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Saúde

AIDS: Transmissão conjugal



Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Um estudo conduzido por pesquisadores da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo com idosos portadores do vírus HIV atendidos no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, concluiu que 75% das mulheres, todas com mais de 60 anos de idade, foram infectadas pelos maridos em relações sexuais.

Uma das razões para isso, segundo eles, seria explicada por um fator hormonal: as mulheres nessa faixa etária têm diminuição da libido, enquanto os homem ainda sentem desejo sexual, o que contribui para o aumento do número de relações extraconjugais. Entre os homens, 80% contraíram a doença após esse tipo de relação.

O levantamento foi realizado com base nas informações demográficas e de prontuário médico de 94 pacientes atendidos no Ambulatório de Aids do Idoso do instituto.

"Mais de 90% desses pacientes, tanto homens como mulheres, contraíram o vírus em relações sexuais", disse Jean Gorinchteyn, coordenador do ambulatório e do estudo, à Agência FAPESP. "Além do impacto hormonal que faz com que a libido das mulheres seja alterado, outro aspecto importante é a noção de estabilidade conjugal, que nem sempre significa felicidade conjugal."

Por questões diversas como culturais e religiosas, segundo o infectologista, mulheres a partir dos 60 anos muitas vezes deixam o desejo sexual em segundo plano e, de acordo com os dados coletados nas entrevistas com as pacientes do trabalho, normalmente não saem para procurar novos parceiros fora do casamento.

"As mulheres também têm certas alterações, como falta de lubrificação vaginal, que fazem com que elas sintam dores durante as relações e simplesmente não queiram mais ter. Com os homens ocorre o oposto. Ou insatisfeitos com o casamento ou com maior desejo sexual, eles procuram novas parceiras", afirmou.

Segundo Gorinchteyn, isso faz com que a incidência de casos de Aids em idosos do sexo masculino no Brasil seja bem maior. Entre 1991 e 2007, 2.916 pessoas com mais de 60 anos contraíram o vírus da Aids. Desse total, 950 são mulheres e 1.966 são homens, de acordo com dados do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids.

"É muito comum ter casais em que o marido é HIV positivo e a esposa não. Ao investigarmos as causas desses casos específicos, descobrimos que a maior parte desses casais não tem relação sexual há mais de dez anos. Então, além da justificativa hormonal, temos também um componente social e cultural para explicá-los", destacou.


Poucos estudos, novas contaminações

Segundo Jean Gorinchteyn, apesar de ainda serem escassos os estudos científicos realizados no país sobre a transmissão do HIV na população idosa, sabe-se que essa incidência não só é alta como também há uma tendência muito forte de aumento nos próximos anos.

Além da maior conscientização da população para a importância dos exames de detecção da doença, os medicamentos para a disfunção erétil têm encorajado a população idosa a ter mais relações sexuais, muitas vezes desprotegidas.

"Como essas drogas são relativamente recentes, uma vez que apareceram no mercado há cerca de sete anos, é bem provável que tenhamos uma maior representatividade futura da contaminação pelo vírus da Aids nessa faixa etária. As estatísticas tendem a piorar nos próximos anos e esse é um grupo que merece ser melhor estudado", disse.

Gorinchteyn disse ainda que a maioria dos pacientes tratados no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, cuja média de idade varia entre 60 e 64 anos, foi contaminada na faixa dos 50 anos. "E a expressão clínica ou o achado sorológico só foram identificados depois de cerca de dez anos, considerando também todo o período de alteração imune passível de levar ao diagnóstico da doença", apontou.

"Temos observado ainda que, diferentemente dos jovens, que têm mais opções de escolha para a utilização do preservativo, os idosos recebem menos informações e acham que não precisam usar, devido a uma falsa sensação de estarem imunes a uma doença que contaminaria apenas os mais jovens", disse o infectologista.

O estudo mostra ainda que muitos idosos têm a percepção de que o preservativo serve mais como um contraceptivo, para prevenir a gestação "Há também relatos de insegurança de que eles não saberão usá-lo corretamente ou que perderão a sensibilidade na hora da relação", disse Gorinchteyn.

Fonte: FAPESP

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