Domingo, 13 de dezembro de 2009 - 16h53
Essa é uma história de invasão de terra, desmatamento ilegal, destruição de patrimônio e ameaça de morte
MÁRIO COHN-FALFT (*)
IRANDUBA, AM – Não é sobre a irmã Dorothy e não passa no Pará. Passa aqui perto, no município de Iranduba, onde tenho um sítio, com uma vista linda do rio Negro. Na verdade, o sítio é meu e de três sócios, também colegas de trabalho. Compramos há uns 12 anos, principalmente porque continha uma área muito bonita de floresta primária.
Dedicamo-nos a proteger a floresta lá, mas não adiantou. Na noite da sexta-feira da semana passada, a casa do sítio queimou até o chão. Foi incendiada propositalmente por uns quatro homens que chegaram se perguntando em voz alta, "A gente mata ele ou só bota fogo na casa?" Foi isso que o caseiro ouviu, às 22h, logo antes de fugir pelos fundos. Ele só não estava dormindo naquele horário porque tinha recebido mais cedo um recado através de um parente dele: "Saía da casa se quiser continuar vivo". Quando não tinha mais jeito, acabou seguindo o conselho.
Indústria aceita e com apoio de políticos
Assim foi a etapa mais recente do conflito que se acirrou ao longo dos últimos meses. Aqui em Manaus estamos acostumados, calejados até, a ouvir falar sobre a invasão de terras, principalmente de mata virgem. Sabemos, inclusive, que é o método preferido de expansão urbana, pois é barato e certeiro.
Aproveitam da imagem de gente pobre sem terra, acontece rapidamente e depois não há como recuperar a floresta perdida. E oferecem a candidatos políticos popularidade em anos eleitorais, por meio da legalização retroativa. É uma indústria, tacitamente aceita e até encorajada por governos locais – já faz parte do planejamento do desenvolvimento.
No caso do nosso sítio, o terreno vizinho, também coberto por floresta primária, parece pertencer a um ex-prefeito da região. Esse, segundo fontes locais, teria prometido loteá-lo em centenas de terrenos menores. Apesar de disputas sobre a verdadeira posse dessa propriedade, colocou-se um administrador chamado "Pingelão", um cara temido pelo povo local, para tocar a distribuição e ocupação do loteamento, denominado "Residencial Portelinha". A partir daí começou o desmatamento e, eventualmente, a invasão e desmatamento de grandes partes do nosso sítio.
Derrubadas já afetam a vizinhança
Mas antes disso, já houve conflitos. A principal indústria no município de Iranduba são as olarias – fábricas de tijolos e telhas de barro. É uma indústria de exploração de recursos naturais: o barro que compõe o solo da região é cavado, preparado, e assado em fornos a lenha, também extraída das matas ao redor.
Na ausência de um sistema de plantio de espécies próprias para lenha, o desmatamento resultante já afetou a região quase toda, nossa área sendo uma das poucas ainda a ter mata alta e bonita.
Foi justamente isso que nos atraiu para o local, onde já foi catalogada uma biodiversidade maravilhosa, inclusive espécies de sapo e macaco novas para a ciência. Sempre tivemos que proteger o terreno contra a extração ocasional de madeira.
Naturalmente, a chegada do asfalto e da luz elétrica ao ramal de acesso, há vários anos, aumentaram a pressão em cima da florestinha. E também trouxeram facilidades, inclusive para a nossa capacidade de vigiar. Mas no último ano, talvez devido ao começo da construção da ponte sobre o rio Negro e a perspectiva do outro lado do rio se tornar uma continuação da área urbana de Manaus, acelerou notavelmente a venda e invasão de terras por lá.
Denúncias em série. Para quê?
O loteamento da Portelinha, que parece não ter nenhum tipo de autorização ambiental, já desmatou sua área toda e começou a invadir o nosso terreno, derrubando floresta primária e pondo fogo. Iniciamos uma série de denúncias em todas as instâncias possíveis, que até hoje não resultaram em nenhuma resposta legal. Enquanto isso, remarcamos repetidamente os limites de nossa propriedade e que remover construções feitas dentro dela. O incêndio da nossa casa parece ser uma resposta direta e pessoal à nossa insistência em manter o que é nosso.
A casa não fica perto da área invadida, não há outra ocupação ou desmatamento próximo, e o fogo não originou em outro local. No meio de uma área isolada e particular, uma casa queimou até o chão em poucas horas.
Não tenha dúvida de que foi proposital. Foi anunciado. E também foi ameaçado e debatido assassinar o caseiro. Incêndio doloso é crime sério. Mas desmatar, invadir terra particular e ameaçar vida humana também são. Quando começará a haver investigação, condenação e punição?
Quem executa o crime já é criminoso. Quem está por trás é bandido. Enquanto esses elementos sejam tolerados agindo em prol do desenvolvimento regional, onde está a tal "governança" que nos foi garantida mudar o curso da história para um desenvolvimento ecológico e sustentável? Se não há controle no quintal da capital, devemos acreditar na governança nos megaprojetos do interior? Essa é a Manaus, o Amazonas, social e ambientalmente corretos que estamos correndo para mostrar ao mundo em 2014?
(*) É pesquisador biólogo e curador da Coleção de Aves do Inpa. Pesquisa aves desde os anos 1980.
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