Domingo, 13 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Política - Nacional

Sucessão de erros deve ter causado acidente, dizem especialistas


Agência O Globo RIO - Especialistas em aviação são unânimes em afirmar: um acidente dificilmente acontece por causa de um único erro, de uma única falha. Para que dois aviões modernos se choquem em pleno vôo é preciso que ocorra uma sucessão de erros. O Fantástico entrevistou duas autoridades para descobrir o que pode ter acontecido no caso do vôo 1907 da Gol. Milton Zuanazzi, diretor-presidente da Anac - a Agência Nacional de Aviação Civil, órgão responsável pela fiscalização do espaço aéreo brasileiro. E o comandante João Luís Guimarães, que foi chefe do antigo DAC - o Departamento de Aviação Civil. Foi ele o responsável pelas investigações do acidente com o Fokker 100 da TAM, que caiu em São Paulo, em 1996. Primeira pergunta: os pilotos do Legacy afirmaram no depoimento à polícia que o plano de vôo permitia que eles seguissem caminho a 37 mil pés, a mesma altitude do Boeing da Gol. Aviões que voam nessa área de Sul para Norte, caso do Legacy, só podem voar a altitudes pares, como 36 mil pés ou 38 mil pés. É possível que eles tenham recebido um plano de vôo errado? - Não, isso não. Um plano de vôo, quando autorizado pelo nosso sistema, ele é o plano de vôo daquela aeronave. É praticamente impossível ele receber um plano de vôo errado. Aquilo é controlado pelo computador e quando o computador determina o seu plano de vôo ele está estabelecido e é ele que tem que seguir em caso de falha de comunicação - diz Milton Zuanazzi. - Não, porque se o plano fosse aprovado errado, na hora em que você preenche o plano, quem recebe o plano verifica todos os pontos. E são pessoas muito experientes - diz João Luís Guimarães. Até agora, não foi divulgada uma cópia do plano de vôo que os pilotos americanos tinham em mãos e disseram ter sido preparado pela Embraer. Para a Anac, esse é um dado que precisa ser investigado. - Agora, por que ele estava a 37 mil pés, e se isso está coordenado com o seu plano de vôo, é o que a investigação vai ter que resolver - diz Zuanazzi. Segunda pergunta: será que houve falha de comunicação? Fontes da Aeronáutica afirmam que a caixa preta do Legacy acusa sete tentativas de contato das torres de Brasília e Manaus com o jato. Nos depoimentos, os pilotos americanos disseram que perderam contato com os controladores depois que passaram por Brasília. Para o ex-chefe do DAC, falhas de comunicação são possíveis. - À tardezinha, no pôr do sol, normalmente a gente tem mais dificuldade em transmitir por causa dos raios do sol. São interferências eletromagnéticas - diz João Luís Guimarães. O acidente aconteceu exatamente no fim da tarde. O diretor da Anac diz que possíveis interferências no sistema de rádio nada têm a ver com algo que foi levantado durante a semana, de que o controle de tráfego aéreo do Brasil teria zonas de sombra. - Questões de rádio são outras coisas. Você, às vezes, não está dentro da freqüência ou não encontra a freqüência devida. Então, às vezes não tem a comunicação de rádio. Mas não tem nada a ver com a cobertura do radar. A cobertura do radar, o radar brasileiro cobre toda esta região como cobre todo o território nacional - diz Zambiazzi. Terceira pergunta: como foi que o comandante americano não conseguiu ver, à luz do dia, a aproximação do Boeing? Mais uma vez, a hora do acidente pode ter contribuído, além da cor do avião da Gol. - A aeronave toda branca também tem isso. Se fosse noturno, por exemplo, você teria visto de longe o farol rotativo, o bico - diz João Luís Guimarães. Quarta pergunta: as duas aeronaves contavam com sistemas anticolisão. Os pilotos americanos disseram no depoimento à polícia que o equipamento do Legacy não acusou qualquer risco. É possível que tenha havido falha do sistema? - Isto é uma resposta que a investigação tem que buscar - diz o diretor da Anac. Quinta pergunta: o comandante americano disse à polícia de Mato Grosso que tinha 20 horas de experiência em simulador de vôo de Legacy e cinco horas de pilotagem naquele tipo de avião. Esse treinamento era suficiente? Considerando-se um piloto com mais de 20 anos de profissão? O comandante João Luís acha que sim e também não vê qualquer motivo para que os americanos tenham feito manobras arriscadas, que não seriam permitidas pelos controladores de vôo. - É proibido se fazer qualquer tipo de manobra em aerovia. Depois, a 37 mil pés, aeronaves comerciais não podem fazer manobras, a aerodinâmica não permite porque elas estão muito próximas do teto de serviço do avião - diz João Luís Guimarães. Teto de serviço é a altitude máxima a que um avião pode voar. No caso do Legacy, 41 mil pés. Para as autoridades consultadas, as respostas definitivas só virão com as transcrições completas dos diálogos. - Os pilotos dentro da cabine se comunicam. E isso tudo fica gravado. Até uma conversa informal pode ser detectada. E também com a leitura dos instrumentos de bordo das duas aeronaves, como os transponders, que funcionam como radares. Só com a reconstituição, minuto a minuto de todos os diálogos em cruzamento com as informações técnicas, é que teremos as respostas - diz Zambiazzi. - A gente coloca isso minuto a minuto e aí você tem o mapa do que aconteceu com as comunicações e aí, como eu volto a dizer, piloto nenhum faz algum movimento que ponha em perigo a vida dele. O bem maior que a gente tem e a nossa vida - diz João Luís. A Embraer não quis se manifestar sobre os depoimentos dos pilotos americanos.

Gente de OpiniãoDomingo, 13 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou nesta sexta-feira (25) maioria de votos para determinar que a Câmara dos Deputados faça a redistribuição do

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

O Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (SInagências) conseguiu uma solução direta do governo após intensa articulaç

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Reservas foi instaurada em Rondônia para investigar possíveis irregularidades nos processos de criação

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Na tarde dessa segunda-feira (06), o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), Paulo Pimenta, esteve r

Gente de Opinião Domingo, 13 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)