Sexta-feira, 10 de outubro de 2008 - 12h05
Em artigo publicado no jornal O GLOBO, em sua edição dessa quinta-feira (9), o deputado federal Moreira Mendes faz um alerta sobre os riscos de um apagão ambiental no Brasil. De acordo com ele, o atraso nas obras de construção das hidrelétricas do Madeira poderá obrigar o governo a ter que acionar pelo menos 20 usinas termelétricas, que vão sujar a matriz energética brasileira e jogar milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.
Moreira diz que, por outro lado, o aproveitamento do potencial energético do rio Madeira irá atender à demanda por energia limpa no País e afastar, de vez, os riscos de um novo apagão elétrico. Porém, o projeto de construção das usinas pode ser prejudicado devido ao início da temporada de chuvas na Amazônia e os atrasos na liberação das obras de Jirau.
Confira abaixo a íntegra do artigo.
Um apagão ambiental
O aproveitamento energético do Rio Madeira, com a construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, atende, ao mesmo tempo, à demanda do país por energia, afastando o perigo de um novo apagão, e ao desafio de desenvolver a Amazônia de forma sustentável, com energia limpa. Esse projeto, contudo, corre o risco de, literalmente, ir por água abaixo.
Com o início próximo da temporada de chuvas na Amazônia e os atrasos na liberação das obras de Jirau, o governo federal terá que acionar usinas termelétricas movidas a óleo diesel. Essas usinas, além de não afastarem por completo o risco de um novo apagão e gastarem mais, vão sujar a matriz energética brasileira e jogar milhões de toneladas de CO na atmosfera.
O Brasil precisa de energia para crescer. A demanda nacional vai obrigar o país a pôr em operação 20 termelétricas movidas a óleo ou gás para compensar a energia que deixará de ser gerada caso as obras não se iniciem imediatamente.
Aí, sim, teremos um verdadeiro apagão ambiental. Termelétricas movidas a óleo combustível têm grande impacto sobre o meio ambiente devido às altas taxas de emissão de gases causadores do efeito estufa, que podem variar de 12 milhões a 17 milhões de toneladas de CO lançados na atmosfera por ano. Essas emissões não só prejudicam diretamente a Floresta Amazônica, como também contribuem sobremaneira para o aquecimento global.
Outro problema decorrente do acionamento das termelétricas é o alto custo adicional com o qual a sociedade brasileira terá de arcar. Estima-se que, para compensar o déficit de energia limpa, o Brasil terá de pagar R$14 bilhões em 2012. Com esse valor seria possível construir uma usina de 5.000 MW, que corresponde, por exemplo, a todo o complexo do Rio Madeira, incluindo as usinas de Santo Antônio e de Jirau. Explico: o custo da energia gerada por uma termelétrica é maior porque gasta combustível. Para se ter uma idéia, o preço médio de venda de energia gerada em uma térmica a diesel é de R$920 por MW. A energia gerada por uma hidrelétrica custa bem menos, em média R$103 por MW.
As hidrelétricas produzem, reconhecidamente, uma energia limpa, pois não há emissão de gases que provocam o efeito estufa, além de proporcionar o planejamento do impacto ambiental e social, como está sendo feito para as usinas de Jirau e de Santo Antônio.
Outro grande benefício para a sociedade brasileira foi a mudança do eixo de Jirau, pois permitirá antecipar em um ano a geração de energia, para 2011, além de incorporar mais 95,27 MW médios ao Sistema Brasileiro, o que vai descartar a necessidade do uso da energia suja das termelétricas.
A construção de grandes hidrelétricas no Rio Madeira, em particular no trecho que corre dentro do município de Porto Velho, é uma antiga reivindicação do estado. A Amazônia precisa, com urgência, de um projeto de infra-estrutura que leve o desenvolvimento sustentável para a região.
O aproveitamento do potencial energético do Rio Madeira é o caminho para esse crescimento. Entre as principais obras do PAC, as hidrelétricas oferecem ao país a possibilidade de cumprir as metas de desenvolvimento limpo da Região Norte, gerando postos de trabalho e aumento de renda da população, além de incrementar o orçamento dos municípios de Rondônia.
Com a oferta de emprego crescente e o aumento na qualidade de vida nas cidades, as atividades de garimpo, a extração desenfreada de madeira e as queimadas também perdem espaço.
Outro fator de grande importância, que torna as hidrelétricas ainda mais necessárias, é a disparada dos preços do petróleo e do gás natural em nível global. Nesse contexto, deve-se acrescentar, ainda, a crescente preocupação com a segurança no fornecimento desses combustíveis.
Por todas essas razões, e pensando especialmente no povo brasileiro, no crescimento de nossa economia e na preocupação com o meio ambiente, é vital que se decida já pela continuação das obras das usinas hidrelétricas no Rio Madeira.
Moreira Mendes - Deputado Federal (PPS-RO)
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