Sexta-feira, 28 de novembro de 2025 - 10h05

A Um dos legados mais perversos da privatização do
setor elétrico foi o aumento desproporcional, em relação à situação econômica
do país, das tarifas pagas pelos consumidores de baixa tensão. Com a
liberalização econômica, a partir de 1995 pelo governo FHC, foi adotada para o
reajuste das tarifas a metodologia do "Preço Teto Incentivado" (price
cap), que fixou valores considerados "adequados (?)" para
remunerar e amortizar os investimentos, e cobrir os custos operacionais, além
das empresas receberem o benefício de reajustes e revisões.
As cláusulas contratuais e as regras que interferem
no aumento tarifário pós privatização provocaram impactos significativos no
bolso dos consumidores, e na qualidade dos serviços prestados pelas
concessionárias, além de contribuírem para o aumento do índice inflacionário.
Fatores como: os mecanismos de reajuste e revisão tarifária, a cobertura de
custos de geração, e o equilíbrio econômico-financeiro; criaram um ecossistema
favorável às empresas privadas, o “capitalismo sem risco”.
Os reajuste e revisão tarifária previstas nos
chamados “contratos de privatização” preveem reajustes anuais na data de
aniversário da privatização, e revisões periódicas, geralmente a cada quatro ou
cinco anos, com a justificativa de garantir o denominado “equilíbrio econômico-financeiro”
das empresas, com o custo repassado para o consumidor. Além do reajuste
extraordinário, que é o aumento de tarifa pontual e excepcional, autorizado
pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), fora do cronograma regular
de reajustes. Outra aberração cometida contra o consumidor foi aplicar nos
reajustes o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), que historicamente tende
a subir mais que o índice aplicado para a inflação, para o reajuste
salarial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado
pelo IBGE.
Utilizado para justificar as altas tarifas são os
encargos setoriais e subsídios que financiam políticas públicas, e que são
repassados aos consumidores. As bandeiras tarifárias criadas em 2015, foi outro
mecanismo que contribuiu para aumentar o caixa das concessionárias e penalizar
o consumidor. A justificativa foi de ressarcir as empresas desde que ocorresse
qualquer interferência que afetasse os preços da energia por elas adquiridas.
É, ou não é um capitalismo sem risco?
A partir de 2025 começou a findar a vigência,
estipulada de 30 anos, dos contratos de privatização dos serviços públicos de
distribuição de energia elétrica. Duas situações se apresentaram para o poder
público, decidir se prorroga o contrato ou faz uma relicitação. A prerrogativa
desta decisão é do poder concedente, o Ministério de Minas e Energia. Outra
alternativa seria a estatização das concessionárias sem custos, que
lamentavelmente não estavam nos planos governamentais. A opção do Ministério de
Minas e Energia, foi a da renovação dos contratos.
Ao longo dos 30 anos depois da primeira
privatização, o setor elétrico acumulou poucos êxitos, muitas frustrações e
decepções com promessas não cumpridas. De uma maneira geral, as empresas não
cumpriram os regramentos, os requisitos e indicadores de qualidade dos serviços
prestados, além da prometida modicidade tarifária. O que poderia caracterizar
como “quebra de contrato”. Todavia a “força” do lobby garantiu a renovação dos
contratos com modificações pontuais, sendo uma delas a de utilizar como índice
para reajuste das tarifas, o IPCA. Alivio que será sentido, mas que não afetará
significativamente o valor final da conta de luz.
O ministro Alexandre Silveira (sempre ele, o das
“boas ideias”) defendeu a renovação dos contratos alegando que, se assim não
acontecesse, poderia “ter um declínio na qualidade” e até risco de “colapsar o
setor de distribuição”. Foram declarações realizadas no programa ”Roda Viva” da
TV Cultura (24/11), para justificar a decisão de não abrir novas licitações.
Infelizmente são alegações superficiais, com déficit de transparência, sem os
devidos esclarecimentos e explicações que a escolha tomada exige.
Segundo estudo de junho de 2025 da Associação
Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (ABRACEEL) intitulado “Evolução
dos preços e tarifas de energia”, a tarifa de energia elétrica em 15 anos
(2010-2024) subiu 55% acima da inflação. No mesmo período as tarifas acumularam
aumento de 177%, passando de R$ 112,00/MWh, para 310,00/MWh. No mesmo período,
o índice oficial da inflação, o IPCA, cresceu 122%. Considerando tais números
os resultados para as distribuidoras foram excelentes. Fica claro que enquanto
as tarifas sobem de elevador, o salário do trabalhador(a), quando corrigido
pela inflação, sobe pela escada.
É verificado que se a tarifa média de energia
cresce mais que a inflação, significa que a eletricidade está ficando mais cara
em termos reais em relação ao conjunto dos demais preços da economia. A
consequência para os consumidores é uma redução do seu poder de compra, em
especial para as famílias de baixa renda, que destinam maior parte do orçamento
para pagar a conta de luz.
Levantamento do Instituto Pólis (https://polis.org.br/)
e do Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, ao
entrevistar duas mil pessoas em julho de 2023, mostrou que 36% das famílias
gastam mais da metade do orçamento para pagar a conta de luz e gás. E que a
conta de luz e a alimentação, constituem o maior impacto no orçamento de quase
metade (49%) das famílias brasileiras. Tais despesas são ainda mais importantes
para quem recebe até um salário mínimo, e entre pessoas negras e moradoras das
regiões Norte e Nordeste
O peso da conta de luz é considerado um dos
principais gastos para os brasileiros, e seu custo elevado pode levar muitas
famílias, especialmente as mais pobres, a dificuldades financeiras, como deixar
de comprar alimentos para pagar as contas básicas.
A tentativa governamental de rever minimamente
normas que penalizam os consumidores com tarifas abusivas, e combater a
desastrosa prestação de serviços por parte das concessionárias foi uma
decepção, através do que foi chamado de modernização do marco regulatório com a
PEC 1304/2025.
Os lobbies que atuam no setor elétrico desvirtuaram
o projeto original. O agora Projeto de Lei de Conversão no 10 (PLV),
com as modificações aprovadas pelo Congresso Nacional terão o efeito contrário,
pois irá aumentar os custos pressionando a tarifa dos consumidores, além de
distorcer o planejamento do setor.
Com 20 vetos a trechos do PLV foi sancionado em
25/11 pelo presidente da República em exercício, e transformado na Lei 15.269.
Como esperado, os vetos atingiram os pontos mais polêmicos que comprometem o
objetivo inicial do governo federal. Todavia ficou explicitado mais uma vez a
contradição entre o discurso e a prática do governo federal. Mesmo o Ministério
de Meio Ambiente e Mudança do Clima se posicionar contrariamente, o Ministério de
Minas e Energia foi atendido e, mantido o dispositivo que prorroga a
compra de energia das termelétricas a carvão mineral, o mais poluente e mais
caro dos combustíveis fósseis.
Assim fica comprometido efetivamente que as contas
de energia diminuam para o consumidor, o que parece longe de ocorrer, e nem
atender os acordos internacionais para diminuição das emissões de gases de
efeito estufa. Quem viver, verá.
._________________________________
*Físico,
graduado pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, com mestrado em
Ciências e Tecnologia Nuclear na UFPE, e doutorado em Energética na
Universidade de Marselha/Centro de Estudos de Cadarache-Comissariado de Energia
Atômica-França.
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