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Política - Nacional

OPINIÃO: A coca boliviana



Vitor Gomes Pinto*

De acordo com o noticiário mais recente, laboratórios de refino de cocaína foram estourados em Uberlândia, no bairro Vitória de Rio Branco, numa casa de luxo de Vila Ademar – zona sul de são Paulo. O Brasil é tido como o país de maior trânsito mundial de éter e acetona ou de substitutos como exano, anidrido acético, essenciais para a fabricação de cocaína a partir da pasta-base de coca que vem principalmente da Bolívia devido às facilidades encontradas pelo tráfico nas rotas tradicionais que são três: a) de Guayamerín por Guajará-Mirim, Abunã e Porto Velho; b) de San Joaquín por Costa Marques até Cacoal com o uso freqüente de aviões de pequeno porte ou via Cáceres e daí a Cuiabá e Goiânia; c) de Porto Suárez passando por Corumbá ou Ladário até Campo Grande e então a Andradina ou cidades próximas em São Paulo. Há caminhos alternativos, como o que leva a droga cultivada nos vales bolivianos do Chapare em Cochabamba e Los Yungas próximo a La Paz à Argentina (Jujuy/Salta/Corrientes) e então a Foz do Iguaçu, ademais da coca peruana que frequentemente vem para o Brasil via Bolívia. A coca colombiana costuma fluir de Vaupés pela região da Cabeça do Cachorro no rio Negro até Manaus, ou passando pela Venezuela junto ao rio Meta para entrar no nosso país por Paracaíma em Roraima.

O intenso comércio da droga que une Bolívia e Brasil voltou a ganhar destaque com as declarações do candidato à presidência José Serra de que o volume é tão grande e tão intenso que não poderia ser do desconhecimento de Evo Morales e de seu governo. Na verdade, a coca é um dos principais motores da economia boliviana, embora não figure nas estatísticas oficiais. Isso justifica, de um lado, que a Bolívia seja a 102ª. economia mundial (já foi uma das primeiras antes de que os espanhóis levassem quase todo o seu estanho) com um PIB de U$ 39,4 milhões de dólares e o 118º pelo mais recente ranking mundial do Índice de Percepção da Corrupção da ONG Transparência Internacional, no qual o Brasil permanece numa longínqua 75ª posição.

Planta-se coca somente em três países no mundo: Colômbia (51% do total), Peru (36%) e Bolívia (13%). A agência da ONU para assuntos de droga e crime, a UNODC, informa que a área cultivada boliviana com coca aumentou 8% em 2008, repetindo o comportamento dos dois anos precedentes. Dos 30.500 hectares plantados, dois terços estão em Los Yungas que, pela estrada da morte, dista somente 100 quilômetros da Praça Pedro Domingo Murillo no centro de La Paz onde está a sede do governo, o Palácio Quemado. Reiteradamente a UNODC tem pedido aos governos peruano e boliviano que proíbam a população de mascar coca, mas a atual política do Movimiento Al Socialismo, o MAS de Evo Morales, escudado no uso ancestral da folha de coca em rituais religiosos e no combate aos efeitos da altitude, é de “coca sim, cocaína não”, preferindo denunciar o imperialismo norte-americano por não controlar seus milhões de consumidores de droga.

Desde que, na Cúpula Antidrogas de 2001, o Secretário-Geral da ONU recebeu um manifesto assinado por mais de seiscentos intelectuais de 63 países, entre os quais vários Prêmios Nobel, dizendo que a guerra global contra o narcotráfico está causando mais danos do que o próprio consumo, a pressão tem aumentado, pois os ganhos extraordinários dos traficantes continuam corrompendo governos em todos os níveis, estimulando a violência e solapando os sistemas de segurança. Entre várias outras organizações, a “Coalizão Européia por uma Política de Drogas Justa e Eficaz” continua pregando contra a ineficiência do binômio prevenção&repressão adotado pela UNODC e apoiado pelos Estados Unidos. Para que a droga deixe de ser um problema policial e se torne um problema de saúde pública, cada país precisa fazer a sua parte, o que inclui o Brasil. Não basta acusar a Bolívia e os outros países andinos que cada vez produzem mais coca. Há que controlar o uso interno e bloquear as rotas do tráfico que levam a droga, com surpreendente tolerância das autoridades, aos países grandes consumidores.

*Vitor Gomes Pinto
Analista internacional
Escritor. Autor do livro “Guerra en los Ande

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