Quarta-feira, 15 de outubro de 2025 - 13h48
Aquele que te convence
a acreditar em absurdos,
também te convence a
cometer atrocidades.
François Marie Arouet (Voltaire)
Muito se tem falado, estudado e escrito ao longo
dos anos do papel da mídia (entendida como o conjunto dos meios de comunicação
social de massas, abrangendo o rádio, o cinema, a televisão, a imprensa, os
satélites de comunicações, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação),
na (in)evolução da humanidade. Hoje temos a oportunidade, através das mídias
sociais, de estarmos conectados em tempo real com as ocorrências em todas
partes do mundo, desde catástrofes climáticas, guerras, golpes de Estado (e/ou
tentativas), etc.
Neste sucinto texto abordamos especificamente o
papel do rádio no interior do Brasil, em relação ao seu papel fundamental de
informar, entreter e educar, especialmente em comunidades rurais e remotas,
devido à sua capilaridade. Além disso, a radiodifusão é um poderoso instrumento
de formação da identidade cultural e conexão nacional, unificando o país e
respeitando suas diversidades regionais, sem contar sua participação na
política do país e na história da democracia. Continua sendo um meio de
mídia relevante, ao promover debates e servir como ferramenta para a educação
das pessoas, inclusive a política. Ao longo do tempo adaptou-se às novas
tecnologias, mantendo sua capacidade de atingir milhões de brasileiros, e assim
democratizar o acesso à informação em diferentes momentos e locais.
A primeira transmissão radiofônica no país
ocorreu com o presidente Epitácio Pessoa no Rio de Janeiro em 1922, em
comemoração ao centenário da Independência do Brasil. A chamada era de ouro da
radiodifusão aconteceu nos anos 1930 a 1950, com grande participação na vida
nacional. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, a mobilização
política foi feita por meio do rádio. Em 1935, com a criação da “Hora do
Brasil”, Getúlio Vargas usava o programa para falar ao povo, divulgando suas
realizações. Com o novo nome “Voz do Brasil”, a ditadura cívico-militar de 64
manipulou e censurou informações. Ao mesmo tempo o principal veículo de
comunicação de massa, nesta época, circulava músicas contra a ditadura, mesmo
com a censura na programação.
Ao longo de seus mais de 100 anos de história
no Brasil cumpriu papéis diversos, atendendo interesses variados. Atualmente,
de acordo com o estudo Inside Áudio de 2024, o rádio é ouvido por 79% da
população brasileira.
Um dos episódios mais marcantes na história do
rádio foi o uso político das concessões das emissoras de rádio e
televisão no governo Sarney (1985-1990), funcionando como moeda de troca
nas “negociações” na Assembleia Constituinte, o que ficou conhecido com o
bordão “é dando que se recebe”. Políticos de direita foram beneficiados pelo
ministro das Comunicações da época Antônio Carlos Magalhães (BA), que além de
seu chefe Sarney (MA), garantiu seus lotes de concessões. Muitos outros
parlamentares como Tasso Jereissati (CE), José Agripino Maia (RN), Osvaldo
Coelho (PE), se tornaram detentores de redes de comunicação em seus respectivos
Estados, praticando o chamado “coronelismo eletrônico”.
Mas se engana quem acha que o fenômeno do controle
dos veículos de comunicação por políticos se mantém circunscrito a estados do
Nordeste. Em todo o Brasil políticos em seus nomes, ou de parentes como sócios,
garantem seus interesses em empresas de radiodifusão, já que as concessões são
principalmente para pessoas jurídicas, podendo ser empresas privadas,
associações sem fins lucrativos, fundações e até políticos, desde que atendam
os pré-requisitos legais definidos pelo Ministério de Comunicações que
estabelece as normas e fiscaliza os serviços prestados. As outorgas são
concedidas para radio comercial (empresas privadas), rádio educativa (fins
educacionais) e rádio comunitária (associações e fundações).
No sul do país se destaca um dos maiores grupos de comunicação do país, o Grupo Massa, que tem como acionista Ratinho Junior, atual governador do Paraná. Este grupo possui a segunda maior rede de rádio do Brasil com 65 afiliadas, espalhadas por 10 Estados, além de 5 emissoras de televisão e o portal de notícias Massa News.
Mesmo sendo ilegal, de acordo com o artigo 54 da
Constituição Federal (CF), deputados federais e senadores são proprietários de
rádio e TV. Estes políticos são de famílias de tradição colonial,
conservadores, de direita dentro do espectro político, que usam as comunicações
para fortalecer sua influência na política regional e nacional, silenciando
opositores, espalhando “fakes” e impedindo a diversidade de vozes em um nítido
ataque a democracia.
Desde 2015, portanto há 10 anos, o Partido
Socialismo e Liberdade (PSol), fez um pedido de Arguição por Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) junto ao STF para que o artigo 54 da CF fosse
cumprido (ainda não julgado). Constata-se que os princípios legais do sistema
de comunicação no país, os artigos referentes à radiodifusão aprovados na
Constituição de 1988, não foram regulamentados.
O momento atual que o Brasil atravessa é de extrema
gravidade, principalmente devido às nossas fragilidades democráticas. A
desinformação, o ódio, as mentiras propaladas estão envenenando o discurso
público, polarizando as comunidades e minando a confiança nas instituições.
Salvaguardas contra as forças antidemocráticas que querem prejudicar o país
devem ser adotadas em defesa da nossa democracia. Partidos de extrema direita
aliados aos setores mais repugnantes da política nacional reunidos no chamado
Centrão, defensores de um Estado totalitário, devem ser combatidos e alijados
da vida nacional, e impedidos de estarem à frente dos meios de comunicação, no
caso a radiodifusão. As eleições presidenciais de 2022, e fatos posteriores,
mostraram o que a extrema direita é capaz, ao utilizar da democracia para
tentar acabar com ela.
O rádio independente e plural (sem a extrema
direita, sem as forças antidemocráticas que conspiraram contra o país) é
condição indispensável para um sistema político democrático, pois os conteúdos
que circulam pelos meios de comunicação influenciam a formação da opinião
pública. O que esperar se não há diversidade de informações e de pontos de
vista? O que se verifica no Brasil é a alta concentração de propriedade deste
veículo, a falta de transparência, interferências políticas, econômicas e
religiosas.
Quem regula a liberdade de imprensa é a Lei no
2083, de 12 de novembro de 1983, e quem fiscaliza é a Secretaria de Comunicação
Social Eletrônica do Ministério das Comunicações. No artigo 8º da Lei, a
liberdade de imprensa não exclui a punição dos que praticarem abusos no seu
exercício, e no artigo 9º são destacados os vários abusos no exercício da
liberdade de expressão. Por exemplo, um desses abusos é mencionado no artigo b)
“publicar notícias falsas ou divulgar fatos verdadeiros truncados ou
deturpados, que provoquem alarma social ou perturbação da ordem pública”.
O acompanhamento e a fiscalização das rádios (e dos
conglomerados de comunicação) não devem somente ser exercidos pelo poder
público, mas principalmente pela sociedade civil organizada, para que as
empresas que atuam no setor respeitem as regras estabelecidas na Constituição
Federal e na legislação que trata do assunto. O domínio da radiodifusão por
grupos ideológicos defensores de pautas antidemocráticas, que agem contra o
interesse nacional, contra o Estado de direito não devem ser controlados por
políticos extremistas.
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Se deseja saber mais sobre a relação de sócios e
diretores de empresa de comunicação, o Ministério das Comunicações disponibiliza
o cadastro, permitindo a consulta por Estado e município.
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