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Cirurgias e tratamento de lábios leporinos e fissura de palato já são realizados no Hospital de Base em Porto Velho


Maria José avalia a cirurgia de Edilson, um caso diferenciado que só procurou tratamento aos 31 anos de idade - Gente de Opinião
Maria José avalia a cirurgia de Edilson, um caso diferenciado que só procurou tratamento aos 31 anos de idade

Desde fevereiro atendendo no antigo prédio do Hospital do Câncer Barretinho, em Porto Velho, o Núcleo de Fissurados de Rondônia (Nufis), do Hospital de Base Ary Pinheiro, é o primeiro centro de referência da região Norte atendendo aos pacientes que nascem com lábios leporinos, fissura de palato ou os dois casos.

As cirurgias, que antes eram realizadas apenas uma vez por ano no Hospital Santa Marcelina, com a ONG Internacional Operação Sorriso – com sede nacional em São Paulo, agora são feitas no Hospital de Base, pela equipe do Nufis. “Tudo começou em 2011, quando eu comecei como enfermeira voluntária do mutirão da Operação. Na época eles não vinham a Porto Velho, nós íamos para outros estados onde o mutirão acontecia. Então eu comecei a fazer um levantamento da demanda que tínhamos na fila em Rondônia, esperando pelo Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Foi quando eu fiz o convite para a Operação Sorriso vir atuar na capital”, contou a coordenadora do Nufis, Maria José Micheletti, também presidente da Associação de Fissurados de Rondônia (Asfir).

Maria José conta que, após toda a parte burocrática, com a aceitação do Governo do Estado em oferecer a estrutura necessária para o mutirão, a Operação Sorriso aconteceu pela primeira vez no ano de 2014. “Em cinco anos, a missão já realizou 325 cirurgias em Rondônia. Com essa experiência, vimos a necessidade de termos o atendimento continuado aqui em Porto Velho, já que o mutirão só vem uma vez por ano, sempre em dezembro”, explicou.

CRIAÇÃO DO NUFIS

A enfermeira esclarece que, pelo protocolo, a primeira cirurgia de lábio deve ser feita em crianças de cinco a seis meses de vida. Como a missão só é realizada na capital a cada mês de dezembro, os pacientes nascidos em janeiro acabavam esperando o ano todo para passar pelo primeiro procedimento, fora do tempo correto. “Foi aí que fizemos um projeto e apresentamos para a Secretaria de Saúde do Estado para que tivéssemos o núcleo de referência para fazer a pré-triagem de pacientes, e que em dezembro os pacientes estivessem aptos para a cirurgia. E depois fazer o acompanhamento pós operatório”.

O Nufis atualmente conta apenas com um médico para a realização das cirurgias, que acontecem uma vez por mês, desde março deste ano, e já foram feitas oito operações nesse período. Há muitos anos voluntário da Operação Sorriso, o cirurgião Alexei Andrade já fazia parte do quadro estadual da Saúde, quando decidiu fazer a residência de cirurgia plástica e, após a conclusão, foi capacitado pela ONG para operar fissurados.

“Eu amo a estética, mas a cirurgia reparadora me fascina pela forma como impacta o meio em que se vive, e foi isso que me motivou, poder transformar a vida das pessoas. Eu quis retribuir ao estado e por gratidão a Deus por ter me concedido tanto. Essa má formação é muito comum, sendo registrado um caso para cada 600 pessoas. Tem uma frase que me marca muito que diz que amar é quando você transforma o problema do outro em um problema seu”, declarou o dr. Alexei.

Com toda o aval da Sesau, o Nufis começou a triagem em fevereiro e, além da Operação Sorriso, que vai continuar atuando em Porto Velho até 2021, os atendimentos do núcleo darão todo o acompanhamento, com a realização das cirurgias e o pós cirúrgico. Os acompanhamentos aos pacientes vão até os 18 anos de idade. As missões continuarão atendendo com cirurgias mais complexas, como casos que precisam de enxerto ou palatoplastias mais avançadas.

Uma equipe multidisciplinar está sendo formada, mas já conta com o cirurgião, uma enfermeira, uma pediatra, uma psicóloga, e está aguardando o encaminhamento de um odontopediatra, e um fonoaudióloga. Até 2021, quando as missões da Operação Sorriso se encerram na capital, o Nufis estará completo para dar continuidade ao atendimento com todos os procedimentos. “Esse núcleo já está em trâmites para ser portariado junto ao Ministério da Saúde e poder também receber recursos a serem investidos no trabalho realizado aqui”, acrescentou a coordenadora.

Além de Rondônia, o Nufis já atende a pacientes do Amazonas, Acre, Mato Grosso e Bolívia.

MUDANÇA DE VIDA

Com a fala ainda um pouco enrolada, Edilson Pimentel, 33 anos, é um caso diferenciado. Ele nasceu com a fissura de palato. Morador da cidade de Nova Mamoré, Edilson não recebeu o tratamento quando criança.

“Sofri muito. Não mamei nem na minha mãe e nem mamadeira. Ela me dava o leite em uma colherinha para eu não engasgar, e mesmo assim ainda voltava pelo nariz. Comer era sempre difícil. As pessoas tinham muito preconceito, ninguém entendia nada que eu falava, só a família porque já estava acostumada. Eu desisti da escola quando estava na 5ª série”, revelou Edilson Pimentel, paciente.

Apesar do problema, Edilson casou e tem um casal de filhos. “Um dia eu tive que vir a Porto Velho trazer meu pai no Hospital de Base porque ele estava doente. Aí eu vi um cartaz anunciando o tratamento e o telefone da Maria José. Eu liguei e isso mudou tudo”, lembra. Edilson, na época (2017), foi atendido pela Operação Sorriso e fez a primeira cirurgia em fevereiro de 2018.

Agora o acompanhamento é feito pelo Nufis e ele já fala bem melhor. Beneficiário pela Previdência Social desde 2003, Edilson tem um sonho. “Eu quero ser cantor! Eu toco bateria, sanfona e adoro música, o problema é a fala, mas um dia quem sabe”.

Antes e depois de Levi, que tinha também fissura de palato - Gente de Opinião
Antes e depois de Levi, que tinha também fissura de palato

Para o pequeno Levi Regis Barros, 2 anos, a mudança já aconteceu. A criança nasceu com a fissura de palato e o lábio leporino. Morando em Humaitá, a mãe de Levi, Valdenice Regis não sabia como tratar. Foi também por um cartaz que ela descobriu o Nufis.

Levi fez a primeira cirurgia no dia 14 de março deste ano, e a reparação gerou mais qualidade de vida ao pequeno menino. “Graças a Deus ele sempre foi muito esperto, até para comer teve pouca dificuldade, mas agora ele não vai passar por preconceito quando for a à escola e aparência ficou ótima”, concliu a mãe.

Geralmente, os casos de recém nascidos já são encaminhados para o núcleo pelos profissionais da própria maternidade, mas a coordenadora enfatiza a necessidade de maior atenção e encaminhamento para o tratamento na capital, principalmente nas unidades de saúde do interior do estado. O atendimento de triagem no Nufis acontece de segunda a sexta-feira, das 7h às 13h30, e o telefone para contato é o (69) 98112-7846.

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