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Política - Nacional

Bispo diz que condenação de fazendeiro pode pôr fim à impunidade no Pará


Adauri Antunes Barbosa - Agência O Globo APARECIDA - Avaliando a condenação do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, a 30 anos de prisão em regime fechado por ter atuado como mandante do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, em Anapu (PA), o bispo da Prelazia do Xingu, dom Erwin Krautler, disse nesta quarta-feira em Aparecida que a decisão do júri pode ser entendida como uma vontade de acabar com a impunidade na região. Mas que observou que a condenação foi apenas um passo de muitos outros que precisam ser dados para acabar com o que ele chama de "consórcio do crime", formado por políticos, empresários, madeireiros e interessados em uma forma de desenvolvimento que exclui os pobres da Amazônia. - É um passo rumo à justiça e também um gesto concreto de que querem acabar com a impunidade. Mas faltam muitos outros passos. Ele não é o único. Continuo defendendo que existe um consórcio do crime na amazônia. E esse consórcio não é uma pessoa só. Então, as investigações têm de ir mais além. Aliás, tem outros acusados aí, que estão em liberdade - disse dom Erwin, que está em Aparecida participando como delegado brasileiro da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam). Sem citar nomes, o bispo que recebeu irmã Dorothy no Pará na década de 80, acusa pessoas da região de estarem envolvidas indiretamente na execução da religiosa. - O julgamento tem que desembocar na investigação concreta e também na apuração do envolvimento de mais pessoas. E tem pessoas envolvidas indiretamente. Uma das preocupações minhas, é que essa morte teve uma preparação de longa data. Dorothy não morreu sem ter recebido avisos. E se criou um ambiente hostil a ela - disse o bispo. Além de ser ameaçada, dom Erwin Krautler lembra que irmã Dorothy foi tão hostilizada que a Câmara de Vereadores de Anapu, onde morava, aprovou uma indicação afirmando que ela era "persona não grata" no município. - Muitas pessoas prepararam o ambiente hostil contra ela. Começaram a dizer "essa irmã tem de cair fora", "essa irmã é uma provocação", "essa irmã é um acinte". Começaram a dizer que ela instigava os colonos contra os madereiros. A investigação tem que ser retomada para ir a fundo, chama toda essa gente que, uma ou outra vez, e isso está tudo gravado, se manifestou contra a irmã, que caluniou a irmã, que difamou seu trabalho. Tem que se procurar saber também porque naquele tempo vereadores de Anapu declararam a madre persona não grata no município. Tudo isso tem que ser apurado - disse o bispo. Quando Dorothy Stang chegou ao Pará, em 1982, depois de passar pelo Maranhão, ela pediu ao bispo do Xingu, que é de origem austríaca, para trabalhar com os mais pobres no Pará. - Já era bispo quando ela chegou. Ela pediu para trabalhar no Xingu. Foi em 1982, me lembro como se fosse ontem. Ela se apresentou e disse que queria trabalhar no meio dos pobres, entre os pobres mais pobres. Até não acreditei muito porque é muito difícil, ainda mais para uma mulher, agüentar essa situação de miséria. E ela não fez incursão no meio dos pobres, não. Ela vivia com os pobres. E ela agüentou. E deu um exemplo de dedicação, de generosidade e de abnegação muito raro hoje - recorda dom Erwin. Também ameaçado de morte desde o final do ano passado, o que provocou grande reação internacional de organizações de defesa dos direitos humanos, o bispo do Xingu considera muito difícil identificar os que querem executá-lo ou mesmo compará-los com os assassinos de irmã Dorothy. - É muito difícil identificar porque eles não chegam na sua frente e dizem "olha, tu vai morrer". As ameaças feitas contra mim foram de maneira indireta. Foram pessoas ligadas ao meu trabalho que ouviram "esse bispo tem de morrer". Em uma procissão, um grupo que não se identificou gritou "o bispo tem que sofrer o mesma morte da irmã Dorothy", "tem que fazer com ele o mesmo que fizeram com a irmã". Depois desceram a ripa também em manifestações públicas (para a hidrelétrica) pró-Belo Monte. E apareceu um artigo no jornal de maior circulação na Amazônia dizendo com todas as letras que pessoas como eu tem que sofrer, tem que ser eliminado. A palavra eliminar é clara. E pela internet me avisaram que eu não ia passar do dia 29 de dezembro. Aí o Ministério Público acionou a polícia e até hoje ando com escolta na região - contou dom Erwin. De acordo com o bispo, as ameaças de morte, que fazem com que seja acompanhado 24 horas no Pará por uma escolta da polícia, têm três motivações: as denúncias constantes contra a execução de irmã Dorothy; sua oposição ao projeto de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte que, segundo ele, pode secar o Rio Xingu, um dos mais importantes da Amazônia; e, por último, a denúncia de fez em Altamira (PA), onde dom Erwin mora, contra uma quadrilha de exploração sexual de menores, da qual faziam parte médico ginecologista, vereador e outras pessoas, segundo ele, da "alta sociedade" local. Mesmo com tantos "inimigos" à solta, ele garante que não se arrepende de nada porque não está nessas causas. - Nunca estou só nessas causas. Não pensem que o bispo do Xingu é o único que fala e os outros se calam. Tem muita gente que defende a mesma posição, comigo.

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