Segunda-feira, 29 de setembro de 2025 - 11h05
“Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática”,
discursou o presidente Lula na abertura da assembleia das Nações Unidas (ONU),
na última terça-feira. Ainda em Nova York, disse à imprensa que o Brasil quer
discutir com os Estados Unidos a necessidade de “garantirmos a paz no Planeta
Terra.” As declarações do presidente parecem não combinar com as ideias
belicosas do ministro das Minas e Energia Alexandre Silveira que, no dia seis
deste mês, defendeu o uso da energia nuclear para produzir a bomba atômica
brasileira, na posse da diretoria da Agência Nacional de Segurança Nuclear
(ANSN).
O ministro revelou ser decisão do
governo, “avançar com a produção de energia limpa para a transição energética,
usando a energia nuclear”, porque no futuro também “vamos precisar da nuclear
para a defesa nacional”. Este delírio afronta a nova visão mundial de defesa
nacional, que condena o ódio e a violência entre as nações, priorizando a
proteção da Vida e não as disputas entre forças militares. No Brasil, Lula não se
posicionou sobre a bomba, mas declarou que “a guerra não leva a nada, a não ser
à matança e ao empobrecimento. Se tem divergência entre nações o melhor é
negociar.” Tal declaração combina com a imagem, nacional e internacional, de
líder dedicado ao avanço da Cultura da Paz e sinalizam que o assunto não é
consenso no governo.
Lula profetiza a paz - Ainda na sessão da
ONU, afirmou que a América Latina vive um momento de crescente polarização e
instabilidade, livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou
religiosos, e “manter a região como zona de paz é nossa prioridade.” Defendeu
que a comunidade internacional reduza gastos com guerras e aumente a ajuda ao
desenvolvimento, pois “a única guerra em que todos podem sair vencedores é a
que travamos contra a fome e a pobreza.” Dias antes do evento, a ONU publicou o
relatório A segurança que precisamos: reequilibrar o gasto militar para
um futuro sustentável e pacífico, alertando para o recorde assustador
da corrida armamentista global. O documento informa que, em 2024, os gastos
militares atingiram US$ 2,7 trilhões e que mais de 100 países, de todas as
regiões do mundo, elevaram os orçamentos de defesa a um patamar jamais visto,
sendo que 4% desse valor acabaria com a fome global e 10% com a pobreza
extrema.
Já o último relatório da Cruz Vermelha, aponta 120
conflitos no mundo. Há duas décadas eram 30. Até fim de 2024, ocorriam em 60
dos 193 estados reconhecidos pela ONU, ou seja, há luta armada em mais de 30%
dos países. A humanidade vive o temor de que, em meio às disputas entre
grandes potências a lucrativa e destrutiva indústria bélica venha a redundar
numa guerra atômica global. Portanto, é estarrecedor
que neste cenário difuso de “guerra nuclear limitada”, um ministro de Estado
traga para a atenção pública seu incentivo ao armamentismo, sobretudo no
momento em que a democracia e a defesa da não-violência estão sob ataque no
Brasil.
A fala do ministro aconteceu a poucos dias de *13 de setembro*, data que marca 38 anos do acidente
com o Césio-137, em Goiânia (GO) em l987, que mergulhou o Brasil numa das
piores tragédias atômicas mundiais. 13 de setembro é também o Dia Nacional de
Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas sendo, no mínimo, inapropriado
trazer esta proposta num momento de sofrimento para as vítimas da
radioatividade, que até hoje padecem com as consequências da desgraça,
recebendo menos de um salário mínimo de auxílio e pela falta de assistência
adequada dos governantes.
Ministro arquiteta bomba atômica - O ministro, dos mais fervorosos
“nucleopatas” brasileiros, conduz o setor energético nuclear sem o necessário
planejamento estratégico, inspirado no militarismo entreguista da era
Bolsonaro. Apesar da Constituição Brasileira só admitir o uso da tecnologia nuclear
para fins pacíficos, o MME acaba de anunciar que prepara decreto para
regulamentar a extração privada de urânio, hoje monopólio da União,
contrariando os esforços internacionais que lutam para que o desenvolvimento,
posse e uso de armas nucleares sejam considerados crime contra a humanidade. No
início deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar a Lei
14.514/2022, que permite a pesquisa, lavra e comercialização de minérios
nucleares no Brasil por empresas privadas. Esta norma inconstitucional – aprovada
pelo governo Bolsonaro –
precisa ser revogada pelo governo federal.
O Brasil enfrenta
vários problemas com a indústria nuclear civil para gerar energia, não devendo
investir na indústria atômica militar, honrando os vários tratados de não
proliferação de armas nucleares que assinou. Na COP 30, em novembro, as
mudanças climáticas e a "transição energética” estarão em debate. A
Articulação Antinuclear Brasileira (AAB) vê como temerário o protagonismo que
está reservado ao MME ser exercido justamente por este ministro, que tenta
impor a falácia de que a fonte nuclear é limpa e solução para a crise
climática; que aposta em bombas, quando nem conseguimos gerar energia nuclear
eficientemente, e defende o fabrico de armas para destruir vidas.
O ministro já amarga o fracasso que tem tido na obsessão de concluir
Angra 3, e a AAB espera que sua voz permaneça solitária e receba, entre seus
pares da administração pública, a mesma repulsa que eles manifestam contra a
conclusão dessa usina, cujo destino vem sendo prorrogado nas reuniões do
Conselho de Política Energética por questionamentos técnico-científicos e
econômicos de áreas do governo, contrárias à conclusão desse “abacaxi atômico”.
A AAB já enviou três
abaixo-assinados ao presidente Lula, reivindicando uma transição
energética justa, popular e inclusiva, que priorize a geração de energia
elétrica, que não viole os direitos dos povos e da natureza; que reduza o uso
dos combustíveis fósseis, ampliando as fontes renováveis de energia e garanta
um debate amplo, democrático, popular, sobre a política nuclear brasileira.
O BRASIL NÃO PRECISA DE BOMBA ATÔMICA, MAS DE
DEMOCRACIA, SOBERANIA NACIONAL, DE PAZ!
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Articulação
Antinuclear Brasileira
Setembro
de 2025
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