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Saúde

Cirurgias de redução do estômago são mal empregadas no país


Adriana Brendler
Agência Brasil


Brasília - As cirurgias para redução de estômago indicadas por especialistas como forma eficaz de tratar a obesidade mórbida estão estão sendo mal empregadas no país. Enquanto pacientes graves que necessitam da operação permanecem sem tratamento, pessoas com cerca de dez a 15 quilos acima do peso ideal e bom poder aquisitivo buscam o procedimento como solução para melhorar a estética sem ter de mudar hábitos alimentares e praticar atividades físicas.

A opinião é de Márcio Mancini, supervisor do Ambulatório de Obesidade Mórbida do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), uma das 53 unidades de saúde no país que realizam cirurgias bariátricas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

"Falta muita informação. O número de cirurgias feitas no Brasil é insuficiente para o número de pessoas que precisam dela. Há cirurgias que não deveriam estar acontecendo e há pacientes que precisariam ser operados e estão confinados em casa, a gente nem os vê na rua. Boa parte dos obesos mórbidos estão dentro de casa e é um problema de saúde que fica meio escondido dos olhos das pessoas", defende.

Segundo o médico, a cirurgia é válida e útil para os casos de obesidade mórbida, no qual a chance de sucesso na perda e manutenção do peso ao longo dos anos com outros tratamentos é muito reduzida e os riscos de permanecer com a obesidade são maiores do que os da operação. De acordo com ele, o sucesso das cirurgias para os obesos mórbidos é de 90% com manutenção do peso por 16 anos, enquanto os tratamentos convencionais tem fracassado em 98% dos casos.

Mancini diz que, para situações de sobrepeso e ou obesidades mais leves (graus 1 e 2), no entanto, a cirurgia é contra-indicada pois não justifica as complicações envolvidas. De acordo com ele, as pessoas que se submetem à operação precisam ficar em acompanhamento médico pelo resto da vida e ingerir complementos nutricionais prescritos pois correm risco constante de desenvolver anemia e fragilidade óssea, além de outros problemas de saúde.

No ano passado, aproximadamente 25 mil cirurgias para redução de estômago foram realizadas no país, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, cerca de 2,7 mil foram feitas pelo SUS. A operação tem custo de aproximadamente R$ 20 mil.

Na rede pública e nos procedimentos particulares cobertos por planos de saúde as cirurgias são feitas seguindo uma resolução publicada em 2005 pelo Conselho Federal de Medicina que estabelece normas seguras para o uso da operação. O tratamento cirúrgico é indicado para pessoas maiores de 18 anos (e em casos especiais a partir dos 16) com obesidade considerada grave (de grau 3), que é definida pela presença de Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 Kg/m2.

Segundo Mancini, neste grau a obesidade recebe o nome "mórbida" pelo grande número de doenças associadas a ela, como pressão alta, diabetes, colesterol alto, apnéia do sono e dores nas articulações.

No caso do SUS, é exigido ainda que o paciente com IMC acima de 40 já tenha tentado antes o tratamento convencional (dieta, psicoterapia, atividade física, etc), durante pelo menos dois anos, sob orientação direta ou indireta de equipe de hospital credenciado/habilitado. A condição não é exigida caso os pacientes sejam portadores de doenças relacionadas a obesidade que representem risco de vida.

O procedimento também é oferecido a pessoas com IMC entre 35 e 39,9 Kg/m2 desde que portadores de doenças crônicas desencadeadas ou agravadas pelo excesso de peso.

Para sair do IMC considerado adequado para a saúde (entre 18,5 e 24,9) e chegar a obesidade mórbida o paciente passa pelo estado de sobrepeso (25,0 a 29,9), obesidade grau 1 (30,0 a 34,9) e obesidade grau 2 (35,0 a 39,9).

Essa trajetória pode ocorrer desde a infância, ou em outra fases da vida dependo da predisposição genética, mas sobretudo dos hábitos de vida do indivíduo que acabam determinando o aparecimento ou não da obesidade . Por isso, a prevenção e tratamento da doença são centrados na alimentação saudável e no consumo de calorias por meio de uma rotina que inclua atividades físicas.

O radialista Frederico Souza, 24 anos, morador de Brasília, conviveu com a obesidade desde criança. Ele decidiu pela cirurgia bariátrica em 2007 depois de ter sido mal sucedido em uma dieta à base de medicamentos. Desde a operação, em outubro do ano passado, Frederico perdeu 47 dos 140 quilos que pesava e está satisfeito com os resultados da cirurgia.

"Só me arrependo de não ter feito antes. O pós-operatório foi normal e houve uma mudança maravilhosa na minha vida. Tenho disposição para trabalhar, sair, ir à academia. Quando vou ao shopping consigo comprar roupas, o que antes não acontecia", conta. Segundo Frederico Souza, o excesso de peso gerava limitações na vida diária, mas não chegou gerar danos à saúde.

A história do mecânico aposentado Valter de Macedo Junior, 48 anos, morador de Praia Grande, no litoral paulista, foi diferente. Pesando 220 quilos e sofrendo de problemas vasculares, hipertensão e diabetes, ele vendeu o carro da família em 2001 para pagar uma cirurgia bariátrica na rede privada, já que pelo SUS a espera pela operação era de quatro anos na época. Ele conta que emagreceu 40 quilos para fazer a cirurgia e outros 50 no primeiro ano depois da operação, mas como não teve recursos financeiros para continuar custeando o acompanhamento médico voltou a engordar.

Hoje Valter está com 214 quilos, aposentado pela previdência porque não pôde mais trabalhar, tem uma úlcera na perna por causa dos problemas vasculares e quase não sai de casa por causa das limitações geradas pela doença e da discriminação da sociedade."Se tiver de andar um pouco não tem condições, se tiver de subir uma escada já fico ofegante. Se eu faço sinal para um táxi ele não quer parar. Eu moro numa cidade de praia e não vou até lá porque sou discriminado. A gente tem limitações e não é tratado como uma pessoa que tem uma doença", diz.


 

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