Segunda-feira, 13 de janeiro de 2014 - 05h58
Bruno Peron
É decepcionante que haja tantos jovens brasileiros faltos de projetos de vida ou que dedicam seu tempo a atividades que não somam para seu futuro. Muitos esperam passivamente uma iniciativa de seus pais, enquanto outros arriscam-se nas ruas em busca da educação que não tiveram. Poucas vezes, tomam partido por mudanças em suas vidas e no mundo que os rodeia. Na bela época tupinica, agentes misteriosos instilam gostos nos jovens que crescem ouvindo sobre megabytes, touch screens, redes sociais virtuais e espionagem eletrônica.
Agrego a este diagnóstico de nossa bela época que o prevalecimento da curiosidade fuxiqueira sobre a curiosidade construtiva distancia as esperanças que seres como Humberto de Campos depositaram no Brasil como “coração do mundo” e Stefan Zweig fizeram-no como o “país do futuro”. Basta notar como uma notícia malévola (acidentes, fofocas, inconvenientes) alastra-se com maior rapidez que o desejo de substituir um mal pensamento por outro que seja bom.
Porém, os cenários urbanos no Brasil não são convidativos a que persistamos na curiosidade construtiva e na renovação dos nossos pensamentos. Suas cidades verticalizam-se sobre as casas-presídios, que se edificam como fortificações modernas a fim de evitar o contato com a vulnerabilidade externa. Investimentos imobiliários crescentes levam as famílias a viver em apartamentos e a preparar-se para a rotina em cidades poluídas e amontoadas de automóveis.
Nota-se que, ao sair das áreas urbanas do Sudeste, a natureza fica mais virgem e o ar, menos poluído. Esta impressão também considera os congestionamentos de rodovias (como fica a Imigrantes em toda época festiva) e de aeroportos, que pelo menos demonstram que os brasileiros temos tido a chance de viajar mais.
Enquanto nos fechamos em casas-presídios no Sudeste, leio que rebeliões tomam os cárceres e as ruas no Maranhão em protesto contra mudanças no sistema penitenciário. Uma conclusão possível que resulta destes acontecimentos é que o brasileiro é avesso a reformas e não sabe conduzir uma revolução. Em vez de aprender a educar-se como bem apregoaram Cristóvam Buarque e Paulo Freire, estudantes consultam suas bíblias marxistas a fim de transformar o Brasil numa república de ditadores proletariados ou em párias de um Estado-multitetas.
Para exemplificar o que escrevo aqui, basta lembrarmos o drama que centenas de brasileiros vivem com as inundações causadas por falta de planejamento na época das chuvas. Cada fim de ano, haverá uma retrospectiva semelhante no que se refere a este problema infraestrutural, que não é só culpa da natureza que chora ou do Estado. Como um dos efeitos negativos da curiosidade fuxiqueira, muitas famílias sabem da irregularidade dos terrenos em que se assentam suas casas, mas contam com a fé de que nada de mal lhes acontecerá.
Mas não dedico todo o espaço deste texto a problemas urbanos brasileiros. Em realidade, estes servem como distração do propósito nobilitante que temos de conhecer nossas potencialidades e desenvolver o que chamei curiosidade construtiva. Nossa mente não para de funcionar, mas devemos aprender a orientá-la na direção de práticas que nos reformem e nos valorizem.
Se não soubermos organizar nosso tempo (através da busca incessante do autoconhecimento) nem melhorar nossa relação com a cidade (através da cidadania e da educação), a curiosidade fuxiqueira nos reduzirá a um exército de hominídeos estagnados e insípidos. Porquanto acredito que os brasileiros somos mais do que acreditamos ser e temos um potential enorme para mudanças construtivas, basta-nos uma chispa de incentivo para que viremos o jogo.
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