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Bordejo de Carnaval - IV


Bainha e Macumba - os roqueiros, o Bosquinho e o Babá – duas estrelas, duas saudades. Vamos em frente que é carnaval.

Por: Altair Santos – Tatá (*)

Pois bem! É folia pra tudo que é lado e de tudo que é jeito. Quando pensávamos já ter visto muita coisa na vida, eis que, um catatau de novidades nos chega, revelando que muito, ainda, temos por ver e testemunhar.

No carnaval muita gente que fica o ano inteiro meio sumida, resolve sair da toca. Assim, também, é a nossa imaginação que, vez por outra, nos faz rememorar fatos e pessoas, principalmente aquelas que brilham e outras que já reluziram em nosso carnaval. Lá onde o ensaio do Galo faz fronteira com o do Alho (Rogério Weber c/ Duque de Caxias), fui abordado por um velho conhecido que mal conseguia falar. Fazendo do muro da casa do saudoso Cabo Omar a sua parede de lamentações, o rapaz que, no popular, estava travado, mal conseguiu expressar a sua preocupação, se é que esta ainda funcionasse àquela altura. Disse ele com a fala embrulhada: Pôrra Tatá! Hic! O carnaval mal começou e eu já tô assim... e quando for o dia da banda? Sem esperar pela resposta, o etilizado folião rumou pra mais uma latinha e cumprir sua via crucis. Espero vê-lo bem melhor, durante a quadra de momo.

Domingo passado, numa feijoada com a turma do Asfaltão, o mestre Bainha após uma sessão de sambas e marchinhas, pediu uma nota e sem cerimônia, atacou de Rolling Stones com uma versão muito particular da música satisfaction. O remix do Bainha (naquele ato, o nosso Mick Jagger) aguçou a já trôpega veia roqueira de outro parceiro de samba o Reginaldo (macumbinha) que empunhou o microfone e, num inglês jamais visto, interpretou lendária Hotel Califórnia (The Eagles). Aí a coisa saiu do sério. Foi um aditivo para o frenesi de umas tantas assanhadinhas que por lá estavam. O rebu foi tão grande que o Waldson (misteira) assumiu o papel de segurança dos covers de plantão. Com uma pedra de mais ou menos 8 quilos, numa das mãos, apontando em direção à cabeça das incontidas fãs, o rapaz suou demais como guarda-costas dos ídolos instantâneos e só não desferiu a tijolada no quengo de uma delas por que já havia, por horas a fio, escutado a marchinha tema da Lei Maria da Penha. A voz da razão lhe soprou na consciência, o fez refletir e temer ser enquadrado ali mesmo. Quem sabe, até ver o seu nome na patrulha da cidade (assim como antigamente, lembram?). Já quase 19 horas, eu ali, pandeiro na mão, amante dos boleros e do samba, temi pela sorte do tigre na avenida e fui embora me perguntando: qual será a música no desfile? O samba-enredo do lixo ao luxo – reciclar para preservar a vida, ou um hit internacional? Brincadeiras a parte, é claro que troupe da Asfaltão vai mandar bem com o seu tema! Nesta 4ª feira (31/jan), o falecido professor de educação física João Bosco (o conhecido Bosquinho), completaria 53 anos. Figura das mais animadas e folião de primeira linha, grande entusiasta do nosso carnaval, sempre se apresentava com belas e chamativas fantasias. Alegre como ele só, o professor destacou-se como exímio passista e noiva nos desfiles da Banda do Vai Quem Quer. Certa vez no Rio de Janeiro eu, a Dilza Aragão, a Eline, e a Irene Brasil, fomos a um show da nossa querida Portela, numa casa da Lagoa Rodrigo de Freitas. Quando a bateria tascou um samba bem quente (estilo avenida), o Bosquinho invadiu o salão. Antes mesmo de qualquer atração entrar em cena, ele já havia feito o seu show. Claudia Raia que estava na tribuna, junto com o público aplaudiu calorosamente o nosso passista. Em seguida, quando diretores da Escola de Madureira o procuraram, para conhecê-lo e convidá-lo a alçar vôo nas asas da majestosa águia, naquele carnaval, ele não mais estava. O motivo: fora admirar os portenhos que, de madrugada, transitavam sob luzes de Copacabana. Outro que faz falta e que foi visitado em lembrança pelo nosso Bordejo de Carnaval é o sambista Sebastião Araújo (Babá), que muitas vezes, nos tirou de casa (lá no Bairro do Triângulo) para vê-lo desfilar, exibindo a sua leveza e graça singulares, num sambar que nos orgulhava a todos, principalmente os que, como ele, habitavam a linha do trem. Em dia de desfile, era comum, na beira da avenida, os vizinhos mais orgulhosos, fãs do inquieto sambista bradarem: tão vendo aquele ali, é o Babá, filho do Benedito, é nosso vizinho, danado esse negrinho, não? Quer nos blocos, na Diplomatas, Caiari, Banda do Vai Quem Quer ou numa roda de samba, com amigos, ele cantava, bebia, sambava, brincava, encantava, vivia. O Babá se fez carnaval e o carnaval se fez Babá. Por isso eu canto: Ô abre alas que eu quero passar...

(*) O autor é Músico e vice-presidente da Fundação Iaripuna
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