Sexta-feira, 20 de março de 2015 - 07h56
O índio Catarino Gavião, 70 anos, ergueu nos ombros o saco de castanhas-do-brasil pesando 20 quilos, carregando-o por cinco minutos diante da mesa formada pelo vice-governador, Daniel Pereira, e três procuradores da República, no auditório do Palácio Presidente Vargas, em Porto Velho.
Esse gesto marcou na última quarta-feira (18) a apresentação da safra indígena do Corredor Etnoambiental Tupi-Mondé (Mato Grosso – Rondônia) dessa fruta oleaginosa com certificação orgânica. No corredor vivem e trabalham índios Rikbaktsa, parte dos Cinta-Largas e 40 famílias de pequenos agricultores da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt (Noroeste de Mato Grosso).
Incentivado pelo Projeto Pacto das Águas, os índios colhem, em média, 350 a 500 toneladas de castanha, por ano, protagonizando talvez o mais expressivo resultado até então obtido na Amazônia brasileira. O corredor estende-se da Bacia do Juruena (Amazônia mato-grossense) à região do rio Roosevelt.
Em Rondônia, o Pacto das Águas chegou às terras indígenas do Igarapé Lourdes (185 mil hectares) e Rio Branco (245 mil ha), mobilizando 1,9 mil pessoas no total de 46 aldeias. Apoiou-as na comercialização de 185 toneladas entre indígenas e cooperativas de Rondônia e São Paulo.
O vice-governador, Daniel Pereira, que presidiu a reunião de trabalho com procuradores da República e líderes indígenas, informou que o governo do Acre se dispôs a “socializar experiências” com Rondônia. E não descarta a possibilidade da agregação de valores, conforme admitiu na reunião a secretária adjunta de Agricultura, Mary Braganhol. Rondônia poderá fabricar farinha de castanha para ser distribuída à merenda escolar.
O vereador índio, Arão Orowaran Xijein (PTB), disse que a lata de castanha é atualmente vendida a R$ 25, na região de Guajará-Mirim, porém, lamentou o contrabando da produção daquele município para o País vizinho, Bolívia.
Segundo o coordenador do projeto, Plácido Costa, a renda de R$ 5 milhões resultante de ações apoiadas pela Petrobras Socioambiental possibilitou a conservação de matas e mananciais de água, e o manejo sustentável de culturas locais na Amazônia mato-grossense. Em 2014 o projeto proporcionou renda superior a R$ 5 milhões para seringueiros e índios Cinta-Largas, Rikbaktsa, Gavião e Arara.
Conforme Costa, no pico da safra já é possível obter preços justos “para segurar o estoque”, vendendo melhor na entressafra (a partir de maio), em melhores condições de mercado. “O melhor período é novembro, porque as compras aumentam, antecedendo ao Natal”.
MATURIDADE
Para Plácido Costa, a Associação Indígena Gavião deu um “salto de maturidade”, ao conseguir pela segunda vez recursos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Isso muda paradigmas”, comentou, adiantando que no último empréstimo, a comunidade recebeu R$ 103 mil do Ministério da Agricultura.
Josias diz que a exploração do produto considera um aspecto histórico que é presença da família no castanhal
Crianças e adultos, 70% da comunidade – cerca de 400 pessoas – participam da colheita, segundo o presidente da associação, Zavidjaj Djiguhr (Josias), 30 anos, pai de duas filhas, de 10 e 4 anos. “Não basta extrair o produto por questão econômica, existe um aspecto histórico a considerar: a presença da família no castanhal, e nisso estamos bem organizados, desde 2010″, afirmou.
O articulador do projeto em Rondônia, Sávio Gomes Rego, explicou que o Pacto das Águas trabalha com o melhoramento do manejo da castanha. “A região amazônica é usada como fonte de renda e meio de vida, agregando valor ao extrativismo”, pontuou, lembrando que antigamente isso era feito sem o devido cuidado “e mudar isso é muito importante para a busca de mercados, inclusive fora dos dois estados envolvidos e até em outros países”.
Estima-se que 1,8 milhão de hectares de florestas estejam protegidos, graças à exploração de castanhais. Segundo Josias, ao acampar na floresta os índios ensinam aos filhos a tecer cestos e tapiris, pescar, cozinhar pratos tradicionais e, com a perambulação em busca da colheita, todos exercem a gestão territorial, inibindo a presença de invasores. Ao mesmo tempo, a Associação Indígena vê a demanda de mercado, seleciona o produto, faz a secagem e armazena corretamente, num conjunto de ações denominadas boas práticas.
Plácido Costa disse ainda que há desafios a vencer, alguns dos quais já enfrentados. “A diminuição do êxodo rural nas regiões abrangidas, por exemplo. A situação estimulou jovens índios e seringueiros a estreitarem laços com suas terras, identidade e cultura. Criamos alternativas sustentáveis de ocupação da terra em detrimento do modelo vigente de desmatamento; preservamos dois mil hectares da Amazônia mato-grossense, evitando a expansão de pastagens e a exploração madeireira predatória”.
Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Bruno Corsino
Decom - Governo de Rondônia
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