Sexta-feira, 9 de maio de 2008 - 07h15
Luana Lourenço
Agência Brasil
Brasília - Para reduzir os impactos das mudanças climáticas no Brasil e garantir que as populações mais vulneráveis se adaptem às possíveis transformações no sistema climático, é preciso antes detalhar as conseqüências do aquecimento global sobre os ecossistemas do país, de acordo com representantes do governo e da sociedade civil, que participam da 3ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.
"O IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática] tem seus modelos, mas são modelos de larga escala, o que nós estamos tentando fazer é buscar aprofundar, melhorar a nossa capacidade de projetar as vulnerabilidades dos vários sistemas aos potenciais impactos que a mudança do clima poderia trazer [para o Brasil]", defendeu a secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Thelma Krug.
Entre as conclusões que o painel de cientistas das Nações Unidas apresentou em 2007, em seu quarto relatório, estão cenários que prevêem a savanização da Amazônia (a floresta passaria a ter estrutura semelhante a do cerrado) e a transformação do semi-árido nordestino em deserto.
De acordo com a secretária do MMA, um dos eixos da Política Nacional de Mudança do Clima, que deve ser enviada ao Congresso este ano, trata especificamente do estímulo a atividades de pesquisa e desenvolvimento relacionadas às transformações climáticas. "É fundamental que a gente conte com o apoio de pesquisas muito específicas e modelos muito específicos para o Brasil, que mostrem um perfil mais preciso sobre o nosso território", avalia.
A recém-criada Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais Rede Clima foi citada pelo representante do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, professor Marcos Freitas, como uma das ações fundamentais para subsidiar a elaboração das políticas públicas sobre o assunto.
A necessidade de integração entre a ciência e a realidade das populações diretamente afetadas pelos possíveis efeitos das mudanças climáticas também foi apontada pelo coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Gecinaldo Sateré-Maué. "É preciso uma unificação entre a academia, a ciência, o capital privado e os governos e para que a gente realmente faça uma grande revolução para salvar o nosso planeta", sugeriu.
O líder indígena listou as recentes secas na Amazônia e a mudança no intervalo de ciclos biológicos, como o início da piracema, entre os "fatos concretos" identificados pelas populações tradicionais como conseqüências do aquecimento do planeta. "A natureza já começa a mostrar fúria, isso tem que trazer uma reflexão muito grande sobre o futuro do nosso planeta. E as populações indígenas também sofrem junto com o mundo esses impactos."
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