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Aeronáutica prende 18 controladores


Agência O Globo BRASILIA - A Aeronáutica prendeu 18 controladores de vôo militares do Cindacta 1, em Brasília, conforme determinação do Comando da Aeronáutica, que acionou o Ministério Público Militar para efetuar a prisão dos controladores de vôo sediados no Cindacta 1 que se insubordinarem aos seus superiores hierárquicos ou se recusarem a trabalhar. Agentes de Defesa já estão sendo convocados para substituir os controladores detidos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, mandou a Aeronáutica "conversar" com os controladores de vôo que paralisaram suas atividades.Lula foi informado do caos aéreo por telefone durante o vôo para Washington, onde se encontrará com o presidente George W. Bush. O Palácio do Planalto informou que estão reunidos para debater a crise aérea o comandante da Aeronáutica, o chefe do gabinete de Lula, Gilberto Carvalho e os ministros Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Bernardo (Planejamento) e Franklin Martins (Comunicação Social). O Planalto informou ainda que está acompanhando e aguardando as negociações que a Aeronáutica está conduzindo. A sexta-feira foi problemática nos aeroportos brasileiros, porque os operadores de vôo deflagraram uma operação-padrão com controle de fluxo de aviões, ou seja, redução do número de aeronaves no ar. O clima está tenso no aeroporto de Brasília. Passageiros que esperam o fim da greve dos controladores aéreos, sem prazo para terminar, causam tumulto em vários pontos do aeroporto. Bastante nervoso, o empresário Éder Viana, que deveria embarcar ao Rio às 17h, pichou com batom as expressões "Chega!" e "Fora Lula!" nas paredes de vidro que delimitam a entrada da sala de embarque. Todos os pousos e decolagens foram suspensos por volta das 20h em todos os aeroportos do país. A Infraero confirmou que não haverá mais nenhuma decolagem em aeroportos do território nacional nesta sexta-feira, em virtude da greve dos controladores aéreos, que a Aeronáutica chama de "motim". Os controladores afirmaram que as aeronaves que estão no ar vão pousar com segurança. No aeroporto de Brasília, os passageiros que já estavam nos aviões foram desembarcados. A suspensão das operações de decolagem começou, segundo fontes militares, em todo o Cindacta 1, centro de controle responsável por 80% do tráfego aéreo no país e de toda a região Sudeste. Logo em seguida, a Aeronáutica confirmou a informação. Com isso, foram inicialmente afetadas as operações nos aeroportos de Brasília e de Cumbica, em São Paulo. No aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), as decolagens foram suspensas no início da noite. Segundo informações do aeroporto, a torre de controle obedece a uma ordem do Cindacta-1, localizado em Brasília, que determinou a suspensão da decolagem das aeronaves para as regiões centro-oeste e norte. Os vôos para outras regiões também estão sendo afetados. Passageiros de um vôo que partiria para Fortaleza foram obrigados a desembarcar do avião em Cumbica. O vôo de estréia da rota da TAM para Milão não decolou do aeroporto de Cumbica (SP) no horário previsto para as 19h, e o avião, que seguiu os procedimentos de decolagem, ainda aguarda a autorização para a decolagem. Por volta das 18h, as companhias aéreas foram informando aos passageiros que o aeroporto de Brasília estava fechado para decolagens. Na pista, 13 aviões se acumulavam no solo, sem perspectivas de liberação. No Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio deJaneiro, as decolagens para o Nordeste e Norte do país foram suspensas. No entanto, estavam autorizadas as decolagens para a Região Sul. Logo que o aeroporto de Brasília foi fechado, não havia uma explicação oficial. Especulava-se que pode ser o início da greve dos controladores de vôo. Aquartelamento Em Brasília, os profissionais militares estão aquartelados desde o meio-dia de sexta-feira. Eles decidiram permanecer voluntariamente por tempo indeterminado no Cindacta I, a central de controle de tráfego aéreo da capital. O ex-presidente da Associação dos Controladores de Vôo de Brasília, José Ulisses Fontenele, confirmou que a categoria realiza operação-padrão em pelo menos três aeroportos (Manaus, Curitiba e Brasília) e está em greve de fome. Fontenele é a pessoa autorizada a dar informações em nome dos controladores. A Infraero e o Comando da Aeronáutica não confirmam. Segundo fontes ligadas aos militares, já existem mais de 100 controladores no local. O Cindacta 1 ofereceu um almoço de confraternização com churrasco para comemorar o Dia do Meteorologista e do Especialista, mas os operadores se recusaram a comparecer. Nem mesmo o lanche que a organização oferece a quem está de serviço foi aceito pelos militares, o que alimenta rumores de que eles pretendem entrar em greve de fome. O sindicato que reúne os controladores civis, que representam cerca de 10% das categoria, divulgou nota para apoiar o protesto dos colegas militares e anunciar que podem entrar em greve na segunda-feira. -Não confiamos nos nossos equipamentos e não confiamos nos nossos comandos, diz o documento Segundo a Infraero, dos 1.460 vôos previstos para entre 0h e 19h desta sexta-feira, 263 estão com mais de uma hora de atraso, o que representa 18% do total programado. Clique aqui e acompanhe a situação dos aeroportos. O ministro da Defesa, Waldir Pires, se reuniu pela manhã com o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), da Infraero, e representantes da Aeronáutica. Após a reunião, Waldir Pires, disse que o governo ainda não está negociando com os controladores de tráfego aéreo militares. Ao ser perguntado sobre o aquartelamento voluntário, o ministro disse que é um direito dos controladores permanecer no local de trabalho. Mas que não tem uma resposta imediata para todos os problemas. Que as autoridades estão elencando os problemas e soluções para apresentar ao presidente. - Não podemos admitir uma impaciência na resolução de problemas institucionais - afirmou. Ele também disse que a solução "sairá o mais breve possível". O prazo seria entre dez e 15 dias. O ministro da Defesa, Waldir Pires, não enfrentou grandes problemas nos aeroportos e embarcou às 17h30 desta sexta-feira para o Rio de Janeiro. Ao ser perguntado se a situação estaria resolvida até a semana Santa, o ministro respondeu: - Nós merecemos isso. Vocês merecem, o povo brasileiro merece. E nossos esforços e nossos deveres são para dar essas condições ao povo brasileiro - disse o ministro. Em meio do caos, não há nenhuma autoridade no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja, neste momento, para Washington. O vice, José Alencar, está em Minas Gerais. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, viajou para Porto Alegre. O ministro da Justiça, Tarso Genro, também ausentou-se de Brasília. No Palácio do Planalto, a única informação disponível é que a Aeronáutica está cuidando do caos. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que ia pegar um vôo para Porto Alegre previsto para 19h30, após ver a situação do aeroporto de Brasília, desistiu de viajar. Ele disse que a crise desta sexta é mais um reforço para que seja realizada CPI do Apagão Aéreo no Congresso. - Há seis meses o governo não controla a situação e isso mostra que a CPI é necessária - disse o senador. Ao chegar para a reunião com o ministro Waldir Pires, o presidente da Infraero, José Carlos Pereira, disse que iria propor que a Infraero controle as operações de pouso e decolagem em 67 aeroportos, num raio de 10 quilômetros em volta do aeroporto, como já é feito em 22 aeroportos. Segundo fontes ligadas aos trabalhadores, os controladores esperavam uma solução para os problemas do setor nas últimas negociações do presidente Lula com o comando aéreo. Mas, em vez disso, Lula pediu um diagnóstico preciso dos problemas, com data, dia e hora para resolver os problemas. Os controladores estão insatisfeitos e consideram que, após seis meses do acidente da Gol - completados quinta-feira - nada foi feito. Eles argumentam que o governo já tem informação de que o problema passa pelos controladores de vôos "excesso de carga de trabalho e baixos salários", infra-estrutura (equipamentos, radares, instrumentos de auxílio à navegação aérea) e também de falta de pessoal, tanto controladores como técnicos para manutenção dos equipamentos. A mobilização por melhores condições de trabalho também provocou paralisação nesta madrugada nos aeroportos de Curitiba e Manaus. Neste último, as operações foram suspensas durante 30 minutos, o que segurou em terra seis aviões, inclusive um da American Airlines . Na madrugada da quinta-feira, o Aeoporto de Manaus ficou fechado durante oito horas por causa da paralisação dos controladores de vôos. Há rumores em Brasília de que um controlador ligado à Associação Brasileira de Controladores de Vôo teria sido transferido da capital para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em retaliação por estar participando da mobilização dos profissionais. A Infraero, no entanto, nega que esteja havendo uma operação-padrão nos aeroportos. No entanto, a Associação Controladores de Vôo informou que não vai mais conter os ânimos dos funcionários da categoria. Na quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal concedeu liminar derrubando a votação da Câmara que rejeitou o pedido de criação da CPI do Apagão Aéreo. Mas o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, disse não tomará qualquer decisão antes da decisão sobre o mérito.

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