Domingo, 13 de maio de 2007 - 18h43
Bruno Bocchini
Agência Brasil
Aparecida (SP) - O papa Bento XVI voltou a defender hoje (13) o afastamento da igreja católica latina-americana da política. Em seu pronunciamento durante abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, Bento disse que caso a igreja se torne um sujeito político, correrá o risco de perder sua autoridade moral e independência.
"O trabalho político não é competência imediata da igreja. Se a igreja começar a transformar-se diretamente em sujeito político, não faria mais pelos pobres e pela justiça, senão faria menos, porque perderia sua independência e sua autoridade moral, identificando-se com uma única via política e com posições parciais opinativas. A igreja é advogada da justiça e dos pobres precisamente ao não se identificar com os políticos nem com os interesses de partidos", disse em pronunciamento lido em espanhol.
Essa foi a segunda vez que o papa criticou publicamente a relação igreja e política na América Latina nesta visita ao Brasil. Antes, no sermão proferido durante a manhã, na missa campal, celebrada no pátio da catedral de Aparecida, o papa disse que a fé não poderia ser confundida com ideologia política, movimento social ou sistema econômico.
A conferência dos bispos é um dos principais encontros políticos dos católicos na América Latina e serve de parâmetro para o comportamento da igreja nos próximos anos. O pronunciamento do papa na abertura baliza as discussões dos bispos, que seguirão até próximo dia 31.
Em seu discurso na abertura da conferência dos bispos, Bento ainda defendeu que a igreja preserve e purifique, se necessário , o mosaico religioso popular da América Latina, desde que assentado no cristianismo católico. Ele disse que voltar a dar vida às religiões pré-colombianas seria um retrocesso.
"A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de cristo e da igreja universal, não seria um progresso, mas sim um retrocesso. A sabedoria dos povos originais os levou afortunadamente a formar uma síntese entre suas culturas e a fé cristã que os missionários os ofereciam. Dali nasceu uma rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos (...) Tudo isso forma um grande mosaico de religiosidade popular que é um precioso tesouro da igreja católica na América Latina e que ela deve proteger, promover e se for necessário, purificar", disse.
O líder da igreja católica considerou que a América Latina tem evoluído com relação à democracia, ainda que, segundo ele, haja motivos de preocupação diante de formas de governo autoritárias, que acreditamos ultrapassadas".
Bento XVI desferiu críticas a governos neoliberais. "Por outro lado, a economia neoliberal de alguns países latinos americanos tem de considerar a igualdade, pois seguem aumentando os setores sociais que se vêem desafiados cada vez mais por uma enorme pobreza (...) e ainda espoliados dos próprios bens naturais".
O bispo chileno Sidnei Fones, secretário-geral adjunto da conferência dos bispos, disse que, além do pluralismo referido pelo papa, a migração e o intercâmbio cultural dos povos latino-americanos deve ser colocado em discussão.
"Eu acho que a realidade nos últimos quinze anos não é de unidade, a realidade da América latina é de pluralismo. Além disso, o que é muito importante na América Latina hoje é o tema da migração. Migração por falta de condições de trabalho. Diante dessas questões há um problema de iniqüidade dentro da nossa sociedade que temos que pensá-lo, e como pode a igreja servir neste sentido".
Para o bispo panamenho José Tomaz Gonzáles, o encontro possibilitará que todos tomem conhecimento da vida e da fé dos mais pobres do continente. "É nesses encontros máximos da igreja que se sente pulsar o coração dos mais pequenos, dos povos empobrecidos. É aqui que se dá conta de como vive o resto do mundo, é aqui que as pessoas se interam de como se vive a fé cristã nos povos mais pobres".
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