por isso, ela tem de ser contemplada. Do contrário, seria uma Revolução frustrada.
Manchete: O Sr. Carlos Lacerda sintetiza, em alguns itens, o que a seu ver pode e deve ser iniciado desde agora:
1. Modificação da política externa brasileira. Acha que nela não há nenhum caráter de irreversibilidade e que irreversíveis são os que assim a julgam, pois nunca o Brasil se colocou em posição de tanta dependência como agora, em relação a Cuba e à União Soviética. Nessa mudança, deve o Governo reformular inteiramente a nossa conduta em relação a Portugal, e passar a apoiá-lo, com energia e clareza, nas assembleias internacionais. No tocante às relações com a URSS e países da Cortina de Ferro (para o Governador Lacerda, “socialistas” são apenas os Países da Escandinávia), o tratamento deve ser na base da reciprocidade: igual número de funcionários diplomáticos e consulares e igual área de locomoção.
2. Descomunização da vida política e pública do País, com a cassação dos mandatos dos governantes e parlamentares notória e provadamente comunistas, e o afastamento dos servidores públicos, civis ou militares, que exerceram atividades subversivas. Não deve haver um expurgo indiscriminado, e sim o afastamento e o isolamento dos que, pela sua ação ou atuação, se revelaram incompatíveis com a ordem democrática. A prisão dos elementos subversivos deve ser baseada em sua periculosidade. “Ninguém deve ser preso apenas por ser comunista e sim, porque, sendo comunista, praticou atos subversivos”. Não há nenhuma guerra santa contra o comunismo. Os comunistas são uma minoria, e como tal devem ser tratados. Quanto aos espiões e agitadores vindos de Cuba, China, Rússia e outros países comunistas, devem ser processados e depois expulsos.
3. Extinção imediata da SUPRA. Negando ao governo do Sr. João Goulart a qualidade de reformista, Lacerda sustenta que a sua deposição possibilita a implantação das reformas de estrutura ansiadas pelo povo. No setor agrário, a primeira medida deverá ser a transformação do Ministério da Agricultura em órgão atuante, poderoso, eficaz e atualizado tecnologicamente, para executar uma nova política agrária, primeiro passo para a divisão de terras que, sozinha, não resolveria o problema do homem do campo.
4. Redemocratização do Ministério da Educação e das cúpulas estudantis, com incentivo às lideranças democráticas no plano universitário. Diz Lacerda que a quase totalidade dos estudantes brasileiros são democratas convictos, anticomunistas, que se preparam para dirigir o Brasil de amanhã.
5. Punição dos que, no governo Jango, realizaram negócios ilícitos e enriqueceram à custa dos dinheiros públicos.
6. Implantação da pluralidade sindical, com a eleição das diretorias dos sindicatos nos locais de trabalho, e o seu reconhecimento pela justiça trabalhista. “O pelego é o líder por decreto, e precisamos de verdadeiros líderes sindicais, que venham de baixo para cima e não de cima para baixo”.
7. Revogação do decreto de tabelamento de aluguéis, a seu ver inconstitucional e prejudicial à indústria de construção civil, um dos maiores mercados de trabalho das grandes cidades. Antepõe a essa medida, a seu ver demagógica, a instituição de uma política habitacional que assegure casas aos trabalhadores.
Manifestando-se favorável à concessão de asilo político ao Sr. João Goulart, acrescentou que uma eventual extradição deverá processar-se de acordo com a lei:
Carlos Lacerda: O movimento que derrubou o Sr. João Goulart foi uma Revolução e não um simples Golpe de Estado, que se consuma com o afastamento do governante e seus auxiliares mais chegados. Por isso, deve ser encarado como uma Revolução, o que reclama completa mudança de processos e métodos de ação pública. Não foi um movimento fascista nem da direita, como apregoam os inimigos da democracia, e sim um movimento democrático e anticomunista, porque esta era é a vontade da Nação. Atrás desta Revolução deve haver, para justificá-la e completá-la, uma coisa que se chama a reforma do Brasil.

O Vencedor do Nordeste
O General Justino Alves Bastos, Numa Entrevista Exclusiva à Manchete, Explica o Papel Desempenhado Pelo IV Exército em Nove Estados do Brasil
O General Justino Alves Bastos começou sua entrevista fazendo referência a uma nota do Ministro da Guerra, General Arthur da Costa e Silva, que afirma ter sido possível a vitória das forças revoltosas devido à perfeita cooperação existente no seio do Exército:
General Justino: Isto é a pura verdade. No IV Exército, por exemplo, o entrosamento entre todas as Forças foi perfeito, apesar de ser vasta a área sob a nossa responsabilidade. As nossas tropas, dado o sinal de ação, ocuparam os pontos predeterminados dentro dos planos e prazos estipulados, o mesmo acontecendo com as ordens de mudança de pontos chaves, executadas com precisão. As forças do IV Exército desempenharam todas essas tarefas com admirável eficiência não apenas no longo litoral nordestino, como ainda no interior de nove Estados. O êxito do movimento decorreu, também, do apoio das populações civis e dos Governos Estaduais Democráticos. A propaganda comunista criou fantasmas por toda a extensão do Nordeste Brasileiro. Nas cidades dizia-se que eram inevitáveis os levantes das populações trabalhadoras, enquanto no interior afirmava-se ser iminente a revolta das massas camponesas, lideradas pelos lugar-tenentes de Arrais e Julião, além daqueles que vieram de Cuba para isto.
Manchete: O Gen Justino Alves sorriu e continuou:
General Justino: A realidade, Porém, não veio confirmar esses prognósticos. Em parte porque tais contingente não existiam, e noutra porque as tropas do IV Exército não tardaram a ocupar os portos em que poderiam ocorrer tais levantes, ou aqueles por onde teriam que passar os que fossem formar os anunciados grupos de guerrilheiros. De resto, as tropas do IV Exército também poderiam adotar a forma de operações de guerrilhas, e neste caso teriam curta duração as anunciadas legiões de Julião.
Manchete: Quando o IV Exército entrou em ação, General?
General Justino: O IV Exército entrou em ação seguindo as arrancadas dos mineiros e dos paulistas, embora estivesse de rigorosa prontidão desde muito antes e em contato permanente com as unidades do Sul do País. E devo dizer que o IV Exército entrou em ação certo de sua força e de sua capacidade de assegurar o domínio da lei e garantir a tranquilidade de todas aquelas populações. Três grandes tarefas se impunham aos Comandos e as tropas do IV Exército, dadas as peculiaridades da vida nordestina. A primeira delas seria a manutenção da ordem numa área tão vasta. A segunda seria o afastamento dos governos que já sabíamos incompatíveis com os ideais democráticos, ou sejam os de Pernambuco e Sergipe. E finalmente, depois de tudo isto feito, estariam as tropas do IV Exército prontas para deslocar-se em direção ao Sul do País, em auxilio às de Minas e São Paulo, se tal fosse necessário.
Manchete: Como seu deu o afastamento daqueles governadores?
General Justino: A deposição dos governadores não poderia ser considerada operação inteiramente fácil, seja em virtude de já terem eles algumas raízes na alma popular, seja porque deveriam ter sabido preparar a sua defesa. Isto o que se poderia pensar. Mas, os fatos subsequentes, inclusive a deposição dos citados governadores, não determinaram nenhuma repercussão no seio do povo. Em Pernambuco, a Polícia Militar poderia ter criado alguma dificuldade, se não fosse profundamente democrática e inclinada a ligar o seu destino ao das Forças Federais. Até àquele episódio, os soldados da PM ficaram ligados ao governador, mas, com a decisão dos nossos, a Policia Militar aderiu ao IV Exército, aceitando receber um Comandante por ele designado, que a levaria a bater-se ao nosso lado, se necessário. Assim, tão logo o Exército decidiu depor Arrais, ficou o mesmo indefeso. E isto é fácil de entender: como governador, Miguel Arrais atuava no sentido do marginalizar a sua Policia Militar, porque a impedia de intervir em acontecimentos que exigiam a sua participação, como por exemplo os comícios políticos.
Manchete: E o “Dia D”?
General Justino: A data de 31 de março foi o “Dia D” do movimento legalista das Forças Armadas do Brasil. Foi naquele dia que tivemos notícia de que, das Alterosas, os Soldados mineiros desciam em direção às baixadas do Estado do Rio e da Guanabara. No dia seguinte, 1° de abril, já tínhamos notícia pela manhã, de que se havia registrado o início da arrancada paulista. Esse movimento foi imediatamente seguido da mobilização das tropas do IV Exército, através de uma proclamação de seu Comandante.
Manchete: O “Dia D” tinha sido determinado há muito tempo?
General Justino: Não. Sabia-se, apenas, que ele não poderia tardar muito. É curioso notar que, embora tivéssemos efetivamente combinado uma senha para a deflagração do movimento (A Criança Vai Nascer), os primeiros sinais denunciadores da proximidade da Revolução foram dados pelos próprios integrantes do governo: primeiro, o comício do dia 13; segundo, o motim dos marinheiros; e terceiro, a reunião dos sargentos no Automóvel Clube, com a presença do Sr. João Goulart. Depois deste último episódio ninguém teve mais dúvida.
Manchete: Foi marcado o dia 1° de abril?
General Justino: Não. A notícia que tínhamos do Sul era que o movimento deveria eclodir naquela semana, nunca antes de quarta-feira. Já na segunda, recebia a visita de um mensageiro, com a informação de que deveríamos observar o desenrolar dos acontecimentos na seguinte ordem: primeiro, Minas; segundo, São Paulo; e terceiro, o Nordeste.
Manchete: Quer dizer, então, que o movimento foi antecipado mesmo?
General Justino: Sim, mas antecipado pelo General Mourão Filho, que foi estimulado pelo Marechal Odílio Denis, que se encontrava em Minas. Momentos antes, o presidente da República me chamara ao telefone interestadual, travando-se então o seguinte diálogo:
Goulart: A situação está perfeitamente controlada no centro, General. O governo dispõe de todas as tropas do II Exército, comandadas por um grande amigo meu, e do I Exército, que é o maior e mais bem equipado. O III Exército também está conosco, no Sul. Qual a posição do IV Exército?
General Justino: O IV Exército está bem, de rigorosa prontidão, presidente.
Manchete: O General Justino Alves, depois de uma pequena pausa, observou:
General Justino: Como eu notei que ele não estava dizendo a verdade, suponho que o presidente também notou o mesmo. Esta conversa ocorreu às duas horas da manhã de terça para quarta-feira, ou seja de 31 para 1°. Com o raiar deste dia, inteiramente a par dos acontecimentos no Sul, começamos a agir. As operações tiveram lugar em três tempos:
a) Encampação da Polícia Militar do Estado, mediante a nomeação de um Comandante do IV Exército;
b) Primeiro e segundo ultimatos ao Governador Miguel Arrais; e
c) Deposição e prisão do mesmo.
O primeiro ultimato fora levado ao governador pelo Almirante Dias Fernandes, comandante do III Distrito Naval, que decidira dar ao movimento a sua cooperação, traumatizado que estava com os acontecimentos que atingiram sua admirável classe. O Almirante Dias Fernandes se apresentara diante do governador ladeado por dois Comandantes das tropas que haviam sido dispostas em frente ao Palácio das Princesas: o glorioso 14° RI, Comandado pelo Cel Castilho Dutra, e o 1° Grupo do 7° RO, Comandado pelo Ten Cel Ivã Reis. Além destas tropas, lá estavam também o 7° Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado, a 7ª Companhia de Polícia, a 7ª Companhia de Guardas, uma Companhia de marinheiros, uma Companhia de fuzileiros e outros efetivos menores. O 15° RI, que se encontrava até então na Paraíba, já se deslocava para Recife, onde sua presença se fazia mais necessária. Uma companhia do 15° RI ficara em Goiana, guardando a área, em virtude de ser ela extremamente trabalhada pelos comunistas. Ao mesmo tempo, o 20° RI partia de Maceió para ocupar Palmares e Catende, dois dos maiores focos das Ligas Camponesas. De Campina Grande, um Batalhão descia diretamente para Caruaru (segunda cidade de Pernambuco) e Vitória de Santa Antão. Era este o panorama das tropas do IV Exército no momento em que foi dado o primeiro ultimato ao Governador Miguel Arrais.
Manchete: Esse ultimato exigia o que?
General Justino: Sua renúncia.
Manchete: E qual a reação do governador?
General Justino: O Governador Miguel Arrais não sabia ao certo a posição do IV Exército. Até o último momento, pensou que eu estava ao lado do presidente, por manter com o mesmo relações de amizade.
Manchete: E o senhor era realmente amigo do Sr. João Goulart?
General Justino: Sim, até certo ponto. O presidente sempre me havia dado muita força. Sempre me prestigiara. E eu também o apoiara, evidentemente com reservas. Nunca aceitei suas últimas atitudes.
Manchete: E o Governador Miguel Arrais sabia disto?
General Justino: Não, claro que não. Eu nunca tive maiores contatos com o governador Arrais, e ultimamente os tinha cada vez em menor quantidade. Nossas relações se limitavam a cumprimentos protocolares, quando nos encontrávamos em acontecimentos públicos. Fora daí, nada. Por isto, o Sr. Arrais não sabia o que se estava passando. Não podia dizer se aquelas tropas estacionadas em frente ao Palácio das Princesas o apoiavam ou o hostilizavam. Quando o Almirante Dias Fernandes lhe passou o primeiro ultimato, o governador afirmou-lhe que havia engano. “O IV Exército está com o Presidente João Goulart”, disse. Eram entre 10 e 12 horas da manhã de quarta-feira, dia 1°. Em virtude disto, houve necessidade de uma consulta ao Comandante do IV Exército, quando foram esclarecidas todas as dúvidas. Logo em seguida, isto é às 14h30m, deu-se a atuação decisiva sobre o governador, já então no hall do Palácio, quando ele ainda pensava ter seus movimentos livres. Os seus passos foram interceptados pelo Cel Castilho Dutra, que evidenciou a impossibilidade de ser retardada por mais tempo a deposição do Sr. Miguel Arrais. Isto ocorreu ali mesmo, em frente a alguns dos amigos que o acompanhavam. Em poucos momentos, era ele recolhido ao andar residencial do Palácio, com sentinela à vista, de onde foi sucessivamente removido para o Quartel do 14° RI, em Socorro, e para a aprazível Ilha de Fernando de Noronha...
Manchete: Prosseguiu o General Justino Alves.
General Justino: Paralelamente a esses acontecimentos, intensificam-se as buscas aos agitadores que atuavam no Recite e no interior de Pernambuco, em cujas mãos foi encontrada abundante documentação subversiva e vultoso armamento. Tais buscas prosseguem até o presente.
Manchete: Pensava-se em deslocar tropas para o Sul do País?
General Justino: As tropas da Bahia, de conformidade com as ordens recebidas, já marchavam para o Sul do Estado, visando a colocar-se nas divisas com Minas e Espírito Santo, posições essas que assegurariam o desembocar de unidades do IV Exército – se tal fosse o caso – nas direções da Guanabara e Brasília. Essas Operações, realizadas sem a presença efetiva do inimigo, pois era incerta a existência de guerrilheiros no nosso território, poderiam parecer exageradas e desnecessárias. Mas, na verdade, tudo isto evitou males maiores para aquelas populações civis, que de longa data vinham experimentando inauditos sofrimentos com toda uma série de ataques e invasões de suas terras. Sob a placidez das noites pernambucanas, estalavam incêndios, cada vez mais frequentes, nos imensos canaviais, que são o secular orgulho dessa gente nordestina, a sua razão de ser, a sua esperança.
Manchete: Finalizando, disse o General Justino Alves Bastos:
General Justino: O desafogo e a confiança que se observam hoje nas ruas do Recife e nas longas estradas que cortam o interior de Pernambuco, estão igualmente presentes em todos os rincões de nossa Pátria. Está repelida por muito tempo, certamente para sempre, a infiltração comunista, letal e insidiosa, que tanto preocupou e faz sofrer os brasileiros. Mais do que um acontecimento auspicioso, para o Nordeste brasileiro, tão ameaçado e tão atingido, essa vitória dos ideais democráticos foi um bem extraordinário para o Brasil e para o mundo Ocidental. Ela traduz uma nova mensagem de fé e de confiança patriótica e cristã.

Brasília em pé de Guerra
Ao ter conhecimento de que o Congresso se dispusera a empossar o Sr. Ranieri Mazzilli, na dramática noite de quarta-feira, primeiro de abril, o General Nicolau Fico reuniu sua oficialidade. Na qualidade de amigo de Jango, pretendia ele defender o ex-presidente. Contudo, naquele momento, a missão legal da 11ª Região Militar, de Brasília, era a de garantir o novo Chefe da Nação. Por isso, o General Fico liberou seus comandados de se unirem em torno da sua ideia, numa atitude de respeito hierárquico. Ao mesmo tempo, instruído pelo General André Fernandes, que assumira a Casa Militar, o General Sousa Aguiar pediu aos Oficiais que optassem entre dar-lhe “sua cooperação ou solicitar transferência”. O propósito de colaboração foi quase unânime e nenhum tiro teve que ser disparado na nova capital.

A Tropa Sediada em Brasília Garantiu Fidelidade ao Sr. Ranieri Mazzilli Imediatamente Após a Partida do
ex-presidente da Capital do País
Na manhã de quinta-feira, enquanto ainda corriam notícias de resistência armada no Rio Grande do Sul, as tropas da 11ª Região ocuparam os pontos estratégicos de Brasília, visando principalmente a defesa dos diversos prédios ocupados por departamentos do Poder Executivo. Ao mesmo tempo, o Batalhão da Guarda Presidencial, que na véspera parecia fiel ao ex-presidente, já estava a postos, leal ao novo regime. No mesmo dia, o General Rafael do Sousa Aguiar substituiu o General Nicolau Fico, no comando da 11ª Região Militar. A maior concentração de tropas pertencentes à 11ª Região Militar registrou-se no eixo rodoviário de Brasília, onde é possível o estabelecimento de rigoroso controle sobre todas as vias de aceso à nova Capital. Oficiais e Soldados estavam firmemente coesos para garantir a Revolução. A enérgica ação do General André Fernandes, nomeado Chefe da Casa Militar poucos minutos depois da posse de Ranieri Mazzilli, impediu que ocorresse qualquer movimento de dissenção no seio da tropa. Os Soldados dominaram a Esplanada dos Ministérios e a Catedral. A Praça dos Três Poderes acolheu outras patrulhas. As Unidades militares de Brasília contavam com equipamentos leves e pesados, para o caso de empreender-se uma operação defensiva. Sua ação, entretanto, ficou limitada à rigorosa prontidão. Depois da vitória, diversas tropas mineiras dirigiram-se à nova Capital com o fim de reforçar os contingentes da 11ª Região.
Cariocas Foram ao Estádio Para Aplaudir os Soldados do General Mourão
Um dos maiores sonhos do torcedor mineiro é ver a seleção de Minas disputando uma final do Campeonato Brasileiro de Futebol no Maracanã. Enquanto isso não acontece, as tropas mineiras ocuparam o maior estádio do mundo, interrompendo o Rio-São Paulo e fazendo ali o seu bivaque. Eram os Soldados do 10° Regimento de Infantaria, de Juiz de Fora, do 2° Batalhão de Infantaria, da Polícia Militar de Minas, do 12° RI de Belo Horizonte, do 11° RI de S. João del-Rei, do 4° Regimento de Obuses, do 4° Esquadrão Mecanizado, da 1ª Companhia de Manutenção e da Companhia de Intendência, todos de Juiz de Fora, as tropas da 4ª Região Militar que marcharam sobre a Guanabara para “Consolidar a Vitória” da Revolução. Os cariocas homenagearam os Soldados de Minas com um show no Maracanãzinho e levaram cigarros para as tropas do Gen Olímpio Mourão Filho. As tropas da 4ª RM deslocaram-se rapidamente e marcharam sobre o Rio, quando a situação ainda não estava definida. Pelo caminho receberam adesões e homenagens. No Rio, ocuparam o Maracanã, onde ficaram sob o comando do General Murici. Não puderam assistir aos jogos programados, mas viram um show no Maracanãzinho. A Companhia de Intendência que se deslocou de Juiz de Fora encarregou-se do rancho e os cariocas foram levar frutas, cigarros e o muito obrigado aos Soldados do Gen Olímpio Mourão Filho. A maioria ainda não conhecia “o maior estádio do mundo” e alguns deles revelaram “o grande sonho”; jogar futebol pela seleção de Minas, disputando uma final no Estádio do Maracanã. (REVISTA MANCHETE N° 626, 18.04.1964)
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
YYY Coletânea de Vídeos das Náuticas Jornadas YYY
https://www.youtube.com/user/HiramReiseSilva/videos
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
[1] Tertius: quando uma disputa entre dois adversários, vence um terceiro. (Hiram Reis)
[2] SUMOC: Superintendência da Moeda e do Crédito, órgão que funcionou como a autoridade monetária brasileira de 1945 a 1964, foi o antecessor do atual Banco Central do Brasil. (Hiram Reis)
[3] Poema de Gertrude Stein:
ROSE IS A ROSE IS A ROSE IS A ROSE
Rose is a rose is a rose is a rose
Loveliness extreme.
Extra gaiters,
Loveliness extreme.
Sweetest ice-cream.
Pages ages page ages page ages.
Galeria de Imagens
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Segunda-feira, 8 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)
Bagé, RS, 05.12.2025 Vamos continuar reproduzindo as reportagens da Revista Manchete: Manchete n° 625, Rio de Janeiro, RJSábado, 11.04.1964 Jango –

Bagé, RS, 04.12.2025 Sei que há um esquerdismo, infelizmente dominante entre nós, que não apenas vive dos conflitos que gera, mas para o qual o patri

Salve Lindo Pendão da Esperança
Bagé, RS, 1°.12.2025Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. Há muito que as datas magnas de nossa naci

O Heroico Soldado Mário Kosel Filho
Bagé, RS, 25.11.2025 Não há do que se arrepender. Que se reconheça alguns fatos precisos e pontuais, sim, mas tome-se em guarda em não generalizar-s
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