Quarta-feira, 7 de maio de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Crise na representação



Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, MG

A sociedade brasileira carrega nos ombros o peso de muitos problemas, um deles especialmente grave: a crise envolvendo os representantes do povo. O que tem sido protagonizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, causa perplexidade. São fatos com desdobramentos que atingem fortemente a democracia, colocam em risco seus funcionamentos e propósitos. Por isso mesmo, há uma demanda imediata para que se estabeleça amplo processo de revisão das práticas e posturas nesses âmbitos, para que elas sejam balizadas por parâmetros éticos. Assim, os representantes do povo, em suas responsabilidades políticas, poderão valorizar e garantir a dimensão moral necessária à atividade para a qual foram eleitos.

É inquestionável que hoje a maior parte das energias é investida nas situações e interesses pessoais e partidários, deixando de lado o que deveria ser prioridade: o supremo bem do povo. Não se reconhece que a representação política significa a capacidade e a disposição de partilhar os sofrimentos e as angústias do povo, buscando soluções para problemas sociais. Além disso, falta aos representantes a luminosa razão que permite enxergar problemas e intervir. Isso se revela na ausência de coragem para acabar com privilégios e regalias que estão muito acima das necessidades reais para o exercício da representação, mas que continuam a emoldurar o cotidiano de tantos representantes do povo. Na verdade, essas “vantagens pessoais” agem como um veneno contaminador. Induzem à equivocada crença de que toda representação, longe de ser compreendida como serviço, é simplesmente a conquista de benesses, de lugares que facilitam o enriquecimento a partir da corrupção.

Quem exerce a representação deveria estar sempre a serviço da coletividade. No entanto, há um daninho vício de se valer do lugar que se ocupa para adquirir mais prestígio e outras vantagens pessoais. Isso compromete o bem comum e explica o constante “bate-boca”, os sucessivos e recíprocos ataques, que objetivam a conquista de privilégios.  Fica evidente que a corrupção política é a mais grave deformação do sistema democrático, por ser uma traição vergonhosa aos princípios da moral e da justiça social. O sério comprometimento no funcionamento do Estado nasce da corrupção, que influencia as relações entre governantes e governados e tira a credibilidade da representação política. Um déficit que leva ao enfraquecimento das instituições representativas.

A Doutrina Social da Igreja Católica afirma que a corrupção política distorce na raiz a função dessas instituições, “porque as usa como terreno de barganha política entre solicitações clientelares e favores dos governantes.” Lamentavelmente, esse mal se tornou um vício na sociedade brasileira. Até quem pode agir de modo diferente, por não ter afundado, ainda, nas dinâmicas da corrupção, corre o risco de ser envolvido nos processos que comprometem o exercício da representação política.  Consequentemente, prevalecem os interesses que são restritos a pequenos grupos.

Se a dinâmica que prioriza interesses particulares não for vencida, a representação política na sociedade brasileira só servirá para aumentar a exclusão social e fomentar um gosto vicioso: o de ocupar cargos para apenas se apropriar do poder, desconsiderando o bem do povo. Tudo mudaria se a cultura dos que estão na administração pública, em qualquer nível, fosse marcada pelo objetivo de servir aos cidadãos.  Porém, na contramão desse ideal, o Estado permanece apropriado pelos interesses que contrariam o bem comum, guiado por encaminhamentos que não são suficientemente lúcidos. Prevalecem as escolhas que sacrificam o povo, principalmente o mais pobre.

Urgente é investir na representação política para inverter os descompassos em curso, promover novas posturas, sem os vícios que fazem os governantes gastarem a maior parte do tempo com infrutíferas discussões e acusações. Só uma nova cultura nas dinâmicas da representação política poderá reverter esses quadros desoladores. O investimento pode ser alto, o percurso a trilhar certamente é longo, mas uma profunda mudança na representação política é fundamental. Sem a necessária moralidade e a consequente qualidade no exercício da representação política, continuará aberta a ferida na democracia brasileira. 

Fonte: CNBB

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 7 de maio de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

O Ipam pede socorro!

O Ipam pede socorro!

Tramita na Câmara Municipal de Porto o Projeto de Lei Complementar nº. 10/25, de autoria do executivo municipal, propondo aumento de cargos e reajus

Não é recomendado que o vereador indique pessoas para funções ou cargos públicos

Não é recomendado que o vereador indique pessoas para funções ou cargos públicos

Uma das atribuições do vereador é requerer informações sobre a gestão municipal. Essa prerrogativa está assegurada na Constituição Federal, na Lei O

Meu apelo à direção da Igreja Adventista

Meu apelo à direção da Igreja Adventista

Anos atrás, cansados de esperar pela iniciativa da prefeitura, moradores da Vila Calderita, Zona Rural de Porto Velho, construíram um pequeno abrigo

Apertem os Bolsos: a Controvérsia dos Exames de Proficiência para Médicos e Dentistas à moda da excrescência do famigerado caça-níqueis exame da OAB

Apertem os Bolsos: a Controvérsia dos Exames de Proficiência para Médicos e Dentistas à moda da excrescência do famigerado caça-níqueis exame da OAB

Não é necessário ser especialista para entender que a qualidade da formação médica e odontológica e demais profissões, depende de investimentos em inf

Gente de Opinião Quarta-feira, 7 de maio de 2025 | Porto Velho (RO)