Terça-feira, 1 de janeiro de 2008 - 11h07
Leonardo Boff *
Adital - Não parece descabido, no início do ano, oferecer alguns aforismos, fruto de reflexão e da sabedoria cotidiana presente no ambiente cultural. Elencaremos uns quantos, compreensíveis por si mesmos.
Mais importante que saber é nunca perder a capacidade de aprender.
Se tudo no universo está em gênese, então o paraíso ansiado não está no começo mas no fim.
Somos inteiros, mas não prontos. Começamos a nascer e vamos nascendo lentamente até acabar de nascer. É quando então morremos.
Só pode morrer o que é. O possível que ainda não é, permanece para se realizar no além morte.
Não vivemos para morrer. Morremos para ressuscitar.
Se você se sente gente comum, console-se. Deus deve ter amado muito a gente comum para criar um número tão grande, entre eles, eu e você.
Não vá por caminhos já andados. Caso contrário nunca deixará marcas suas no chão.
Se quiser ir longe, vá devagar. Nunca pare nem ande para trás.
Agradeça a Deus por ter tropeçado. Assim evitou uma queda.
Onde não há nenhum medo, não haverá também nenhuma coragem, necessária para viver.
Se quiser esquecer as muitas pedras que impedem o seu caminho, pense nos fundamentos da casa que pode construir com elas.
Na luta entre a pedra e a gota, ganhará sempre a gota não por sua força, mas por sua persistência.
Se mantiver firme a perspectiva do fim, não haverá obstáculo que lhe seja insuperável.
O novo somente surge à condição de que algo tenha sido deixado para trás.
Para quem busca, haverá sempre uma Estrela como a de Belém para iluminar o seu caminho.
Um navio está seguro no porto, mas não é para isso que foi construído.
De uma única vela podem se acender milhares de outras sem que sua luz diminua.
Se quiser subir uma longa escada não olhe para ela, apenas para cada degrau.
Para aqueles que querem cantar, haverá sempre uma melodia à disposição no ar.
Só entenderá bem o outro quem se colocar no lugar dele.
Até o relógio parado, duas vezes ao dia está certo.
Seja como a cigarra que para se renovar tem que perder toda sua aparência exterior.
Só se alegrarão com o nascer do sol aqueles que souberam esperar dentro da noite escura.
Ninguém entrará no céu se primeiro não começou a construí-lo aqui na terra.
Todo menino quer ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser Deus. Só Deus quis ser menino.
Porque os cristãos anunciaram um Deus sem o mundo, surgiu em conseqüência um mundo sem Deus.
Humano assim como Jesus, só Deus mesmo.
No começo de tudo não está a solidão do Uno, mas a comunhão dos Três: da Origem sem origem, da suprema Palavra e da sagrada União de tudo com tudo. Eles estão tão entrelaçados no amor que se uni-ficam, quer dizer, fica Um.
* Teólogo e professor emérito de ética da UERJ
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