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REFLEXÕES SOBRE UM MESMO TEMA: A DENOMINAÇÃO DAS RUAS DE NOSSA CIDADE



 

Hugo Silva*

Na leitura da crônica intitulada PORTO DOS ESQUECIDOS, da lavra da professora Sandra Castiel, onde com justa razão reclama dos critérios pouco inteligíveis usados para a denominação de nossas ruas e avenidas, no que foi seguida por vários de seus leitores – incluso o neo-jornalista Anísio Gorayeb – filio-me, embora tardiamente, às suas razões e, por oportuno, peço vênia para a publicação de um “escrito” que fiz, há mais de quinze anos, à conta de minha estupefação ao descobrir que existia na minha cidade uma rua denominada Anastásio Somoza, o qual foi publicado no sempre combativo e acolhedor Jornal “O Alto Madeira”.

RUA ANASTÁSIO SOMOZA – uma (i)merecida  homenagem!


Ao leitor mais atento advirto-o, desde logo, não se tratar de uma brincadeira de exagerado mal-gosto. Existe mesmo a rua e fica bem alí no bairro Caladinho/COHAB, em Porto Velho.  Insigne homenagem ao ex-Presidente da Nicarágua ANÁSTASIO SOMOZA DEBAYLE.

Que motivos tem o autor para questionar “justa” homenagem a um ex-Presidente nicaragüense? Tantos e variados!  Cito alguns:

TACHITO SOMOZA, como lhe chamava os íntimos, foi Presidente da Nicarágua no período compreendido entre 1967 a 1979 - 12 anos -, tendo recebido o comando da nação das mãos do irmão LUIS ANASTÁSIO, que por sua vez o recebera do pai ANASTÁSIO SOMOZA GARCIA, patriarca de uma família que comandou com mão-de-ferro, e, sob os auspícios dos EUA até o ano de 1978, os destinos de uma pobre nação latino-americana – a Nicarágua – de 1937 a 1979.

Convencido de que o poder e o apoio dos americanos jamais lhes fugiria à mão, a “família” SOMOZA abusou o quanto pode do povo de seu país em detrimento ao respeito de suas honras e de suas dignidades.

Durante a ditadura SOMOZA,MANÁGUA, a capital do país, foi sacudida por um terremoto matando milhares de nicaragüenses e deixando sem teto a grande maioria da população. TACHITO não perdeu tempo.  Vislumbrou, nesse momento, a possibilidade de enriquecer ainda mais seu clã.  Sob a alegação de que a área atingida pelo terremoto estava susceptível de outras tragédias semelhantes deslocou o centro histórico de MANÁGUA para local próximo, localizando-o “coincidentemente” em uma áreade propriedade de sua família, que fora desapropriada a peso de ouro, e paga com grande parte da ajuda que entidades humanitárias de todo o mundo haviam conseguido para ajudar o povo daquele país.   

SOMOZA GARCIA, o pai, odiava ser importunado. Certa vez tomou conhecimento da existência de um camponês – sem-terra? – de nome AUGUSTO CÉSAR SANDINO que vivia a assacar-lhe pesadas “ofensas” além de incitar a ordeira população de seu país contra o poder oligárquico representado pelo clã corrupto dos GARCIA.  Foi duro e grosso. SANDINO foi sumariamente liquidado, sendo a ação amplamente divulgada a fim de se evitar o surgimento de outros “ingratos” opositores do regime.  Desconhecia GARCIA que naquele momento nascia o mártir que emprestaria seu nome e seu exemplo para a luta pela libertação de seu país.  Assim, anos mais tarde quando a indignação do povo nicaragüense chegou ao seu limite, e este povo resolveu se organizar para por fim à “dinastia” SOMOZA fora criada a FRENTE SANDINISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL, a FSLN, em homenagem ao líder assassinado.

TACHITO SOMOZA tinha sua sustentação militar na chamada GUARDA NACIONAL mandando adestrar seus integrantes de modo a capacitá-los às práticas mais cruéis contra a pessoa humana, tendo um de seus soldados protagonizado a cena mais horripilante e cruel jamais visto em televisão, quando assassinou a sangue frio, depois de várias humilhações, um repórter de TV americano, num gesto considerado pela imprensa internacional como o ato mais animalesco praticado durante toda aquela guerra civil.

Sentindo faltar-lhe forças para resistir à determinação do povo nicaragüense TACHITO decidiu abandonar o “trono” e fugir depressa, mas ainda teve tempo para saquear o que restava da combalida finança do país, rumando para o Paraguai onde seu colega, o também ditador Alfredo STROESSNER, lhe dera asilo político.

Em 17 de setembro de 1980, TACHITO SOMOZA fora assassinado quando passeava pelas ruas de Assumpción, no Paraguai, a bordo de sua Mercedez-Benz blindada que não foi suficiente capaz para suportar o projétil arremessado por uma bazuca.  Ao saber do ocorrido o governo popular nicaragüense decretou “dia de Júbilo nacional” para gáudio de toda sua população que festejou o atentado como se fora a conquista de um título mundial.

Duvido que em toda Nicarágua exista uma só homenagem à família SOMOZA, nome que causa, ainda hoje, grande repulsa ao ordeiro e pacífico povo nicaragüense.

Tinha que ser homenageado o “ilustre” Sr. Presidente ANASTÁSIO SOMOZA justo na minha cidade?

  *Hugo Evangelista da Silva, é advogado, com especialização em Direito Previdenciário, e recentemente publicou o livro “Capitão Alípio – Um Pouco do Verdadeiro e Outro Tanto do Folclórico”, edição conjunta da Editora Schoba e da EDUFRO.   

 

 

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