Domingo, 29 de julho de 2012 - 06h50
Assim como a maioria das cidades da Amazônia, Porto Velho também tem uma intrínseca ligação com o rio, no caso da capital de Rondônia, o rio Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas. O próprio nome da cidade nasceu de um improvisado cais construído em toras de madeira, por volta de 1866, por soldados de um destacamento de militares voluntários da Pátria, no local onde hoje está o Cai N’água.
Os militares ficaram no local até por volta de 1870, quando retornaram ao Regimento Jamari, sediado na localidade de São Carlos do Madeira. O historiador Abnael Machado de Lima afirma que, por causa do atracadouro, o local passou a ser denominado pelos habitantes de Santo Antônio do rio Madeira, de “Porto Velho dos Militares” e também “Ponto Velho”.
Com a saída dos militares, o local foi ocupado pelo agricultor conhecido por Velho Pimentel, que construiu outro ancoradouro na foz do atual igarapé Grande, na área conhecida hoje como Porto do Cai N’água, para fazer o embarque de lenha nos navios movidos a vapor d’água, o Porto da Lenha, que também era chamado de “Porto do Velho”.
Local estratégico, a área acabaria sendo indicado pelo engenheiro Carlos Morsing, em 1882, para ser o inicial da estrada de ferro Madeira-Mamoré que seria construída entre Porto Velho e Guajará-Mirim, na região da cachoeira do rio Mamoré na fronteira do Brasil com a Bolívia, localizado 7 km abaixo da cachoeira de Santo Antônio. O jornalista Ernesto Matoso, relator da Comissão Morsing, identifica em seu relatório a localidade por denominações: Porto Velho dos Lenhadores e Porto Velho das Caçadas. A cidade começava a ser batizada.
Com a construção da ferrovia, o Porto do Velho é incorporado às instalações da Estrada e Ferro Madeira-Mamoré Railway Co. Ltda., até julho de 1931, ano em que a ferrovia passou a ser administrada pelo governo federal.
Ainda segundo o historiador Abnael Machado, na década de 1970, o local passou a servir de ancoradouro para canoas que transportavam produtos nativos e peixes, assim como às pequenas embarcações de transporte de passageiros e mercadorias diversas. Nessa época, começaram a ser construídos flutuantes de pranchas fixadas em toras onde foram instalados quiosques de madeira dando surgimento a um improvisado porto, que passou a ser chamado de “Cai N’água” pelos populares, provavelmente em alusão ao escorregadio barranco e tábuas de acesso às embarcações ocasionando a queda das pessoas nas águas do rio Madeira.
Sofrimento
Cento e trinta anos depois, a região do Cai N’água prepara-se para ganhar um novo porto, o definitivo, construído pela Prefeitura de Porto Velho, que dará melhores condições de trabalho para os carregadores do antigo porto e mais comodidade aos passageiros que utilizam as embarcações que descem o Madeira. Mas essa é uma página da história que passará a ser contada a partir da próxima segunda-feira, 30, com a inauguração do Terminal Hidroviário do Cai N’água. Até chegar a esse momento, essa história foi construída com muito sofrimento, improvisação por parte das pessoas que trabalham no porto.
Os próprios estivadores confirmam que estão sujeitos a graves acidentes de trabalho devido a barranca do rio não oferecer condições mínimas de segurança. O Ministério Público do Trabalho (MPT) também afirmou que no local entre outras precariedades, há muitas pedras, além de a barranca do rio ser íngreme, e o acesso às embarcações, pelos trabalhadores com as cargas nos ombros, ser feito em estreitos pranchões de madeira sem qualquer proteção alguma contra quedas.
A esse risco, Heleno Dias, 63 anos, natural de Humaitá (AM), ficou exposto 40 anos, tempo que trabalhou como carregador no Porto do Cai N’água até se aposentar. Ele testemunha ser difícil subir e descer o barranco carregando peso, esforço que muitas das vezes lhe provocaram lesões que lhe deixaram temporariamente sem trabalhar. E, nostálgico, ele afirma que mesmo assim, era o bom trabalhar no porto, na época do Território de Rondônia. “Comecei no porto em 1970 e trabalhar aqui sempre foi arriscado, mas antigamente era melhor porque havia mais movimento. Era trabalho para a semana toda. Hoje só se trabalha dois dias”, reclama. Para ele, a transformação do ex-Território em Estado teve influência direta na decadência que passou a viver o Porto do Cai N’água.
E relembra que nessa época atracavam no Cai N’água muitas embarcações vindas não só das regiões ribeirinhas de Porto Velho, mas também do Amazonas, Acre, Pará e outros estados da região. Hoje, na sua avaliação tudo ficou mais difícil.“Naquele tempo era mais barco para poucas pessoas, hoje é o contrário, e o pior é que aqui ninguém se entende mais. Quem era para nos amparar deixa abandonado e a categoria fica sem saber o que fazer. Agora com o novo porto, espero que tudo mude novamente, mas dessa vez para melhor”, vislumbra o estivador cansado de guerra.
Raimundo Nonato, 55 anos, que trabalha no Cai N’água também há 40 anos, lembra que iniciou o trabalho de carregador desde criança e não largou mais a profissão, que lhe deu o sustento da família por quatro décadas. Ele também afirma que o trabalho era melhor do que hoje em dia. “Era muita carga que embarcava e desembarcava aqui. Era tanta, que a gente até corria de produtos para carregar. Hoje não, tá (sic) muito diferente. Agora é a gente que procura e às vezes não encontra trabalho. A gente trabalhava de segunda a domingo. Hoje é só segunda e sábado. Trabalho dois dias e fico três parados”, diz.
Desde criança vivendo entre embarcações, peixes e botos, subindo e descendo o barranco do Madeira, conformado, Nonato acredita que seu destino não poderia ser outro senão trabalhar no cais, ou seja, ser mais um entre os milhares de ribeirinhos que emolduram essa paisagem amazônica que tem como figura central o rio Madeira. Operado de hérnia de disco, doença provocada pelo esforço para carregar peso, Raimundo Nonato também acredita em dias melhores com o novo porto que será inaugurado na próxima semana. “É tudo o que a gente espera depois de trabalhar tanto tempo, com tanto sacrifício. Torcemos para que mais barcos venham para cá, pois só assim vamos ter mais trabalho. Essa é a nossa esperança”, frisa.
Novos tempos
Mesmo estando historicamente ligado à cidade de Porto Velho, o porto do Cai N’água, nunca havia recebido a devida atenção por parte do município, nas administrações anteriores. Foi na gestão do prefeito Roberto Sobrinho que, não só o porto, mas toda a região conhecida como Cai N’água, passou a ser valorizada como marco histórico da cidade.
No Porto do Cai n’Água embarcam e desembarcam por ano, aproximadamente 36 mil pessoas que transitam pelo rio Madeira indo ou vindo de cidades como Humaitá, Manicoré e Manaus, no Amazonas, e dos distritos de Porto Velho localizados ao longo do Madeira como Calama, São Carlos, Demarcação e Nazaré, além de outras localidades ribeirinhas.
O prefeito Roberto Sobrinho lembra que o local nunca teve tanta atenção e investimentos como passou a ter em sua administração. “Depois de tantos anos, o Cai N’água, que é a referência inicial da nossa cidade, finalmente está recebendo um porto moderno para embarque e desembarque, com conforto e segurança para os ribeirinhos e para o transporte de pequenas cargas. Isso tudo aliado a outras obras que estamos fazendo na área, como o complexo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, o Mercado Central, o Mercado do Peixe e o Parque das Água, outro projeto que vem para embelezar essa região da cidade”, finalizou o prefeito.
Fonte: Joel Elias
Foto: Frank Néry/ Medeiros/ Quintela
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