Terça-feira, 15 de janeiro de 2013 - 05h21
A historiadora Barbara Tuchman escreveu um livro famoso “A Marcha da Insensatez” que tem por tese o fato de que, ao longo da história, muitos políticos, de uma forma geral líderes de nações, partidos, igrejas e outras instituições, praticam políticas completamente opostas aos seus próprios interesses. A tese de Barbara é povoada de exemplos interessantes que vem do mais remoto passado ao presente. O que é mais interessante ainda é verificar que, num contexto menor, o mesmo acontece no momento em Rondônia. As duas maiores lideranças estaduais no poder andam se devorando contra seus próprios interesses e, para deleite, de seus adversários que veem neste tipo de luta a melhor abertura possível para seus interesses. É claro que, alguns, dos que semeiam esta discórdia que afeta muito mais a economia do Estado também cometem o mesmo erro: lutam contra seus interesses sem saber. Mas, o melhor é examinarmos, o momento atual sob a lupa de Barbara Tuchman que, quem sabe, muitos consigam compreender que há lutas que são inglórias e vitórias que são de Pirro.
Uma tese que perdura pela história
Para ilustrar a tese de Barbara Tuchman nada melhor do que relembrar como o protestantismo foi fruto das brigas da própria Igreja Católica, em grande parte, causado pelos papas durante um período de sessenta anos, entre meados do século XV e começo do XVI. O comportamento de seis papas, que praticaram a insensatez da contumácia e da obstinação, abalaram a Santa Sé, conseguindo espatifar a unidade da Igreja, que perdeu quase a metade de seu rebanho para a cisão protestante. Barbara Tuchman relata que “A insensatez dos papas não foi apenas a busca de políticas contraproducentes; foi, muito mais, a rejeição de uma tônica aceitável e coerente, quer política quer religiosa, que melhorasse o panorama geral do papado, evitando o crescente descontentamento”. Para ela, “a grotesca extravagância e obsessiva busca de lucro pessoal se constituíram em segundo fator, de igual importância”. E por fim, “a ilusão de permanência, da inviolabilidade do poder e do status, eis a terceira insensatez”. Resumindo, “essas três atitudes incompatíveis – indiferença ao crescente descontentamento dos fiéis, preocupação de auto-engrandecimento, ilusão de status invulnerável – caracterizam aspectos persistentes da insensatez”. E não custa lembrar que os religiosos, inclusive os papas, são apenas homens. Bem, por este e outros exemplos que elenca até parece que os homens, em especial quando investidos de autoridade costumam ser acometidos de um singular paradoxo: o de tomar atitudes totalmente contrárias aos interesses da coletividade e, em última análise, a si mesmos – ainda que possam parecer o contrário. Na obra, Barbara mostra como a cegueira dos governantes ao longo da História os fez tomar atitudes autodestrutivas para suas nações. Porém, a marcha da insensatez não parece ser apenas um registro dos livros de História. Pelo jeito ela continua a ocorrer todos os dias. No Brasil é uma praga comum: nossos políticos tomam sempre o caminho contrário ao povo e votam projetos em interesse próprio, algo comum, mas, nada mais nocivo e capaz envenenar a crença da população contra os próprios políticos, a política e até mesmo contra a democracia.
Nem Rondônia escapa
Rondônia é um Estado onde parece que tudo acontece. Vale lembrar que nossas lideranças costumam se esgarçar como tecidos velhos carcomidos pelo tempo. A rigor nenhuma liderança se consolida de forma duradoura. A mais resistente tem sido a liderança dos Raupps, porém, mesmo com sua longevidade, tem sido incapaz de criar um grupo político sólido de criar, como aconteceu no vizinho Acre, uma ala política capaz de mudar os rumos e criar uma governança capaz e responsável. Aqui, infelizmente, tem valido, até agora, a Lei do Murici, ou seja, “cada um cuida de si” como sem nenhum pudor foi traduzida no dizer cassolista de “Cada um cuida do seu CPF”. Ocorre que política sem grupo, sem lealdade, sem visão de longo prazo é uma política sem base, uma política imediatista e sem objetivos sociais. Não é à-toa que as lideranças aqui duram pouco: só cuidam dos seus próprios interesses. Sem uma visão do futuro caminhamos aos trancos e barrancos, sem consolidar nossas cidades, sem planos de longo prazo. Rondônia até já esqueceu, fora os que são feitos para constar, seu último plano de desenvolvimento. Porto Velho tem um plano urbano feito na solidão dos gabinetes de planejamento de outros estados que passou longe de qualquer discussão pública, restrito como foi aos burocratas áulicos que batiam palmas para qualquer coisa que Roberto Sobrinho dissesse até mesmo ao desplante de fazer uma pesquisa fajuta para dizer que a população gostaria que a Rodoviária permanecesse no mesmo local.
Num ambiente assim, sem projeto político, sem partidos fortes nem mesmo lideranças políticas que se preocupem em direcionar os rumos do Estado subiram ao poder duas personalidades completamente diferentes. No governo, Confúcio Moura, que, mesmo tendo sido deputado federal e prefeito reeleito de Ariquemes, seria um candidato improvável não fosse sua determinação e as circunstâncias propícias que o envolverão numa luta contra um até então desconhecido vice de Cassol. Na Assembleia Legislativa, o deputado Hermínio Coelho, fruto de uma liderança sindical e ex-presidente da Câmara, que, por força da Operação Termópilas, como vice de Valter Araújo, o sucedeu. A lógica de um ambiente confuso como este, por todas as razões, atrelava o destino dos dois, mas, como a insensatez gosta de aparecer ambos, contrariando seus próprios interesses, teimam em buscar um caminho conflituoso que não serve a nenhum dos dois.
.jpg)
O caminho da marcha
Ao contrário do que pensam muitos Hermínio Coelho pode não ser um estrategista, porém, possui uma lógica muito particular e um desejo pouco entendido de grandeza. Ele tem certas particularidades que o aproximam de Lula, embora moralmente seja melhor, e fortaleceu-se pela crença de que, com sua determinação, pode atender mais os anseios populares do que outros políticos mais preparados do que ele. Sua trajetória, e forma como se comporta, lhe dá razão. Tanto na Câmara quanto na Assembleia fez boas administrações. E, se o acaso o ajudou, de fato, houve uma grande parte de cálculo neste acaso. Depois de eleito Hermínio desejava ser presidente da Assembleia e, para isto, procurou se associar à Confúcio Moura; sabia que só poderia ser com o seu apoio. Não encontrou eco. Mesmo com vários deputados a seu favor foi rotulado de radical e descartado. No meio do caminho havia Valter Araújo e, este, sabendo dos votos que Hermínio poderia carrear, ao tentar sua adesão ouviu dele a proposta de que somente se lhe fosse dado a vice-presidência. Valter deu e, depois, lhe deu muito pouca coisa mais. Porém, quando caiu deu a Hermínio a oportunidade que precisava e ele a tem aproveitado bem até certo ponto.
A questão é que, ao buscar criar uma nova forma de fazer política, Hermínio contraria (e, por isto mesmo, não lidera os deputados da forma antiga, isto é, com barganhas junto ao governo). É evidente que isto seria o ideal para qualquer governo, mas, todo governo quer um legislativo obediente. O governador, apesar de ser um político hábil, até agora não conseguiu ter êxito administrativo. Comenta-se, à boca pequena, que com Cassol se tinha governo, mas, não se tinha liberdade; com Confúcio se tem liberdade, mas, não se tem governo. Hermínio Coelho quer que o governo Confúcio funcione e resolva os problemas públicos, porém, ao começar a cobrar se excedeu na cobrança e passou do ponto: além de atirar na administração atirou na família. Os dois que poderiam ter pontos comuns de negociação e de crescimento em prol do Estado, agora, são fonte de incertezas e de questionamento quanto ao futuro. Confúcio reclama que Hermínio deseja apeá-lo do poder, daí, estar atirando para todos os lados. Já Hermínio reclama que Confúcio, de forma subreptícia, pretende tirá-lo da presidência.
.jpg)
Os produtos possíveis da insensatez
Desde que ascendeu à presidente que um grupo de deputados descontentes com sua forma de gerir gostariam de tirar Hermínio de seu posto. Havia formas de tirá-lo na medida em que a eleição de Valter Coelho, se questionada na Justiça, poderia ser anulada com base no fato de que os deputados teriam sido confinados em algum lugar para não mudar seu voto, o que caracterizaria uma compra de votos. Segundo se comenta, o fato está documentado nos autos da Operação Termópilas. Então por que razão ninguém tentou? A resposta, pelo menos na rádio corredor, é a de que, embora somente oito tenham sido publicamente expostos, seriam, efetivamente, dezessete, ou seja, não interessava a ninguém remexer no passado sob pena de sobrar para alguns que, face ao tempo de investigação acabaram sem problemas. Mexer neste vespeiro seria se expor as ferroadas.
O que ocorre é que, se a primeira eleição é questionável, e Hermínio exerceu todo o mandato, já a segunda não tem problemas de questionamento. Ele foi feita pelo então presidente Valter Araújo, dentro de todos os parâmetros legais, e sem nenhum tipo de barganha, logo, como ser questionada? Como se sabe as leis e a lógica não são muito consideradas quando se trata de política. E é neste veio que, dizem, adeptos do governador trabalham para desapear Hermínio depois que este, improvisadamente, andou atirando contra o governo e exacerbando o receio dos áulicos de que podem perder suas preciosas tetas. A tentativa, se der certo, pode fortalecer outros grupos que desejarão também apeá-lo e, fora da presidência, as críticas de Hermínio, certamente, aumentarão de tom e de volume. Não é um adversário a ser desprezado pelo volume de informações que tem e pela ousadia que possui. Além de que, alguns deputados (e outros que não são) que pensam que podem ser beneficiados, serão imolados no processo. Se houvesse bom senso o governador e o presidente da Assembleia teriam que compor e pactuar uma convivência pacífica. Se prosseguem a marcha da insensatez se arriscam a abrir espaços para alternativas, agora, impensáveis. E vale lembrar: o inesperado sempre acontece.
.jpg)
Fonte: jornal Alto Madeira
Sexta-feira, 19 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)
Assembleia aprova lei que proíbe a reconstituição de leite em pó importado para consumo alimentar
A Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero) aprovou o Projeto de Lei 1197/25, de autoria do deputado Ismael Crispin (PP), subscrito pelo presidente

Com apoio de Cirone Deiró, eventos esportivos valorizam atletas de diversos municípios
As cidades de Cacoal, Espigão do Oeste e Vilhena foram palcos de vários eventos esportivos neste último final de semana (12,13 e 14), promovidos com

Sílvia Cristina destaca os quatro anos do Centro de Prevenção e Diagnóstico de Câncer em Ji-Paraná
A deputada federal Sílvia Cristina destacou no plenário da Câmara dos Deputados, os quatro anos de funcionamento do Centro de Prevenção e Diagnóstic

Deputada Cláudia de Jesus participa de agenda histórica da saúde em Porto Velho
A visita do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a Porto Velho nesta terça-feira (16) marcou um momento histórico para Rondônia com o lançamento do
Sexta-feira, 19 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)