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Política - Nacional

Legacy pode ter desobedecido a ordem de torre


Jaílton de Carvalho, Martha Beck, Bernardo de la P - Agência O Globo Segundo informações apuradas pelos investigadores, o piloto do Legacy pediu autorização para voar a uma altura de 37 mil pés, a mesma que o Boeing vinha usando desde Manaus. No dia do acidente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que o Boeing da Gol estava a 36 mil pés. Informação que contraria a regra do controle de vôo no país. As aeronaves que partem do Norte em direção ao Sul sempre usam rotas ímpares em níveis de vôo, como 35 ou 37 mil pés. Já os aviões que partem do Sul em direção ao Norte, os níveis são pares. Por isso o Legacy tinha que estar a 36 ou 38 mil pés. Uma fonte da Infraero esclareceu que uma aeronave pode voar "na contramão" em situações especiais, quando não há tráfego aéreo. Foi o que teria acontecido com o Legacy na primeira etapa de sua viagem em direção a Manaus. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, confirmou ontem que o plano de vôo do Boeing estabelecia uma altitude de 37 mil pés e o do Legacy, 36 mil pés. Ele também disse que os dois se chocaram a 37 mil pés. - O Boeing estava a 37 mil pés e eles e bateram porque o Legacy também estava a 37 mil pés - afirmou o brigadeiro O Comando da Aeronáutica divulgou nota informando que foram encontradas nesta segunda-feira as duas caixas-pretas do Boeing 737 da Gol, que caiu na última sexta-feira. Agora, os equipamentos de gravação de voz (voice recorder) e de dados (digital flight data recorder) serão encaminhados à comissão de investigação do acidente para serem analisados. Elas também serão encaminhadas para a sede do fabricante do avião nos Estados Unidos para perícia. Mais cedo, as autoridades haviam informado a localização de uma mancha cor de abóbora, indicando o local onde estaria a cauda da aeronave, que traz a logomarca da empresa aérea, que é dessa cor. Segundo a Aeronáutica, o trabalho desta segunda privilegiou o resgate das vítimas na área dos destroços da aeronave. Aproximadamente 100 corpos já foram encontrados e serão encaminhados nesta terça à base de apoio na Serra do Cachimbo, para que os peritos legistas possam dar prosseguimento aos trabalhos de preparação para identificação. Não há sobreviventes. Continuam atuando na operação de busca e resgate 75 militares da Aeronáutica e do Exército, além de várias aeronaves. Fontes citadas em reportagem de O Globo levantam a hipótese de ter havido uma falha do controle de tráfego aéreo. Uma falha de comunicação entre as torres de controle de Manaus e Brasília pode ter sido responsável pelo choque as duas aeronaves. Segundo a fonte, o jato Legacy da Embraer voava a 37 mil pés de altitude (dez mil metros), com autorização da torre de Brasília. Por solicitação do piloto do Boeing, a torre de Manaus teria autorizado que a aeronave da Gol subisse de 35 mil para 39 mil pés. Como as duas torres não teriam se comunicado sobre esta decisão, teria havido a colisão. O piloto do jato Legacy, Joseph Lapore, cuja apreensão do passaporte foi autorizada nesta segunda pela justiça federal, disse em depoimento à polícia de Mato Grosso que uma falha no equipamento anticolisão pode ter sido a causa do acidente que deixou 155 pessoas mortas. De acordo com o depoimento, se o equipamento anticolisão estivesse funcionado, "talvez essa tragédia não tivesse ocorrido". - Ainda que você tenha todos os dados da aeronave americana, você não tem ainda as caixas pretas da Gol. As informações precisam ser cruzadas para, a partir disso, você ter uma conclusão (...) O que dá para afirmar é que houve a colisão - disse, em entrevista à imprensa em Brasília. Ela também minimizou a possibilidade de falha no controle do espaço aéreo: - O Brasil conquistou uma posição internacional de absoluta segurança de vôo. É a segunda maior aviação do mundo, com pouquíssimos acidentes. Não há que se colocar em dúvida, por ora, que tenha havido alguma falha no controle do espaço aéreo. É de quase zero esta possibilidade - disse. O comandante-geral da Aeronáutica, brigadeiro Luis Carlos Bueno, também disse nesta segunda-feira que tudo indica até agora que um dos aviões mudou de altitude sem informar ou pedir autorização às torres de comando. O comandante informou ainda que a caixa-preta do Legacy, que pode ter colidido com o avião da Gol, está em São José dos Campos (SP) sendo periciada pela Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo a diretora da Anac, uma comissão do órgão regulador do mercado de aviação dos Estados Unidos (National Transportation Safety Board, ou NTSB), chegará ao Brasil na próxima terça-feira para acompanhar as investigações da causa do acidente. Denise Abreu disse ainda que o conteúdo das caixas pretas da aeronave americana, o Legacy, estão em perfeito estado. - Foi feito o recolhimento de dados com absoluto sucesso. O que significa que as caixas pretas de voz e de dados conseguiram apresentar os elementos necessários para uma primeira convicção da comissão - disse, referindo-se ao grupo técnico formado por representantes da Aeronática e da Anac. Mais cedo, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse que o sistema anticolisão do Legacy estava operacional. Segundo ele, o aparelho foi testado antes de o jato decolar - ele saiu da fábrica em São José dos Campos na própria sexta-feira - e também em sua chegada na Base Aérea de Cachimbo, no Mato Grosso, onde a aeronave fez o pouso forçado após avarias decorrentes de um provável choque com o avião da Gol. A Força Aérea Brasileira divulgou foto do Legacy, na qual se vê uma parte da asa esquerda quebrada. No entanto, Zuannazzi não soube dizer se o mesmo equipamento estava funcionando no Boeing da Gol. Parentes das vítimas, enquanto isso, estão exigindo uma audiência com Ministro da Defesa. Eles dizem não estar recebendo informações suficientes sobre o acidente e pedem que o exército também participe das buscas. AMERICANOS NO COMANDO DO LEGACY O jato Legacy 600, de bandeira americana, estava sob o comando de dois pilotos dos EUA, que foram neste domingo para São José dos Campos onde vão prestar novos esclarecimentos e ajudar as investigações da Embraer, fabricante da aeronave. Além deles, estavam no Legacy dois executivos da empresa que comprou o avião, um jornalista americano - que estava fazendo uma reportagem sobre a Embraer - e dois funcionários da fabricante brasileira. O grupo prestou depoimento à Polícia Civil do Mato Grosso durante a madrugada, em Cuiabá. Segundo Milton Zuannazzi, o grupo afirmou ter visto, instantes antes do acidente, apenas uma sombra, seguida de um barulho. Imediatamente depois, o Legacy, segundo os passageiros e tripulantes, teve que pousar. O presidente da Anac afirmou ainda que os depoimentos reforçam a tese de que houve mesmo uma colisão entre o Legacy e o Boeing. - Eles (os tripulantes e passageiros do Legacy) dizem que não viram nada. Mas isso é absolutamente normal. Pois, imagine dois aviões a 800 km/h. Eles se encontram a 1.600 km/h. Nestas condições, você só vê mesmo uma sombra e um barulho. Não vê mais nada mesmo - afirmou Zuannazzi. Zuannazzi disse que a abertura das caixas-pretas deve mostrar, por exemplo, a posição em que os aviões estavam, o contato com a torre e as autorizações dadas aos comandantes pela supervisão do espaço aéreo.

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