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OPINIÃO: OS ÓRFÃOS DO VILLAS BAR (I)


 Por: Altair Santos (Tatá) *

Rua Carlos Gomes (centro), nº 1307. Este é o endereço de um dos raros estabelecimentos de portas fechadas no movimentado centro da capital. A cidade de Porto Velho há poucos dias, entre o fim das chuvas e o início do verão amazônico, acordou com a notícia de um dos mais sentidos cerrar portas de sua história. Fechou o tradicional Villas Bar, reduto de boêmios, sambistas, chorões, seresteiros, poetas, atores, acadêmicos, jornalistas, professores e outras levas mais de intelectuais. O Villas, nos fins de tarde e noite adentro, acolhia e embalava uma heterogênea seleção de convivas que ali se reunia para demoradas sessões de prosas regadas a generosas rodadas de cerveja, muita cerveja! Estes encontros aconteciam - inevitavelmente - sempre motivados por boa música e papo sobre cultura, futebol, política e, às vezes, mulher, dentre outros temas da preferência nacional. Há quem diga que ali, funcionava também uma eficiente célula da fofocagem local, com afiadas sucursais linguarudas espalhadas pelas mesas. Será? Sabe-se que ninguém queria ser manchete naquela confraria. A repentina ida do atencioso Alípio, rumo aos cerrados de Goiás, foi uma pedrada no quengo da freguesia fazendo com que alguns desavisados, fiquem a todo instante dando com a cara na porta e perder o tino. Parece inclusive que as belas moças - indo e vindo pros cursinhos e colégios da região central - também se foram. Pior, sem elas a calçada amiga da Carlos Gomes ofuscou, entre as luzes e letreiros, aquele apreciável e estonteante vai e vem ornado com categóricos requebros noturnos. Agora o que se vê, é um grande elenco de órfãos do Villas Bar, feitos nômades ao entardecer, desfilando perdidos à tardinha, entrecortando as ruas do centro, alternando uns goles aqui e outros ali, buscando assento (acolhida) de boteco em boteco. Feito aquelas andorinhas do início de verão, é fácil avistá-los uns poucos aqui, outros acolá, como bem podemos discorrer sobre. Por exemplo: numa certa sexta-feira, o professor e violonista Júnior Johnson e o psicólogo Alexandre Ronald, atônitos e sem ter aonde ir, acabaram levados pelo vento e, tipo que num acaso cabralístico, tiveram que aportar suas naus na Fina Flor do Samba, no Mercado Cultural. O jornalista Antonio Alves fora visto na companhia do Vásquez encostado no balcão do bar do Bolívia (Joaquim Nabuco – entre Duque de Caxias e Carlos Gomes). O bar do Ceará na Joaquim Nabuco com a Duque de Caxias, também recebe, vez por outra, alguns desses deserdados cervejeiros. Um certo bar rodeado de árvores, no bairro São João Bosco, já fora avaliado para ser o novo point dos sem rumo. Falta sair o veredicto da ação mas parece que não deu certo. Há relatos de que o arquiteto Glauco, sempre com o seu tabuleiro de xadrez ao alcance da mão, foi surpreendido aos gritos, assim como quem joga truco, dando xeque-mate em si mesmo na sua própria varanda, já em noite alta, madrugada talvez! De nossos informantes, chegam furos de que o botafoguense Bubu Johnson ainda circula ali pela região da Carlos Gomes e, sempre que vê a porta entreaberta, age como visse um oásis. Ele corre, desafia os perigos do trânsito, atravessa a rua e, a peso de muita lábia, consegue persuadir a dona Nadir a lhe vender ao menos uma cerveja do saldo de estoque que ficou. É a raspa do tacho. Mais tarde o cantor do Show Prisma Luminoso é visto lá pelo seu Carmênio e noutros butiquins. Surpreso mesmo ficou o nosso amigo Beto Bertagña que, numa solenidade na EFMM, fez cara de tristeza ao saber que não mais suavizaria o calor e a sede, a bordo das geladas que o Alípio caprichosamente servia. Cabo Sena, que não bebe mais, porém assinava ponto toda noite no Villas Bar, agora se consola ao som e acordes do seu cavaco. Paulinho Medeiros, Donizeti, Emerson, Dudu, e outros tantos ex-habituês do espaço, por ora, chutam latas nas esquinas e calçadas da cidade porto até que um novo sopro de orientação, ou seja, um novo bar, afague os corações sofridos desses rapazes. Dizem que o poeta Mado, por lá chegava todo conversador, alegre, falante, agora se fez mudo e, como diz ele, de si mesmo, “ficou sem texto.” Quando se topam nas esquinas – o que não é difícil – os órfãos se cumprimentam com acenos ligeiros e se espantam com suas próprias presenças, parecendo visagens uns para os outros, ou almas tristes a vagar. Esta é mais uma cena do cotidiano. É a cidade em sua efervescência, levando e trazendo coisas e pessoas, fazendo girar a máquina social. Por ora, a parte deste molar da engrenagem, formada pelos freqüentadores do Villas Bar, encontra-se avariada, triste e ressentida, pelo menos até o próximo gole. Saúde Senhores! 

* O autor é Presidente da Fundação Cultural Iaripuna.

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