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Seca amazônica volta a ameaçar, alertam pesquisadores


Cientistas advertem que 400 mil hectares de florestas afetadas por megaincêndio de 2005 em Madre de Dios, Acre e Pando agravam o perigo do fogo neste ano
Altino Machado
Pesquisadores da Região MAP -Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia)- alertam que nos próximos anos poderá se repetir na região sudoeste da Amazônia o inferno de queimadas e incêndios florestais da seca de 2005. Dados coletados pela Defesa Civil do Acre indicam que o Rio Acre baixou até 2,67m nos primeiros dias de julho. A medida está abaixo da registrada no ano passado no mesmo período, mas um pouco acima do pior nível, ocorrido há dois anos, durante a grande seca, quando o nível do rio ficou reduzido a 2,41m. A expectativa é de que o nível vai continuar baixando caso não haja chuva nos próximos dois meses.
O nível baixo indica que o subsolo da bacia do Rio Acre está com pouca água. Se continuar sem chover nos próximos meses, aumenta o perigo haver condições iguais às de 2005, quando o fogo se alastrou de modo incontrolável pelas florestas da região. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a previsão para o clima no Acre nos próximos dias indica que não haverá chuva até domingo. A temperatura oscilará entre 18 e 34°C. A umidade relativa do ar oscilará entre 30% e menos de 90%. A cobertura de nuvens deverá ser mínima.
"Os resultados científicos recentes indicam que as secas, como a ocorrida há dois anos, podem ficar mais comuns nos próximos anos", disse o cientista Foster Brown, do Woods Hole, da Universidade Federal do Acre (Ufac) e do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA).
Os dados do Inpe indicam que o risco de fogo no Acre é cada vez maior. As condições não são muito favoráveis para o fogo no município de Rio Branco, mas na área de influência da BR-317 , entre Senador Guiomard e Assis Brasil, as condições são classificadas como alta e crítica. "Isto significa dizer que se fazendeiros e agricultores resolverem queimar nestes dias, as condições climáticas são extremamente favoráveis", assinala o botânico Evandro Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia no Acre e do Parque Zoobotânico da Ufac.
Não chove significativamente no Acre há mais de um mês. Em 2005, a seca se prolongou e algumas áreas passaram mais de três meses sem chuva. O nível do Rio Acre baixou tanto que o abastecimento d’agua de Rio Branco quase foi comprometido. Igarapés secaram e nas áreas rurais as pessoas ficaram sem água. Além disso, o fogo destruiu lavouras, pastos, causou a morte de gado e impactos sociais e ambientais. O prejuízo foi estimado em R$ 150 milhões.
Naquele ano, cerca de 260 mil hectares de florestas foram afetadas pelos incêndios e mais de 200 mil hectares de áreas abertas queimaram no leste do Acre. "Se espera que a área seja maior porque só podemos identificar em imagens de satélite onde o fogo passou caso o mesmo tenha afetado as folhas das copas das árvores. Mas houve incêndios rasteiros que tiveram impactos, principalmente nas plântulas e mudas que representam a regeneração da floresta", disse Brown. As florestas danificadas por incêndios rasteiros não necessariamente apareceram nas imagens de satélite.
A fumaça no Acre ficou tão intensa, que virou um dos piores momentos da Amazônia, atingindo níveis aquém dos valores máximos permissíveis. No Departamento de Pando, na Bolívia, na fronteira com o Acre, mais de 120 mil hectares de florestas foram afetadas pelos incêndios. Em Madre de Dios, o estrago foi menor, porém mais de 20 mil hectares de florestas foram castigadas pelo fogo.
Valor dos impactos
Os pesquisadores têm advertido que todas as florestas danificadas pelos incêndios ainda representam áreas de risco. Brown tem proferido desde então palestras para chamar a atenção para o fato de que os incêndios mataram várias árvores e cipós e causaram um acúmulo de matéria orgânica morta que, caso o fogo volte, servirá como lenha.
"Em muitos casos, o dossel da floresta é bem mais aberto, permitindo que o sol seque a serrapilheira mais rapidamente do que numa floresta não afetada por incêndios. Houve perdas de serviços ambientais, isto é, danos aos ciclos de água e nutrientes, à biodiversidade e à regeneração, com a morte de seringüeiras e madeira de lei. Além destas perdas, houve também estrago na saúde humana e de ecossistemas, causado pela fumaça e gases tóxicos associados com a fumaça", acrescenta Brown.
Ele disse que é difícil estabelecer um preço sobre os impactos, mas que se poderia usar a multa do Ibama, de R$ 1 mil por hectare, como um indicador do valor que a sociedade coloca nestas perdas e danos. "Neste caso, a Região do Madre de Dios, Acre e Pando, que teve mais de 400 mil de hectares de florestas impactadas, ficou mais empobrecida em R$ 400 milhões".
Segundo Brown, não se sabe em quanto tempo essas florestas vão se regenerar com a decomposição da matéria orgânica morta acumulada e o fechamento do dossel. De acordo com estudo iniciado pela Ufac, florestas com quase dois anos se recuperando ainda mostram os efeitos dos impactos dos incêndios.
A história recente da Amazônia mostra que, independente do aquecimento global, a região já sofreu secas esporádicas que causaram impactos grandes. "A seca de 1926 foi bem pior, pelo menos em termos do nível do Rio Negro, registrado em Manaus, do que a seca de 2005, só que houve muito menos gente afetada. Se aconteceram no passado, estas secas vão acontecer no futuro. É só uma questão de quando e em qual freqüência".
Bombas hidráulicas
O professor Cleber Salimon, do Departamento de Ciencias da Natureza da Ufac e cientista do LBA, disse que as árvores de uma floresta funcionam como bombas hidráulicas, absorvendo água do solo pelas raízes e emitindo como vapor d'água pelas folhas, resfriando as folhas e o ar na floresta. Segundo ele, esse processo de transpiração serve para transformar o calor que sentimento em calor latente, usado para produzir vapor d'água.
"Quando entramos numa floresta num dia de calor, sentimos na pele a redução da temperatura. Com temperaturas mais baixas dentro da floresta e umidade elevada, as folhas e galhos caídos no chão da floresta, chamada de foliço ou serapilheira, ficam úmidas e não permitem o alastramento de fogo dentro de florestas", acrescentou Salimon.
Brown e Salimon dizem que, em alguns casos, o bombeamento pode reduzir o fluxo de igarapés nas florestas, mas também permite que haja mais chuvas em outras regiões onde o vento leva este vapor d’água. No caso do Acre, uma parte significativa da chuva que cai no Estado já foi bombeada pelo menos uma vez por florestas na região de Pará, Mato Grosso e Rondônia.
Os dois cientistas dizem que, do mesmo jeito, o vento que "faz a curva" acima do Acre, mudando de ventos do leste para ventos do noroeste, leva vapor d’água das florestasacreanas para Bolívia e sudeste do Brasil. "Parte da chuva que cai em São Paulo é do vapor d’água transpirada de florestas do Acre. Estas relações de longa distância ganharam uma palavra nova: teleconexões. Nos estudos de clima, se descobrem cada vez mais estas teleconexões entre processos em várias partes da Terra. Consequentemente, o desmatamento no leste da Amazônia pode ter um efeito nas chuvas daqui, especialmente na época seca", explica Brown.
O bombeamento d’água em florestas ocorre o ano inteiro, com ou sem chuva. Quando há um período que se estende, sem chuva, a água do solo vai sendo absorvida e transpirada, secando o solo. Se isto continua por muito tempo, as árvores começam a ter dificuldades de transpirar. Folhas podem cair, abrindo o dossel da floresta, permitindo que o sol seque o chão mais rapidamente. Sem transpiração, o ar se torna mais seco dentro da floresta. Se ficar seco demais, o fogo pode se propagar, causando os chamados incêndios florestais. Os pesquisadores torcem para que chova esporadicamente nos próximos meses.
 
Fonte: Amazonia.org.br 
 

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