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Ex-ministro de FHC aponta risco de "apagão" já em 2009


Para José Jorge,  problema poderá ser agravado caso não haja chuvas

Ex-ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso, José Jorge Vasconcelos, tem acompanhado de perto os problemas que o governo federal tem enfrentado para suprir a demanda por energia elétrica no Brasil. Ex-senador e candidato derrotado à vice-Presidência da República nas últimas eleições, José Jorge atualmente preside a Companhia Energética de Brasília (CEB), empresa ligada ao governo do Distrito Federal que é comandado por seu correligionário, o democrata José Roberto Arruda.

Distante da Esplanada dos Ministérios, José Jorge relembra dificuldades enfrentadas em 2001, durante sua gestão no ministério, quando o país enfrentou sua primeira ameaça de insuficiência de energia elétrica, episódio que ficou conhecido como "apagão". Nesta entrevista, ele aponta novos riscos de racionamento e critica o governo Lula por, no seu entender, não tratar a questão com a prioridade necessária.

Segundo ele, para que não haja novos cortes de energia será necessário, além de muita chuva,  que o Ministério de Minas e Energia busque soluções em conjunto com os Estados para sanar o problema da falta de infra-estrutura no setor de energia.

O senhor, como presidente de uma companhia energética e com a experiência de ter sido ministro de estado, principalmente de Minas e Energia, qual é a sua  opinião quanto ao aumento da demanda por energia no país e a posição em relação ao tema que tem sido assumida pelo governo?

A minha opinião é que a partir de 2009 nós vamos entrar em uma área de risco.   Na realidade o nosso sistema ele é hidroelétrico. Ele é preponderantemente hidrelétrico. Então, tudo fica dependendo do regime das águas. Tem chuva, não tem chuva.  Agora, nós tivemos nos três ou  quatro últimos anos com muitas boas chuvas,  mas no primeiro ano que não houver boa chuva nós entraremos novamente em uma área de risco de racionamento.

Tem sido noticiado que estamos enfrentando a pior dos últimos 40 anos.  Como estão hoje os reservatórios de água?

Os reservatórios ainda estão bem.  Naquela época do racionamento a gente criou uma curva chamada "curva de aversão ao risco". Quer dizer, os reservatórios são administrados para minimizar esse risco de racionamento. Então, todos os reservatórios, tanto do sudeste quanto do Nordeste, estão acima da curva de aversão ao risco.  Os reservatórios estão numa situação boa.  Agora, lógico que nessa época eles começam a secar.

Os reservatórios do Sul e sudeste estão acima dessa curva?

O problema é que o sistema está mais ou menos no limite. Quer dizer, não tem energia nova na quantidade suficiente entrando.Quer dizer, novas geradoras que possam entrar (no sistema elétrico). Então, com isso, ele tem que usar o sistema ao máximo pra poder dar esse atendimento da demanda. Por outro lado, tem também toda parte de energia térmica que depende de gás e nós não temos gás. A quantidade de gás aqui no Brasil além de ser pequena agora está dependendo da Bolívia. Se o Brasil consome 50 milhões de metros cúbicos de gás por dia, 30 milhões vêem  da Bolívia

Então ele tem um déficit de 30 milhões?

É que vem da Bolívia naquele gasoduto Bolívia/Brasil. Tudo bem que não aconteceu nada na Bolívia , mas a Bolívia é um país de risco, não tem estabilidade.

Na região norte do país, nós temos bons reservatórios de gás natural para serem explorados. Essas usinas e gasodutos que estão no PAC seriam a solução?

Não, porque essas usinas são para depois de 2012, 2013. Uma usina dessas, entre o dia que começar a licitação, assina o contrato e comecem as obras, isso demora pelo menos uns 6 anos. A obra civil é muito demorada. O que se espera é que essa usina, por exemplo, as do (Rio) Madeira, que vão licitar primeiro, ela é usina pra entrar em funcionamento mais ou menos em 2013 ou 2014.

Então são mais 6 ou 7 anos para começar a geração de energia?

É. Então essas usinas grandes têm de  ser planejadas com muita antecedência. Depois tem toda as linhas de transmissão. Onde essa energia vai ser feita não há consumo. Ela vem para o Sudeste.

Então, ela é produzida lá e vem para o sudeste? Os rondonienses, por exemplo, que estarão bem próximos às usinas, não irão usar essa energia?

Não, porque lá não tem consumo para esse tamanho de usina. O consumo lá (na Região Norte) é muito pequeno com relação à capacidade que elas vão proporcionar. Na realidade, ela será conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN), que tem como grandes consumidores os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O senhor acha possível um racionamento já em 2008?

Não. Em 2008 ainda acho que não. Os reservatórios ainda estão bons. Mas eu acredito que nosso risco começa mesmo em 2009 ou 2010. Quanto menos chuva, maior o risco. Porque, na realidade, os reservatórios vão ter que ser administrados.

Há falhas do governo na condução desse processo?

Para você ter uma idéia, a ultima licitação que o governo fez não entrou a construção de nenhuma hidrelétrica,  não entrou nenhuma termelétrica a gás. Só entrou Termelétrica a óleo combustível, que é uma energia cara e suja. Essa última licitação aumentou o custo da energia e sujou o modelo. Nunca no Brasil tinha se feito uso de contratos de duração de 15 anos com produtores de energia a óleo combustível. Não é somente uma usina são diversas usinas. São mais de 800 megawatts.

O presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Paulo Mayon, afirmou que os reservatórios hoje tem apenas 40% do nível de água necessário para  geração de energia.

É acima da curva de risco, mas isso garante 2008. Como eu disse, o nosso risco de racionamento  é a partir de 2009.

Então, o risco de racionamento não está muito longe da população...

Se parar de chover o risco de racionamento aumenta. Só que a gente calcula o risco de racionamento com a água que já tem no reservatório. Se o reservatório estivesse vazio aí a seca seria preocupante, mas  como o reservatório está com um bom nível de água dá para agüentar pelo menos um ano.

Então, a licitação das usinas do Rio Madeira já vieram tardias, considerando os riscos de apagão e a demora que haverá até sua entrada em funcionamento.

Eles (o atual governo) teriam que ter começado antes, essas usinas já deveriam estar em andamento, já deveriam estar sendo construídas. Não tem nenhuma obra grande em andamento. Só tem usina pequena. Nós mesmos temos uma aqui a "Corumbá III" que gerará 80 Megawatts e assim por diante.

Mas  entre estas obras que estão no PAC, e até mesmo outras obras que não foram contempladas no projeto do governo, tem alguma que o senhor julgue suficiente para atender a demanda energética nos próximos anos?

Só tem usina pequena no PAC. E podem ficar prontas até 2012. As grandes do PAC são praticamente estas do Madeira, que já começaram a ter problemas e só deverão ser formalizadas no inicio do ano que vem. Isso acarretará mais atraso, mais chances de racionamento.

Mas e o crescimento do País não pode ficar comprometido?

O governo espera que o PIB aumente 5% até 2011, se isso acontecer, o consumo de energia aumenta 6,6 %,  no mínimo. Quando o PIB aumenta 5%, o consumo de energia aumenta 6% ou 7%. O consumo de energia sempre aumenta mais que o crescimento do PIB.

O senhor espera alguma ação efetiva do governo para contornar essa situação rapidamente?

Não tem ministro, o ministro (Nelson Hubner) é interino. O presidente da Eletrobrás (Walter Cardeal) é interino. O governo tem que, primeiro, montar uma equipe para enfrentar os problemas e isso eles não fazem.

No início do ano o ex-ministro Silas Rondeau estava montando um grupo de trabalho em favor destas construções, para resolver o problema de energia, o ministro interino não pode fazer esse tipo de trabalho?

Ele pode, mas o cara que não é um titular mesmo, fica meio suplente, porque não quer assumir esta responsabilidade toda, não sabe quanto tempo vai ficar, não vai assumir nada.

Na época em que o senhor ocupou o Ministério de Minas e Energia o senhor também enfrentou problemas...

Quando eu assumi já estava o rolo feito. Tivemos de trabalhar do lado da demanda, saber diminuir, fazer racionamento. A população colaborou e tudo.

Quais as usinas mais importantes feitas nessa época?

De cor eu não sei mais, já faz cinco anos. Mais de 30 usinas foram feitas naquela época, no Brasil inteiro. Algumas ainda estão sendo concluídas. Todas as usinas que entraram, estão em obras, foram iniciadas naquela época e serão concluídas. Assim esperamos.

Fonte: Mayasmin

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