Quarta-feira, 19 de agosto de 2009 - 11h24
Confúcio Moura
Nem sempre o que se deseja acontece do jeitinho que se quer. É como se diz, mira-se numa coisa e acerta em outra. Bom mesmo é sonhar. Então fui eleito Deputado Federal em 1994. Planejei um mandato justo e necessário. A opção veio na hora, a de trabalhar para as comunidades isoladas do Estado, levar energia elétrica para quem não tivesse, apoiar a universidade e denunciar injustiças.
Vou contar um caso pra vocês. A do Setor Oriente, Theobroma. Gente pobre, isolada na mata, sem estrada, sem luz, posseiros, e que ficaram ali com roças do toco, magros, perdidos, nas mãos de Deus esperando por dias melhores. E me juntei a eles como a outros também na mesma situação. Foram dezessete projetos em todo Estado.
É como se fosse a favelização da Amazônia. Mulher e filhos longe de Deus e perto da Idade Média. Por ali o que se tinha de sobra era a necessidade. E eu pensei grande, e queria porque queria que tudo acontecesse bem rápido. Ficava nervoso porque a coisa demorava demais. E corria de Brasília a Manaus. Ou de Brasília à Belém. Tudo em busca de recursos para estas gentes perdidas. EMATER, EMBRAPA, SEBRAE e curso e mais curso. E o dinheiro foi chegando. E as doações também. E a Associação Rural foi devidamente composta. E Tonhão foi o primeiro Presidente, depois José Lourenço.
A estrada foi uma bênção. A energia em todas as casas também. A escola ajudou muito. O Posto de saúde abriu e fechou rapidinho. Até hoje está lá às moscas. Energia solar para as escolas veio de doação da Sharp de Manaus. Não tardou o sumiço das placas e das baterias. Trator, implementos, gado leiteiro comprado e doado. Botijões com sêmen. Curso de inseminação. Consórcios agroflorestais. Plantio de café comunitário com dinheiro da Suframa. Tanques pra peixe. E briga e mais briga. Toyota novinha. Dinheiro pra sede da Associação. Fartura de tudo. Cursos do SEBRAE para produtor virar empreendedor. Escola Ativa. Segundo grau semipresencial.
E vieram as brigas internas. O café morreu sem cuidado. O sêmen se perdeu nas botijas. Ninguém se entendia. Tonhão metia medo devido a valentia. Não aceitava reunião da diretoria. O facão dependurado na cintura, quem se atrevia a contestá-lo? Os tanques de peixes só produziram uma safra porque com dinheiro publico se comprou alevinos e rações. Os evangélicos saíram da Associação devido as brigas e palavrões. Nada deu certo. Havia pedras invisíveis nos caminhos. Eu não conhecia estas pedras. Vacas, touros e novilhas que eram comunitárias, magras, largadas, bichadas, bernes e carrapatos. Fui lá pus o gado no curral e fiz o sorteio. Dividi o gado pra cada morador. Ficaram alegríssimos e o gado melhorou a saúde. O trator até hoje está no toco. Os implementos ao tempo enferrujados. A trilhadeira se acabou pelo mau uso.
Tudo era para ser comunitário. Mais ou menos um regime socialista. Onde todos participassem igualmente dos benefícios e igualmente trabalhassem. Foi o imenso erro. O meu comunismo não deu certo, como não deu certo na Rússia e ainda resiste em Cuba e na Coréia do Norte.
Vieram toneladas de adubo e calcário. Tudo de graça. Nem esparramaram nas terras. Venderam para os fazendeiros. Aprendi muito com este pessoal. O que mais me chamou a atenção foi a desunião. A imensa distancia entre a necessidade e a capacidade. Entre o pedir e o fazer. E a triste realidade de não saberem os duros caminhos da riqueza. Há uma ânsia voluptuosa para se adquirir bens como quisesse encher um imenso lago vazio. Tudo é pedido. Até a lua. Mas, se vier a lua ela perderá o brilho.
Este projeto pra mim foi um doutorado. Nunca aprendi tanto. Nunca perdi tanto. Aprendi que é melhor ir devagar. Que muito dinheiro público no Brasil é jogado fora. Que sem conhecimento e tecnologia é besteira se investir. Percebi que o interesse pessoal é muito maior do que o coletivo. Que os projetos devem ser amadurecidos e que eles devem participar com dinheiro e trabalho. Nada de graça. Caído dos céus como a chuva. Saí do clientelismo para nunca mais voltar. Agora ponho na balança o custo e o benefício. E concluí que o Brasil não é pobre, tem muito dinheiro público que é mal gastado. Com os outros dezesseis projetos a ajuda foi bem regrada. O resultado foi melhor. O prejuízo ao Governo bem menor.
Quinze anos depois volto lá. Os velhos estão aposentados, os casais ganham quase mil reais por mês. Os filhos foram embora. Alguns netos por perto. Todos tem geladeira, televisores, motocicletas, telefones em casa. Eles melhoraram e muito de vida - mas, do jeito deles. Não se meta a mudar o ritmo das coisas, a passar o carro à frente dos bois. Esta foi pra mim a grande lição.
Fonte: Confúcio Moura
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