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Vinício Carrilho

Jovens (e não tão jovens) na política


Jovens (e não tão jovens) na política - Gente de Opinião

Quando me perguntam “o que é política?”, democracia ou cidadania participativa, costumo dizer que é fácil e difícil (ao mesmo) olhar para tudo isso, dizer algo relevante sobre tudo isso – simplesmente porque são exercícios diários, intelectuais e práticos, e porque fazem parte ativa da condição humana.

  Um dos maiores filósofos da Grécia antiga dizia que o ser humano (um ser social) é um “animal político”.

Assim, avançando, diria que a política não tem fim e que a cidadania democrática é participativa – e que toda forma de participação (ou abstenção) é política, e mesmo que não seja democrática.

Numa frase daria para dizer que a política é o resultado da cidadania participativa na democracia, daí dizermos “cidadania democrática”.

Quando pensamos em democracia logo vem a informação de que se trata de direitos, da condição de ser cidadã ou cidadão. Multas vezes a cidadania é reduzida ao ato de votar.

Muitas vezes a informação é ainda fragmentada, limitando-se a cidadania à condição de nacionalidade: cidadania brasileira ou portuguesa, por exemplo. 

Também a cidadania é tida como reflexo do voto: direito de votar ou de ser eleito. 

O voto (livre, secreto, periódico, soberano) é essencial, é uma criação da democracia. Muita gente lutou e morreu para que pudéssemos votar. 

É um direito político, de liberdade, é um direito de expressão, de conhecimento e de autoafirmação, de afirmação da vontade e da consciência, como o exercício da autonomia.

Se votamos (ou não), se escolhemos bem (ou não), os políticos, o vereador, o prefeito, isso terá impacto na nossa vida. Se não votamos também. 

Política é decisão, ou seja, se agimos ou não, se declaramos ou não, se permitimos ou não, se queremos e fazemos ou não, isso tudo é expressão política. 

Se educamos ou não, como educamos, é política. 

O direito à política é um direito fundamental. 

Porém, a cidadania democrática e participativa é mais do que isso e mais difícil ou complexa de ser efetivada (ou explicada em poucas linhas). 

A cidadania democrática tanto está no voto quanto no cuidado com o espaço público (não furar fila); a cidadania participativa está na escola, no trabalho, nas eleições, no sindicato, no trabalho do síndico e nas assembleias, e também na família, no grupo social. No culto religioso se faz muita política – algumas vezes querendo destruir, exatamente, esse espaço da política.

Podemos dizer que a política é a Polis, o espaço público por onde caminha a cidadania, a qualidade de vida, a segurança de que os direitos serão preservados como fundamentais, a começar pelos direitos políticos, e, é claro, onde se estabelecem os limites, os deveres públicos e de cada pessoa.

Por outro lado, quando pensamos em cidadania participativa, enquanto democracia, pensamos em política e, quando falamos em política, via de regra, a primeira imagem que vem à cabeça é um conjunto de coisas ruins: corrupção, violência, cabide de empregos (pagos com dinheiro público), nepotismo, incompetência ou má vontade, má fé. 

Mas não é assim, ou não é só isso. Os jovens fazem política quando escolhem seus representantes de sala ou quando elegem a diretora ou o diretor da escola. Se o jovem se isola ou se abstém também está fazendo política. 

Nas eleições os jovens participam votando, mas não se limita a cidadania participativa ao voto (ainda que seja um direito histórico e fundamental).

Os jovens podem participar no grêmio estudantil, no centro acadêmico, no movimento estudantil. 

Além desse contexto escolar, há movimentos sociais, partidos políticos, organizações não-governamentais (ONGs), organismos sociais, associações de bairro. 

Tudo é um aprendizado, nós aprendemos política estudando e fazendo política, porque vamos nos fazendo ao fazer política. 

Participar dos momentos ou meios, instrumentos formais, informais ou sociais, de realização, efetivação, da política é consequência da própria democracia. Melhor dizendo, isso explica uma boa parte do Princípio Democrático. Lutar pela democracia, quando ou onde não exista, também é resultante desse Princípio Democrático que está ativado. 

Essa é uma das conclusões: a cidadania é ativa, não apenas porque a Constituição de 1988 nos assegura essa dimensão (artigo 14 da CF88); porém, antes de tudo, porque implica na ativação desse mesmo Princípio Democrático. 

E a cidadania participativa concorre para esse feito. 

Por fim, se pensarmos que participar ou não da política, tomando-se decisões como cidadãs e cidadãos, interfere na vida de todos, na sociedade, no Estado, no governo, então, é possível ver que é uma obrigação participar da política – informando-se, inteirando-se, se auto educando. É um direito (fundamental), mas é um dever, dada a dimensão que a política tem em nossas vidas.

Quando participamos da cena política, e é claro que se aplica aos jovens, realizamos um direito, requisitamos outros, pois, curiosamente, nós defendemos direitos ao requerermos ou lutarmos pela efetivação de outros direitos. 

  O que faço agora é política.

  Escrever sobre política é uma possibilidade, uma decisão, um direito da democracia, é um exercício da cidadania democrática. Assim como ler, escrever sobre política é uma ação política. Além de contribuir (teoricamente) com o debate, me obrigo a uma autoeducação política, me pergunto sobre o que escrever, como escrever, para quem escrever. E aprendo com essa reflexão.

Em síntese, chamo isso de “fazer-se política”.

Há um bilhão de referências, mas hoje, neste espaço, indico duas para iniciar:

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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