Quinta-feira, 6 de junho de 2013 - 00h11
Felipe Azzi
O espetáculo era de hipnose consensual e ia a vela solta no Cine Guarani. O hipnotizador prático, Dom Beltran Alvarado, assegurava que com o sono induzido a pessoa ficava liberada de traumas de infância, de manias cismáticas, além de abrir o entendimento para enfrentar desafios.
O povo de Guajará era ressabiado com esses exibicionismos. Em outras ocasiões, houve frustrações do público diante de coisa preparada, sempre repudiada com algazarra uníssona:
– É truque... Aqui ninguém é besta... É truque!
Mas esse caso foi diferente. Dois figurões da cidade foram devidamente adormecidos e houve até quem adquiriu a desfalência hipnótica através do rádio, no que resultou reavivar a pessoa com um porrete.
Caso mais espantoso foi o da viúva Flordeliz Guaraciaba, uma que fazia rebuçados de cupuaçu, conhecida como “Florzinha”. Mesmo na plateia, fora do alcance da mirada hipnótica de Beltran, foi contaminada com um desfalecimento de maus bofes, que o hipnotizador teve que usar um alicate de aperto para acordá-la.
Neste mundo novamente, já no uso da razão, ela saiu cinema afora e pegou motocicleta descuidada, colocou o capacete, vestiu a jaqueta de couro e foi em disparada no rumo do Palheta, propalando para os ouvidos de plantão:
– Comigo é no modernismo... Não quero que aconteça com a minha pessoa o que sucedeu à comadre Tiburcina que, por não aderir ao progresso, acabou embaixo de sete palmos de terra, sem nunca desfrutar dos benefícios de pilotar uma lambreta!
Duas quadras adiante, foi contida por um meganha avulso que transitava na sua rota, deste modo encastoado:
– Pare, minha boa velha... Desse jeito a senhora se esborracha no primeiro poste!
Ao que Flordeliz retrucou:
– Boa velha, não, seu descarado... Mais respeito! E não fica falando comigo feito peça de museu. Saiba o moço de farda cáqui que depois da hipnotização remocei vinte anos e estou pronta para tomar compromisso novamente, só falta deliberar qual o pretendente!
E mais não aprontou porque seus netos, sabedores do acontecido, rebocaram dona Florzinha para os cuidados da família.
[1] Nesta crônica, meio verdade, meio fantasia, presto tributo implícito a duas pessoas muito queridas; Maria Assad Azzi, a Merim dos bombons de cupuaçu, minha irmã caçula; e Merandolina Marques, a doce “Doca” que muitos conheceram. Duas rosas de “Limoeiro do Rio São Miguel” que hoje enfeitam o Jardim do Senhor.
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