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Brasil num dilema atroz: Paz ou bomba atômica?


 Brasil num dilema atroz: Paz ou bomba atômica?  - Gente de Opinião

Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática”, discursou o presidente Lula na abertura da assembleia das Nações Unidas (ONU), na última terça-feira. Ainda em Nova York, disse à imprensa que o Brasil quer discutir com os Estados Unidos a necessidade de “garantirmos a paz no Planeta Terra.” As declarações do presidente parecem não combinar com as ideias belicosas do ministro das Minas e Energia Alexandre Silveira que, no dia seis deste mês, defendeu o uso da energia nuclear para produzir a bomba atômica brasileira, na posse da diretoria da Agência Nacional de Segurança Nuclear (ANSN).

O ministro revelou ser decisão do governo, “avançar com a produção de energia limpa para a transição energética, usando a energia nuclear”, porque no futuro também “vamos precisar da nuclear para a defesa nacional”. Este delírio afronta a nova visão mundial de defesa nacional, que condena o ódio e a violência entre as nações, priorizando a proteção da Vida e não as disputas entre forças militares. No Brasil, Lula não se posicionou sobre a bomba, mas declarou que “a guerra não leva a nada, a não ser à matança e ao empobrecimento. Se tem divergência entre nações o melhor é negociar.” Tal declaração combina com a imagem, nacional e internacional, de líder dedicado ao avanço da Cultura da Paz e sinalizam que o assunto não é consenso no governo.

Lula profetiza a paz - Ainda na sessão da ONU, afirmou que a América Latina vive um momento de crescente polarização e instabilidade, livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou religiosos, e “manter a região como zona de paz é nossa prioridade.” Defendeu que a comunidade internacional reduza gastos com guerras e aumente a ajuda ao desenvolvimento, pois “a única guerra em que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza.” Dias antes do evento, a ONU publicou o relatório A segurança que precisamos: reequilibrar o gasto militar para um futuro sustentável e pacífico, alertando para o recorde assustador da corrida armamentista global. O documento informa que, em 2024, os gastos militares atingiram US$ 2,7 trilhões e que mais de 100 países, de todas as regiões do mundo, elevaram os orçamentos de defesa a um patamar jamais visto, sendo que 4% desse valor acabaria com a fome global e 10% com a pobreza extrema.

Já o último relatório da Cruz Vermelha, aponta 120 conflitos no mundo. Há duas décadas eram 30. Até fim de 2024, ocorriam em 60 dos 193 estados reconhecidos pela ONU, ou seja, há luta armada em mais de 30% dos países. A humanidade vive o temor de que, em meio às disputas entre grandes potências a lucrativa e destrutiva indústria bélica venha a redundar numa guerra atômica global. Portanto, é estarrecedor que neste cenário difuso de “guerra nuclear limitada”, um ministro de Estado traga para a atenção pública seu incentivo ao armamentismo, sobretudo no momento em que a democracia e a defesa da não-violência estão sob ataque no Brasil.

A fala do ministro aconteceu a poucos dias de *13 de setembro*, data que marca 38 anos do acidente com o Césio-137, em Goiânia (GO) em l987, que mergulhou o Brasil numa das piores tragédias atômicas mundiais. 13 de setembro é também o Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas sendo, no mínimo, inapropriado trazer esta proposta num momento de sofrimento para as vítimas da radioatividade, que até hoje padecem com as consequências da desgraça, recebendo menos de um salário mínimo de auxílio e pela falta de assistência adequada dos governantes.

Ministro arquiteta bomba atômica - O ministro, dos mais fervorosos “nucleopatas” brasileiros, conduz o setor energético nuclear sem o necessário planejamento estratégico, inspirado no militarismo entreguista da era Bolsonaro. Apesar da Constituição Brasileira só admitir o uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos, o MME acaba de anunciar que prepara decreto para regulamentar a extração privada de urânio, hoje monopólio da União, contrariando os esforços internacionais que lutam para que o desenvolvimento, posse e uso de armas nucleares sejam considerados crime contra a humanidade. No início deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar a Lei 14.514/2022, que permite a pesquisa, lavra e comercialização de minérios nucleares no Brasil por empresas privadas. Esta norma inconstitucional aprovada pelo governo Bolsonaro precisa ser revogada pelo governo federal.

O Brasil enfrenta vários problemas com a indústria nuclear civil para gerar energia, não devendo investir na indústria atômica militar, honrando os vários tratados de não proliferação de armas nucleares que assinou. Na COP 30, em novembro, as mudanças climáticas e a "transição energética” estarão em debate. A Articulação Antinuclear Brasileira (AAB) vê como temerário o protagonismo que está reservado ao MME ser exercido justamente por este ministro, que tenta impor a falácia de que a fonte nuclear é limpa e solução para a crise climática; que aposta em bombas, quando nem conseguimos gerar energia nuclear eficientemente, e defende o fabrico de armas para destruir vidas.

O ministro já amarga o fracasso que tem tido na obsessão de concluir Angra 3, e a AAB espera que sua voz permaneça solitária e receba, entre seus pares da administração pública, a mesma repulsa que eles manifestam contra a conclusão dessa usina, cujo destino vem sendo prorrogado nas reuniões do Conselho de Política Energética por questionamentos técnico-científicos e econômicos de áreas do governo, contrárias à conclusão desse “abacaxi atômico”. A AAB já enviou três abaixo-assinados ao presidente Lula, reivindicando uma transição energética justa, popular e inclusiva, que priorize a geração de energia elétrica, que não viole os direitos dos povos e da natureza; que reduza o uso dos combustíveis fósseis, ampliando as fontes renováveis de energia e garanta um debate amplo, democrático, popular, sobre a política nuclear brasileira.

O BRASIL NÃO PRECISA DE BOMBA ATÔMICA, MAS DE DEMOCRACIA, SOBERANIA NACIONAL, DE PAZ!


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Articulação Antinuclear Brasileira

Setembro de 2025

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