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Política - Nacional

BLOG DO JOSIAS: Sob a corrupção, chantagem e até ameaça de morte


 
  Elza Fiúza/ABr
Gente de OpiniãoPor trás dos vídeos da corrupção que carcome as entranhas do GDF há um enredo com ingredientes básicos de um thriller policial: crime, espionagem e suspense.
 
O crime está retratado na farta distribuição de propinas. Dinheiro recolhido de fornecedores do governo do DF.
 
Em agosto de 2006, o governador José Roberto Arruda (DEM) tornou-se protagonista desavisado da trama.
 
Era, à época, deputado federal. Encontrava-se em plena campanha eleitoral. Disputava a cadeira de governador.
 
Em visita à toca do inimigo, virou a maçaneta do gabinete de Durval Barbosa. Um servidor da gestão Joaquim Roriz, seu maior rival.
 
Sem saber que o anfitrião o filmava, Arruda recolheu das mãos de Durval um maço de notas –R$ 50 mil. Começava ali o seu infortúnio.
 
Eleito governador, Arruda passou a ser assediado por Durval. Réu em três dezenas de processos, o provedor de “panetone$” buscava a proteção do governador.
 
Segundo versão contada pelo próprio Arruda a mandachuvas do DEM, no último final de semana, o governador deu de ombros para o assédio. Até que...
 
Até que Durval achegou-se a um amigo com acesso aos ouvidos de Arruda. Entregou-lhe um lote de CDs com imagens vadias. Num deles, as cenas de Arruda recebendo o dinheiro de má origem. Informado, o governador dobrou os joelhos.
 
Em março de 2007, três meses depois de sua posse, Arruda, o espionado, nomeou Durval, o espião, para a secretaria de Relações Institucionais do GDF.
 
De acordo com o seu relato, Arruda imaginou que, mantendo Durval nos arredores de seu gabinete, desarmaria a bomba em que ele se havia transformado. “Fui chantageado”, disse Arruda aos ‘demos’ com os quais conversou no sábado (28) e no domingo (29). Ao ceder à suposta “chantagem”, Arruda tornou-se um fornecedor voluntário da nitroglicerina que tonificou o poder de destruição de Durval.
 
Arruda conhecia Durval como poucos. Sabia que, sob Joaquim Roriz, ele extraía propinas de negócios milionários. Presidia a Codeplan, estatal responsável pelo setor de planejamento do GDF. Transacionava sobretudo com empresas de informática.
 
Arruda contou aos ‘demos’ que, nessa época, Durval geria contratos que alçavam à casa dos R$ 600 milhões. Ganhara desenvoltura tamanha que, mesmo sob Roriz, provia verbas para gente como Arruda, candidato de oposição.
 
Os integrantes da tribo ‘demo’ intrigaram-se com um detalhe do enredo que lhes foi segredado por Arruda. Não bastasse ter enfiado Durval no miolo do seu secretariado, Arruda passou a servir-se dos métodos dele.
 
Confiou ao personagem de biografia conturbada contratos de cerca de R$ 100 milhões. Jacta-se de ter podado o borderô de Durval. Mas quem o ouviu ficou com a impressão de que o governador, em verdade, passou de “chantageado” a cúmplice.
 
Segundo o Ministério Público e a Polícia Federal, Durval continuou recolhendo propinas de fornecedores do GDF. O dinheiro servia a propósitos variados: comprava consciências de deputados distritais, pagava despesas pessoais do governador e de auxiliares dele, financiava os advogados que cuidavam do manancial de processos abertos contra Durval.
 
Súbito, Durval começou a arrostar decisões judiciais adversas. Sentiu-se desamparado. Arruda relata que seu pesadelo aumentou. Na versão do governador, Durval passou a insinuar que vazaria os vídeos que colecionara. Algo como 30 peças. Todas constrangedoras.
 
Em depoimento à PF, Durval disse que mantivera com Arruda um diálogo atravessado. O governador lhe teria dito que queria ser informado com antecedência caso resolvesse trazer os vídeos à luz.
 
Segundo Durval, Arruda afirmara que a divulgação das imagens o forçaria a adotar um de dois caminhos: ou daria um tiro na própria cabeça ou mataria Durval.
 
Arruda disse aos ‘demos’ que passou a conviver com a ameaça de vazamento. Nesse ponto, a versão enrosca nos fatos. A despeito do alegado envenenamento de suas relações com Durval, o governador continuou mantendo com ele diálogos vadios.
 
Graças à loquacidade de Arruda, Durval pôde recolher, no mês passado, novas gravações. Com equipamentos de escuta ambiental plantados sob a roupa, Durval conversou com Arruda sobre a mesada que o governo provia a deputados distritais.
 
Nessa mesma conversa, de cerca de 55 minutos, Arruda manifesta, a certa altura, preocupação com uma passagem da vida privada de Durval, que acabara de separar-se da mulher. Arruda receava que a ex-mulher de Durval, detentora de segredos de alcova, fornecesse munição aos opositores.
 
O governador perguntou a Durval se não havia o risco de a ex-mulher procurar o inimigo Joaquim Roriz. Durval tranquilizou-o. O problema era o ex-marido, não a ex-mulher. Durval gravava Arruda na condição de beneficiário do programa de proteção a testemunhas. Tornara-se delator premiado. Colaborava com o MP e a PF em troca de redução de pena.
 
Arruda receava que Durval retirasse os vídeos do baú. Informou a uns poucos dirigentes do DEM acerca da existências das fitas. Mas julgava que tinha o domínio da situação. Não tinha. Pilhado no contrapé, vem trazendo à boca do palco explicações que não ficam em pé.
 
Para “justificar” os R$ 50 mil, providenciou a versão da compra de panetones para distribur a crianças pobres. Contra a profusão de vídeos, saiu-se com uma nota. Coisa assinada por ele e pelo vice Paulo Octávio.
 
No texto, a dupla tenta dar nova redação ao enredo do thriller. Apresentam-se como vítimas de uma “trama”.
Declaram-se “perplexos pelo ato de torpe vilania” praticado por alguém que “se mostrava um colaborador”.
 
Circunscrevem os delitos de Durval aos “oito anos do governo anterior”. Acusam-no de difundir, “de forma capciosa e premeditada, versão mentirosa”.
 
Tudo para “manchar o trabalho sério e bem sucedido que tem sido feito pela nossa administração”. De resto, declaram-se “tranqüilos” e "confiantes" no “sereno e isento trabalho da Justiça de nosso país, onde a verdade sempre acaba se afirmando”.
 
O diabo é que não há na nota nenhum elemento capaz de desmontar “a versão mentirosa” que, nos vídeos e áudios já divulgados, soa como verdadeira.
 
Por ora, nem mesmo o DEM parece ter dado ouvidos ao trololó de seus filiados ilustres. Quanto à platéia, parece não ter dúvidas de que está diante de um filme sem mocinhos. Uma fita encenada por inocentes culpados. Ou culpados inocentes.

Fonte: Blog de Josias de Souza da Folha Online

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