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Fábrica de ração vai melhorar criação de peixes


A piscicultura na região amazônica é uma área econômica ainda em expansão e que tem cada vez mais suas perspectivas aprimoradas por meio de pesquisas científicas na área. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) já trabalham com produção de peixes em cativeiro há bastante tempo. Uma pesquisa coordenada pelo professor Manoel Pereira Filho procurou analisar os aspectos da nutrição do pirarucu e do tambaqui.

A novidade nessa área de pesquisa é a aquisição de uma fábrica de ração que está montada e funcionando no Inpa. "Com essa fábrica nós produzimos a ração com tecnologia de extrusão, tecnologia que é a última palavra em produção de ração", comemora o professor.  Ele explica que a ração utilizada até então na criação de peixes era a peletizada, um tipo de ração caracterizado pelo grão denso e granulado.

Segundo Manoel, esse tipo de ração é compacta e afunda nos tanques de criação, não permitindo ao criador saber se o peixe realmente a comeu. Essa possibilidade é muito prejudicial, por exemplo, no caso do tambaqui, pois se o peixe não comer a ração em duas horas ele não se alimenta mais dela. Além disso, a ração se acumula no fundo do tanque e ao fermentar retira o oxigênio da água necessário para criação do peixe.

A nova ração fabricada é chamada extrusada, também conhecida como expandida, e é desenvolvida pela mesma tecnologia usada para produzir macarrões instantâneos, em que o produto passa em um cilindro de alta pressão e ao sair da máquina expande-se. Quando ela expande a densidade da ração cai e ela passa a flutuar na água, permitindo ao criador ver se o peixe comeu ou não.

"Também estamos extrusando no Inpa ração para peixe boi. O peixe-boi só come se o alimento estiver flutuando, caso contrário não come o que torna a ração extrusada uma ótima saída para sua criação", explica Manoel. O projeto recebe recursos do Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (PIPT) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam),

O pesquisador afirma que o tambaqui é, atualmente, a espécie mais criada em Manaus e em todo estado do Amazonas, o que gera uma grande demanda por novos conhecimentos para aperfeiçoar a criação dessa espécie.

O grande problema, de acordo com o pesquisador, é que o Amazonas produz poucos ingredientes para rações. "Por conta dessa escassez temos que procurar e estudar os ingredientes disponíveis localmente", esclarece.

Manoel avalia que a tendência atual é a ração ficar mais barata em função de diversos fatores. "Entre outras coisas, a facilidade de importação de ingredientes e a existência de várias fábricas existentes hoje estimulam a queda dos preços. Mas ainda orientamos alguns criadores para produzirem suas próprias rações com ingredientes locais", explica.

"O maior potencial hoje é a torta de amêndoa do cupuaçu. O cupuaçu tem sua polpa extraída e a semente é tratada, passando por um processo de fermentação. Após a secagem ela tem seu óleo extraído e o resíduo restante chama-se de torta. É um ingrediente que está sendo muito promissor", aponta Pereira Filho.

Atualmente, estão em andamento quatro teses de doutorado sobre esse ingrediente de ração. Além disso, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) estão trabalhando com esse mesmo material para produção de ração para ovinos com bastante sucesso.

O coordenador explica que a torta do cupuaçu tem uma boa aceitação entre os peixes, mas não se sabe ainda a quantidade que se pode colocar de torta na ração sem causar problemas.

"Outros ingredientes tem sido pesquisados como a torta de maracujá, que é o resíduo da extração do óleo da semente desta fruta, e os resíduos da extração da polpa de camu-camu, araçá-boi, de goiaba e vários outros produtos que antes se gastava dinheiro para serem jogados fora", afirma o pesquisador.

Parte dessas pesquisas foi realizada dentro da empresa Cupuama – Cupuaçu do Amazonas, com apoio da Fapeam por meio do Programa de Pesquisa e Inovação Tecnológica em Empresas (Pappe). Hoje, com os novos conhecimentos que se tem, a semente do cupuaçu está sendo mais valorizada que a polpa do cupuaçu.

Uma grande novidade conseqüente da pesquisa é a solução encontrada para a difícil digestão das tortas e resíduos de frutos como ingredientes. Para resolver esse problema, os pesquisadores passaram a aplicar na própria ração dos peixes enzimas digestivas conseguidas por meio de doações, como a amilase e a protease. Essas enzimas ajudam a digerir os nutrientes das rações e foram testadas com sucesso em tambaquis, matrinxãs e pirarucus, mas sua aplicação ainda está em estudo.

Já o pirarucu teve um estudo diferenciado por ser um peixe carnívoro. "Quando começamos a trabalhar com pirarucu realizávamos um estudo pioneiro. Começamos treinando o pirarucu para aceitar a ração seca - uma ração artificial, pois ele é acostumado a comer peixe úmido", esclarece Manoel.

As pesquisas chegaram à conclusão de que a espécie é facilmente treinada, possui um teor de proteína relativamente alto e tem quase tudo para dar certo como animal de cativeiro. O professor explica que o único problema do pirarucu para que ele seja criado em cativeiro é a sua reprodução.

"Em cativeiro, o pirarucu se reproduz naturalmente, mas produz poucos alevinos, numa quantidade muito menor que a demanda, e, por isso, o preço do alevino dessa espécie é muito alto, o que dificulta a sua criação", avalia o coordenador.

Manoel exemplifica que o milheiro de pirarucu de cinco centímetros custa R$ 5 mil, enquanto um milheiro de tambaqui custa cerca de R$ 130 e o de matrinxã custa R$ 250.

A explicação para tal diferença de preços é a seguinte: para o tambaqui e o matrinxã, já foram desenvolvidas técnicas de desova artificial. Com essas técnicas se tem um controle da reprodução. O tambaqui, por exemplo, é produzido o ano inteiro e a matrinxã entre novembro e março, ambos em grande quantidade. Conseqüentemente, o preço cai bastante, ao passo que o pirarucu se reproduz naturalmente em cativeiro, mas com poucos alevinos.

O pesquisador afirma que ainda não se tem conhecimento o bastante para se ter um controle da reprodução do pirarucu, tanto que vários grupos estão realizando pesquisas nesse sentido como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidades Federal do Tocantins (UFT) e o Inpa, em associação com outros órgãos locais, financiados pela Fapeam.

"Mas, tirando o aspecto da reprodução, o manejo em cativeiro do pirarucu é muito positivo. A criação em tanque-rede ou tanque escavado já foi comprovada em um experimento financiado pela Fapeam, no qual foram criados espécimes de pirarucu de até 15 quilos em tanque-rede", afirma o pesquisador.

Infelizmente, o empecilho da reprodução impede a consolidação do pirarucu como espécime para piscicultura. "Quando se descobrir como controlar artificialmente a reprodução do pirarucu, o estado do Amazonas ganhará muito economicamente, pois embora ele seja carnívoro e sua ração seja cara, o preço do pirarucu no mercado compensa alimentá-lo mesmo com ração cara", Manoel.

Em uma pesquisa com o tucunaré, já concluída e também financiada pela Fapeam, os pesquisadores comprovaram que esse peixe, carnívoro como o pirarucu, pode ser criado em cativeiro. "No entanto, a diferença entre o tucunaré e o pirarucu é que o preço de mercado do primeiro não justifica os custos de sua criação, ao contrário do último que rende bastante lucro ao criador", explica o pesquisador.

O próximo passo é testar e comprovar que os resultados adquiridos em laboratório se repetem na realidade. "O Inpa está fazendo um convênio com uma firma particular de produção de peixes e vamos criá-los em condições reais para conferir se os dados que temos aqui vão se repetir na prática diária de piscicultura. Uma coisa é termos um peixe aqui no laboratório, com controle de temperatura da água e de oxigênio e a outra é observá-los em condições reais", declara o pesquisador.

Fonte: Agência Fapeam

 

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